Batalhão Búfalo fica de fora
um ingrato final para os buffalo soldiers
Luanda, 08 Jun (Lusa) - O governo angolano negou hoje pensões da Polícia Nacional e das Forças Armadas Angolanas aos ex-integrantes do batalhão 32, denominado "Búfalo", por estes terem servido de mercenários para o regime de "apartheid" da África do Sul.
Em comunicado a que a Agência Lusa teve acesso, o governo de Angola refere que tem vindo a ser pressionado pelos integrantes do batalhão "Búfalo" para que estes sejam enquadrados nas forças de segurança angolanas ao abrigo do Protocolo de Paz de Lusaka (1994) e do Memorando de Entendimento do Luena (2002).
Pretensão que o governo vem agora denegar pelo facto de os "cidadãos em causa" terem jurado "fidelidade" e assumido "compromissos para defender os interesses do regime do Apartheid (da África do Sul), tendo sido utilizados como mercenários", lê-se no comunicado.
O executivo de José Eduardo dos Santos considera que o batalhão 32, criado em 1976, era composto maioritariamente por elementos da facção Chipenda do antigo Exército Nacional de Libertação de Angola (ELNA), braço armado da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), e por comandos do exército português que perderam a guerra e que fugiram de Angola depois da independência.
O documento salienta que "nos anos 70 e 80, fazendo parte do dispositivo de forças do exército racista da África do Sul, o ex-batalhão Búfalo foi usado pelo então regime do 'apartheid' nas guerras que levou a cabo contra Angola, Moçambique, Zimbabué e Namíbia".
Segundo o governo angolano, com o fim do "apartheid", o batalhão Búfalo foi extinto em 1993 e os seus efectivos transferidos para a localidade de Pomfret, próximo de Pretória, passando a actuar como mercenários em várias "aventuras golpistas" no continente africano, nomeadamente em São Tomé e Príncipe e Guiné Equatorial.
A nota do executivo sublinha ainda que os elementos do ex-batalhão 32 devem ter agora "uma média de idades compreendida entre 55 e 65 anos, logo incompatíveis com o serviço militar activo e na Polícia Nacional".
"O Governo da República de Angola entende que a reivindicação de enquadramento dos integrantes do ex-batalhão 32 nas FAA e na Polícia Nacional não tem qualquer razão de ser", lê-se no comunicado.
Para o executivo, se os antigos membros do batalhão Búfalo regressarem ao país "devem ser reinseridos na sociedade angolana, através de mecanismos legais estabelecidos".
"Esta constitui a melhor forma de se enquadrar os ex-Búfalos de origem angolana, uma vez que nunca existiu nenhum acordo político entre o governo angolano e qualquer entidade nacional ou estrangeira sobre a questão", refere a nota.
Contactado pela Agência Lusa, Leopoldo Trovoada, antigo oficial militar da FNLA, defendeu que os ex-integrantes do batalhão Búfalo devem ser enquadrados nas FAA e na Polícia Nacional na qualidade de efectivos reformados.
"Eles (os ex-Búfalos) devem ser enquadrados porque o governo prometeu esse enquadramento que é um direito por eles adquirido", salientou Trovoada.
Segundo este antigo oficial, "para bem da Nação todos devem ser enquadrados, e até mesmo eu estou à espera disso"