Isto é off-topic, mas...
Também poderíamos dizer que operações CAS e COIN, além de transporte, são as únicas onde a Força Aérea Portuguesa tem / teve qualquer tipo de experiência. De resto desde que o Santos Dumont conseguiu fazer voar um avião, nunca uma aeronave portuguesa entrou num combate contra uma aeronave inimiga, Os aviões abatidos da FAP foram na sequência de operações CAS / COIN.
Experiência no passado vale de zero, quando queres ter umas FA no presente, capazes de lidar com ameaças do presente. Portugal tem zero experiência real em ASW, e não é por isso que esta é uma das principais missões das suas FA. Os tempos evoluem, e os conflitos também. Se só nos preocuparmos com aquilo em que nós "temos experiência", estamos lixados.
Até COIN, é uma missão que pode tornar-se complexa, basta ver os Houthis, que tem baterias AA. Há 20 anos atrás, ninguém diria que um contra-torpedeiro de defesa aérea seria uma das principais armas usadas para lidar com um actor não-estatal... e no entanto lá vemos Arleigh Burkes a interceptar mísseis balísticos de um "grupo armado".
Também poderíamos afirmar que andamos a gastar dinheiro, para uns quantos pilotos ficarem com experiência de não fazer nada.
Relativamente a que pilotos e de que aeronaves?
O Bayraktar não faz a mesma coisa que uma aeronave COIN (contra-insurgência, para quem passe aqui e não entenda o que quer dizer). É evidente que operações como a da Rep Centro Africana, mostraram que esse tipo de aeronave poderia ser utilizado com vantagem. O Bairaktar é muito bonitinho para atacar colunas de carros de combate mas não para operações na savana africana...
O Bayraktar serve perfeitamente para cumprir a dita missão, com algum grau de eficácia, correndo poucos riscos, e com custos de operação muito mais baixos. Falta-lhe umas metralhadoras*, para cumprir a missão de forma "plena", mas desenrasca perfeitamente. Aliás, os EUA usam UCAVs precisamente em África, para lidar precisamente com o mesmo tipo de ameaça.
Os EUA vão adquirir uma "pequena" quantidade de aeronaves COIN, porque têm dinheiro para isso, e porque consideram que para o SOCOM, faz sentido uma aeronave que possa operar em locais isolados, tendo escolhido o AT-802U. Por outras palavras, missões de nicho, continuando os UCAVs a ser a principal aeronave usada em COIN.
E acho que é aqui que as pessoas não percebem o problema. Portugal tem demasiada "falta de dinheiro", e falta de pilotos, para andar a investir em aeronaves de nicho, que não servem para TOs de média ou alta intensidade.
Como tal, faz muito mais sentido investir numa plataforma "menos ideal" para COIN, mas que seja adequada para outras missões de combate, do que numa plataforma "ideal para COIN", que depois só serve para isso e mais nada.Com a agravante que, o ST só funciona em COIN, se a força opositora estiver mal equipada. A partir do momento em que usarem MANPADS e até sistemas AA mais complexos, deixa de fazer sentido (e de ser seguro) usar aeronaves a hélice tripuladas para esse fim.
No fim de contas, se o nível de ameaça vai forçar a aeronave COIN a largar munições guiadas a altitude relativamente elevada, então é muito mais prático simplesmente usar UCAVs, que usam armamento idêntico.
*A intenção para as missões em África foi desde muito cedo ter helicópteros, que além de CAS, cumprissem missões de transporte, MEDEVAC, e por aí em diante. A opção pelo ST, não eliminou a necessidade de helicópteros. Ao não eliminar a necessidade de helis, então ter uma aeronave COIN sem metralhadoras é um não problema, sendo os helis (ex. UH-60 armado com um M230 de 30mm, igual ao do Apache) capazes de suprimir esta lacuna.
A conclusão a que se chegou há muito tempo, é que para missões em África, seriam sempre necessários dois tipos meios, helicópteros + aeronave de asa fixa, e que a opção mais racional com base em todos os factores, seria a combinação helicóptero médio armado + UCAV, complementando-se na perfeição.Além de que, nós temos supostamente experiência neste tipo de operações com aeronaves COIN, coisa que não acontece por enquanto com os drones.
A experiência ganha-se, e terá que se ganhar mais tarde ou mais cedo. Meia dúzia de UCAVs na classe do Bayraktar TB2, já permitia, por um custo reduzido, apoiar as forças em TOs africanos, ao mesmo tempo que se ganhava experiência e criavam doutrinas, em torno daquele tipo de meio.
Esta experiência com estes UCAVs, teria implicações para o futuro das FA, nomeadamente para um futuro UCAV de maiores dimensões (tipo EuroDrone).
Em contraste, a experiência com os ST, não dá frutos para mais nada, por ser um meio que só serve para TOs permissivos. Os seus pilotos, ganharam experiência que não pode ser aplicada em mais nenhum tipo de teatro
Entretanto, existia ainda outra alternativa aos ST, muito pouco falada: a variante ISR do C-295.
Esta aeronave, além de já possuir como vantagem o facto de já a operarmos, pode receber praticamente todo o tipo de armamento que um ST poderia levar, tem a opção de um canhão de 27mm (quiçá até de 30mm) na porta lateral, teria de origem um radar e sistema EO/IR, tem maior payload, e é uma plataforma que fora da missão CAS/COIN, pode ser configurada para transporte, ou vigilância marítima, etc. E ainda pode receber a sonda de abastecimento.
Esta teria sido uam hipótese interessante, como parte de um pacote de modernização da frota C-295.