« Responder #45 em: Maio 23, 2004, 08:04:11 pm »
III Parte
EXP. -E não teme que parte desses bens estejam já hipotecados? Fala-se na criação de um Fundo Imobiliário...
V.P. - Não temo nem deixo de temer. O que sei é que o Exército tem de ter as suas infra-estruturas requalificadas e que isso custa dinheiro. Não sou eu que determino ou decido de onde é que ele surge.
EXP. -Não reverte para o Exército parte do produto da venda desse património imobiliário?
V.P. - Desde que este processo de significativa contracção do dispositivo começou, há umas duas décadas, tem havido alienações e alguma transferência de verbas para o Exército. Para mim o que conta é o entendimento político que é preciso requalificar as infra-estruturas do Exército e que isso encontrará boa expressão numa lei de programação das infra-estruturas militares que é objectivo do governo ter aprovada até ao fim deste ano.
EXP. -Há boas perspectivas quanto ao equipamento?
V.P. - O nosso desenho de levantamento de forças é muito exigente, ambicioso e exequível. Isto quer dizer o reequipamento vai contribuir decisivamente para isso. O Exército tem quatro grandes programas (o quinto é o do reequipamento em defesa NBQ): viaturas blindadas de rodas, arma ligeira, rádios e helicópteros. Em todos eles, os ‘timings’ têm vindo a correr como previsto. Ainda há dias, foi anunciado publicamente que estávamos a entrar na fase de negociação do contrato das viaturas blindadas de rodas — é um instrumento fundamental na transformação da capacidade operacional do Exército. O rádio é outro instrumento fundamental, se calhar ainda este mês, conseguiremos ter esse contrato assinado. Também penso que o programa da arma ligeira possa ter desenvolvimentos decisivos este ano. Este programa demorou mais tempo, não tanto por uma questão técnica e mais por procurar pôr em sintonia o conjunto das FA e das forças de segurança. Embora não tenham as mesmas necessidades, têm necessidades complementares, e isso define a compra duma família de armas. De modo geral, os ‘timings’ de fornecimento dos equipamentos são compagináveis com as nossas necessidades de edificação de forças.
EXP. -Está satisfeito com a taxa de execução da LPM?
V.P. - Só se está satisfeito com 100 por cento, não é? O Exército tem executado muito bem o dinheiro da LPM que está à sua disposição.
EXP. -Restam os helicópteros...
V.P. - O programa dos helicópteros existe na LPM. O ministro da Defesa disse em Coimbra, a 17 de Dezembro, que o Exército ia inquestionavelmente ter a sua subunidade de aviação ligeira, isto é, de helicópteros. É um compromisso do ministro e do Governo. O Exército tem-se mantido com um enorme esforço no programa dos NH-90, que é para levar até ao fim.
EXP. - Foram pagas todas as contribuições?
V.P. - Tudo o que é preciso pagar do NH-90 será certamente pago e tudo o que ainda não foi pago nunca comprometeu a presença portuguesa no programa e o desenvolvimento do programa no geral e no que se refere às especificidades lusitanas. É evidente que um país que tem uma esquadra de helicópteros utilitários, médios, como são os NH-90, tem de ter, por razões de instrução e de economia, uma esquadra de helicópteros mais ligeiros. Infelizmente, houve o problema com a Eurocopter, o contrato foi rescindido inapelavelmente e é compreensível que nessa sequência o Exército e o Ministério da Defesa tenham feito exercícios em muitas direcções para criar as melhores condições para ver em que direcção se podia ir. Essas direcções estão basicamente identificadas e seguramente teremos uma noção mais clara de desenvolvimentos concretos nessa área a muito curto prazo. Posso dizer que os helicópteros ligeiros terão de estar disponíveis no país antes de estarem disponíveis os utilitários. E o primeiro NH-90 deverá chegar em 2008.
EXP. - Para os ligeiros, fala-se dos Blackhawk, da Sikorsky americana
V.P. - Há muitas companhias na praça dos helicópteros e nós não devemos excluir nenhuma. Eu nunca falei com ninguém da Sikorsky, mas deixer-me dizer que o Blackhawk não é um helicóptero ligeiro, é médio. Nunca foram pensados pelo Exército para nenhuma tarefa específica, apenas nos limitámos a estudar todos os helicópteros do mercado e não houve nenhum raciocínio apoiado em nenhum tipo de helicóptero. O Exército tem procurado seguir a seguinte via: não tentar inventar a roda. Aquilo que comprovadamente serve em países tão bons e melhores que nós, serve-nos. Fizemos essa avaliação muito seriamente e deu-nos muito custo poder chegar a esta fase hoje.
EXP. -Para manter o seu grupo de aviação ligeira...
V.P. - Para manter uma unidade de aviação ligeira no Exército, que é hoje absolutamente característica e definidora da manobra terrestre. O Exército utilizou helicópteros de outros em Timor, na Bósnia, na Macedónia e quando fazemos exercícios. Isto é como as armas ligeiras, é uma necessidade do Exército. Para um novo tipo de actuação, o que não significa que, sendo indispensável que funcionem no quadro da manobra terrestre, não haja em montes de áreas possibilidade de procurar sinergias num espaço mais geral do que o do próprio Exército. Não vemos nisso nenhum problema.
EXP. - Para a reestrutração, falta o novo uniforme...
V.P. - O uniforme é uma questão básica. O Exército não precisa de uma nova imagem, mas os seus militares devem fardar igual. É uma questão de igualdade de condições e de circunstâncias. Até ao presente, tendo conscritos de quatro meses, não era pensável fardar os homens de quatro meses com requisitos de 40 anos, nem ao contrário. Com o fim do SEN, isto tem de terminar. O primeiro objectivo é uniformizar a apresentação, a maneira de viver e vestir dos militares do que será o exército profissional e profissionalizado. O segundo objectivo tem a ver com alguma questão de imagem, e o terceiro é uma questão de qualidade e de simplicidade. Os nossos uniformes vêm de há muito tempo, são muito complexos, há uma estrutura barroca. Temos basicamente quatro tipos (de cerimónia, serviço interno, instrução e camuflado) e queremos fundi-los dois a dois. A primeira etapa foi fundir o três e o quatro, que já está pronto e até na parada do 25 de Abril, todos já desfilaram com ele. Queríamos tê-lo introduzido a 1 de Janeiro, mas só foi possível fazê-lo em Março/Abril. Relativamente ao outro uniforme, que substituirá o chamado nº1 e 2, conto com ele em Janeiro de 2005. Fizemos uma consulta aos estilistas da praça, concorreu quem entendeu e seleccionámos uma estilista, Olga Rego. É com ela que estamos a desenvolver os protótipos, mas durante este mês, pela primeira vez, teremos para escolha uniformes feitos em diversas cores. Simultaneamente, há uma ponderação financeira, porque a introdução do novo uniforme vai ter custos. Quem paga o essencial das fardas são os militares (cada uma à roda dos 200-250 euros) e porventura haverá necessidade de encarar suplementos financeiros.
EXP. -No campo da reorganização, aborda os sectores em em que vai ser feito ‘outsourcing’?
V.P. - Estamos a fazê-lo um pouco naquilo que é mais necessário, as limpezas, num caso ou noutro a segurança, mas nada de forma muito sistematizada. É muito fruto das circunstâncias. Apenas agora se está a esboçar uma política, no âmbito do projecto da central de compras do Ministério da Defesa, que é, no fundo, uma central de negociação, na qual o Exército participa.
EXP. -As finanças do Exército estão melhor?
V.P. - Tivemos e temos dificuldades, mas mantemos a capacidade para actuar, sempre que é preciso e onde é preciso.
EXP. - E vai haver alterações na carreira?
V.P. - Tem de haver. O problema é que hoje há um estrangulamento na carreira de sargentos. Temos gente que está há muito tempo nalguns postos, sobretudo nos mais baixos, primeiro-sargento, sargento-ajudante. É um problema que decorre dos quadros que legalmente estão aprovados, há um número fixo que não pode ser excedido. A questão é que este número fixo que não pode ser excedido está completamente desfasado da realidade das necessidades. Há menos do que é preciso, os quadros são inferiores às necessidades. O problema não é exclusivo do Exército, até porventura é onde ele é mais atenuado. Tem de haver uma intervenção correctores e a solução só pode ser no plano legislativo.
Luísa Meireles
Voluntários na tropa já são 60%
A PROFISSIONALIZAÇÃO é o grande desafio para o Exército, cujo chefe confessa que, sobre esse assunto, não pode ter «estados de alma». Com uma reviravolta geral no modelo de recrutamento (a palavra de ordem é ir ter com os jovens), multiplicaram-se as iniciativas e as incorporações. O resultado está à vista: o objectivo mínimo dos 12 mil praças voluntários é atingido este mês. No total, o Exército já conta com 58% de voluntários e contratados entre as suas fileiras. As mulheres (que podem concorrer a todas as especialidades excepto, por enquanto, aos comandos e operações especiais) são 11%. Mas vão ser mais depois da profissionalização.
Olga Rego desenha nova farda
NA reestruturação em curso no Exército (a quinta em 50 anos!) nada foi deixado ao acaso. Vai haver dois novos uniformes, que substituirão os quatro existentes (cerimónia, serviço interno, instrução e camuflado). Um deles já está pronto (instrução e camuflado) e foi com ele que as tropas desfilaram na Parada do 25 de Abril. O segundo (cerimónia e serviço interno) está ainda em fase de protótipo, mas deverá estar ao serviço em Janeiro de 2005. A dificuldade está na escolha da cor. A estilista que ganhou o concurso foi Olga Rego.
Duas esquadras de «helis»
A MANUTENÇÃO de uma unidade de aviação ligeira no Exército custou horas de sono ao general Valença Pinto. Mas o ministro Portas já garantiu que o ramo terá não só uma esquadra de helicópteros utilitários (os NH-90 são para seguir até ao fim), como uma outra de helicópteros mais ligeiros, que terão de chegar antes - o primeiro está previsto para 2008. «Não se aprende a conduzir num Ferrari!», diz o general. Quais serão é que ainda não se sabe (à partida, a escolha é entre todos os que estão no mercado) e a mensagem é críptica: «Têm sido feitos exercícios em muitas direcções para se saber qual delas tomar».