Quando aqui há uns dias perguntei quantos CC deveria ter Portugal considerando o seu tamanho, situação estratégica e capacidade financeira, estava convencido que 37 unidades era pouco e que as opiniões seguintes íam confirmar isso mesmo.
Afinal para meu espanto foi precisamente o contrário que aconteceu. A maioria das opiniões vai no sentido de que o nº de CC é suficiente, acho que só houve uma alusão a que deveriam ser meia centena, e houve até quem dissesse que os CC são desnecessários, face à incapacidade que teriamos de os utilizar ou porque não se adequam às ameaças que hoje se colocam ao nosso país.
É sobre a "não necessidade" da existência de CC que quero dar a minha opinião e começo por dizer que discordo de tal ideia.
Percebo que o exército está organizado em torno de forças médias/ligeiras, que possam ser projectadas rapidamente (falta o navpol para dar coerência a muitas coisas...), e destinadas essencialmente a intervir em conflitos de baixa intensidade ou assimétricos. Os equipamentos em aquisição ou a adquirir acentuam ainda mais esta vertente o que para mim está absolutamente correcto. Este modelo permite dar resposta aos problemas de segurança que hoje se colocam a Portugal e às Alianças em que participa e é aquele que do ponto de vista financeiro está ao nosso alcance concretizar.
Contudo quer-me parecer que há aqui "um mas...".
Todos os conflitos em que Portugal participa por via das alianças que integra, NATO e UE, fá-lo porque isso é fundamental para a sua defesa, ou melhor dizendo, para a sua existência como país independente. Ao intervir naqueles conflitos estamos a "tornarmo-nos visiveis" e a evitar que sejamos pura e simplesmente ignorados quando surgirem situações que mexam com os nossos interesses directos. Numa frase "estamos a defender o país".
Aqui chegados vale a pena perguntar:
a) Vale a pena defender o país a milhares de Kms e abdicar da capacidade da defesa do território nacional?
b) É possível conceber umas FA's perfeitamente capazes de intervir em "n" conflitos em vários contextos e continentes, mas incapazes de qualquer defesa territorial?
À primeira pergunta a resposta só pode ser não, é uma questão de racionalidade. Se abdicarmos da capacidade de defesa territorial então não vale a pena "andarmo-nos a maçar" por esse mundo fora intervindo em vários conflitos.
Quanto à 2ª questão também creio que a resposta só pode ser negativa.
Desde logo porque será difícil de explicar às pessoas que os euros gastos nas FA's só servem "lá para fora", porque se algo de errado acontecer por aqui nada poderemos fazer. Sei que em boa medida é essa a situação actual, mas isso não quer dizer que ela não deva ser corrigida. Além do mais se a vontade de gastar dinheiro com as FA's já é pouca, com este tipo de discurso rapidamente seria nenhuma (e com razão quanto a mim).
Agora a pergunta do "milhão de dolares": Mas vamos defender de quê ou de quem? De que ameaça?
A verdade é que não há ameaças.Um conflito terrestre no nosso território só poderia ser com os nossos vizinhos do lado (creio que Marrocos é uma hipótese a descartar) e mesmo abusando da imaginação esse cenário é surreal. Para que isso acontecesse várias calamidades teriam de ocorrer:
- Colapso da UE e da NATO
- Instalar-se em Espanha um regime ditatorial
Convenhamos que são cenários rebuscados e a possibilidade de todos ocorrerem é minima.
É esta dificuldade de encontrar ameaças que torna complexa esta questão. Contudo creio que a existência de CC justifica-se por:
a) A defesa territorial é a primeira razão de ser de quaisquer FA's. Poderá não ser em determinados momentos da história a sua prioridade, mas em nenhuma circunstância deve abdicar dessa capacidae.
b) Não creio que seja possível explicar às pessoas que as FA's do seu país "só existem para lá das fronteiras".
c) Face à ausência de ameaças não é razoável pensar que a defesa territorial poderá ser assegurada pela reintrodução do SMO ou pela criação de um corpo de reservistas. Esse tipo de soluções só seria possível em caso de crise e ameaça muito concreta e grave.
Por mim estou quase convencido que 37 chegam.... embora se pudesse punha lá mais uns quantos
