Caros foristas,
Como é típico na nossa mentalidade quando algo corre mal começamos logo a descascar em tudo e todos – é como no futebol, um dia bestiais, no outro dia bestas – e contra mim falo que por vezes caio na mesma situação.
A realidade é bem diferente e todos, ou quase todos, que aqui escrevem sabem isso.
Em todos os sectores da nossa sociedade há bons e maus profissionais e não podemos julgar o todo pelas partes; muito embora o todo seja a soma das partes temos que aceitar que há boas e más partes porque esta é a realidade.
Eu também poderia começar aqui a descrever muitas situações menos abonatórias a que assisti, tanto cá dento como lá fora em diversas unidades portuguesas e não descarto os Comandos ou qualquer outra tropa especial, infelizmente para mim que já servi em várias.
Mas ao mesmo tempo também podia dar aqui vários exemplos de falta de profissionalismo de militares estrangeiros, que não são todos muito bons, como muitos pensam e alguns querem fazer crer, em detrimento dos militares portugueses.
A grande diferença é que os estrangeiros quando falham, porque também falham, o sistema encarrega-se de os tratar de acordo com os procedimentos convencionados, enquanto cá entramos habitualmente pela política dos brandos costumes, até porque se formos actuar severamente, muitas vezes temos que ir subindo na hierarquia o que não é politicamente correcto.
Tendo a consciência da capacidade profissional da grande maioria dos militares portugueses, não posso aceitar que esse profissionalismo seja posto em causa pela atitude de alguns, mal formados e mal enquadrados e aqui é que esta o cerne da questão.
Desde de 1993, salvo erro, que unidades militares portuguesas cumprem missões em vários TOs em diferentes continentes e com um elevado grau de profissionalismo reconhecido por muitos - e não estou aqui a falar dos discursos de circunstancia de politicos ou generais, mas de conversas com elementos que andam no terreno ao longo dos anos e sabem avaliar a competencia dos outros.
Nos tempos que correm, infelizmente em muitas e para não dizer em todas, as aéreas da sociedade vivemos num cada vez maior facilitismo, que começa na formação e passa pela qualificação, o que leva a que indivíduos incompetentes sejam postos ao lado de outros competentes, porque alguém decidiu que eles seriam capazes, apenas por uma razão de estatística.
Se a selecção fosse realmente como deveria, muitos nem iniciavam a formação e isto aplica-se a todos os níveis, para além de que outros tantos nunca acabariam obtendo determinada qualificação; mas mais uma vez digo, trabalha-se em função de números e não de nomes.
Não pondo muitas vezes em causa a capacidade técnica de alguns, há-de faltar-lhes sempre a autodisciplina inerente ao sentido do dever e à consciência moral para cumprir, porque tem que ser e não porque alguém manda - mas está é infelizmente uma característica latina, não é exclusiva dos portugueses.
Outra razão subjacente a algumas situações pouco abonatórias de militares portugueses, prende-se com o consumo de álcool.
Na nossa sociedade é culturalmente aceitável beber em qualquer lugar e a qualquer hora, e por arrastamento nas FFAA passa-se o mesmo, ao contrário de em outros exércitos, no qual isso é proibido em TOs, sendo severamente punido.
Seria lógico e legitimo fazer o mesmo cá, mas na prática seria também quase impossível quando muitas vezes quem tem que dar o exemplo não o consegue fazer.
O correcto, até porque os extremismos não são benéficos, seria o meio termo, mas isto leva-nos ao que eu referi no outro paragrafo, a necessária autodisciplina - caracteristica que falta infelizmente a muitos.
Cumprimentos
E Boas Festas