GNR sofreu ataques "de Abril a Junho" no Afeganistão
Os instrutores da GNR que apoiam a formação da polícia afegã estiveram quase diariamente debaixo de fogo de Abril a Junho, revelou o comandante do contingente militar português no Afeganistão. «Desde Abril, o quartel onde actua a GNR em Wardak, 80 km a Sul de Cabul, foi atingido por 'rockets' e granadas de morteiro, disparadas a 3-5 km de distância», afirmou, em entrevista à Agência Lusa, o coronel Fonseca Lopes, garantindo que nenhum dos 15 militares da GNR foi atingido.
«Os ataques eram diários, várias granadas caíram no interior do quartel e a situação tornou-se crítica», acrescentou.
Além dos ataques, a área de Wardak conta ainda com «a ameaça de inúmeros IED»[acrónimo, em inglês, de Improvised Explosive Device, ou bombas improvisadas], contou o oficial, e este conjunto de problemas chegou a «condicionar» seriamente o trabalho da equipa de instrutores da GNR.
A situação agravou-se pelo «atraso de cerca de dois meses na reacção aos ataques dos insurretos [talibãs]», explicou o coronel Fonseca Lopes.
A área de Wardak, formalmente da responsabilidade das forças de segurança afegãs, conta com o apoio de duas unidades norte-americanas, mas foram necessárias aturadas negociações para mobilizar uma reacção aos ataques.
«Teve que haver imposição de Portugal e de França e contactos ao mais alto nível com o SHAPE [comando aliado da NATO na Europa] até finalmente se garantir uma reacção», contou o comandante da FND (Força Nacional Destacada) portuguesa no Afeganistão.
«A partir de Julho, a situação acalmou um pouco, em Agosto voltou a agravar-se», mas nas últimas semanas «a situação melhorou de novo», descreveu o oficial.
«A GNR passou sem dúvida um mau bocado», afirmou o coronel Fonseca Lopes.
A situação vivida pela GNR foi a excepção numa missão próxima do fim – o contingente português será rendido já em Outubro – e que decorreu sem incidentes.
«Em geral, a missão decorreu sem incidentes, graças em boa medida à intensa actividade operacional da componente de segurança da nossa força destinada a prevenir quaisquer incidentes», sublinhou comandante da força portuguesa.
Os ataques dos talibã na área de Cabul desde o início do ano e a aproximação do 10.º aniversário do 11 de Setembro impuseram algumas medidas de segurança às unidades da ISAF, mas que passaram no essencial pela «restrição dos movimentos entre as bases e unidades ao estritamente indispensável».
Em território afegão estão actualmente 227 militares nacionais, 15 dos quais da GNR, que ao serviço da NATO integram o grupo de formadores internacionais que treinam as forças afegãs.
A presença de forças portuguesas em território afegão surge por decisão da Organização das Nações Unidas (ONU), que deliberou em Dezembro de 2001, a criação de uma Força Internacional de Apoio à Segurança (ISAF) no âmbito do combate ao terrorismo e que a NATO assumiu o comando.
O balanço do comandante militar português quanto à situação global de segurança no país para o futuro é reservado e levanta dúvidas sobre o que «poderá acontecer depois das tropas da NATO» em 2014.
«Desde Abril, assiste-se a um claro agravamento da situação com um crescimento nítido do número e intensidade dos incidentes em todo o país, que atingiu o seu máximo nos meses de Junho e Julho», disse Fonseca Lopes.
E tudo indica que «depois do inverno, na próxima primavera, se irá assistir a uma nova escalada».
Lusa