Não se esqueça que o Estado Novo não é uma realidade de à 2 anos atrás. Estamos a falar de uma coisa que se passou à mais de 30 anos. Isso que disse podem dizer quase todos os cidadãos dos países da União Europeia a respeito do seu passado. O mundo evoluiu. O contexto histórico é uma coisa a ter em conta.
O Estado Novo é uma realidade que quem se lembra consegue colocar no tempo e pode mesmo comparar.
Só para lhe dar um exemplo:
Hoje, nós podemos ir a um qualquer país europeu e achamos que é tudo caro, achamos que eles têm mais dinheiro que nós, mas na essência as lojas, os serviços, os meios à disposição das pessoas são os mesmos.
Nós quando vamos hoje à Alemanha vemos um país que é mais rico que o nosso, mas onde uma cidade alemã não é na realidade assim tão diferente de uma cidade média portuguesa.
No inicio dos anos 70 o meu pai emigrou para um país europeu, pelas mesmas razões de muitos outros (e não foi para fugir à guerra porque ele já tinha cumprido o Serviço Militar).
Eu era muito pequeno, mas lembro-me que ele vinha a casa duas vezes por anos, no verão e no Natal e falava-nos de um mundo completamente diferente.
Quando um português chegava à Alemanha ou à França, não via apenas um país mais rico (como hoje), via um mundo completamente diferente.
E o meu pai não era um camponês, ele nasceu e viveu sempre numa cidade, e mesmo assim, para alguém que vinha da cidade o choque e a diferença eram enormes.
É exactamente quando comparamos o Portugal dos anos 60 e 70 com os restantes países da Europa nesse mesmo tempo que notamos a diferença.
Portugal era o terceiro mundo. Para os franceses, a África começava nos Pirineus.
Qualquer comparação por mais pequena que seja da realidade de hoje para a realidade bolorenta absurda caquética do Portugal decadente, dos anos 60 e 70 ou reslta de um completo desconhecimento da realidade, ou de uma absoluta falta de conhecimento da História.
O regime de Salazar não foi um regime títere e assassino como diz o JLRC, embora tenha morto muita gente e mesmo que tivesse morto apenas uma pessoa já teria sido uma a mais.
Mas afirmar isso não é defender nem desculpabilizar o regime pelo seu mais vergonhoso crime.
O crime de ter transformado Portugal numa terra sem futuro, um país de analfabetos, onde ainda hoje pagamos caro - muito caro - a ideia tão salazarista e bafienta da casinha portuguesa com pão e vinho sobre a mesa, onde se glorificava a pobreza, escondendo que ser pobre era uma anormalidade numa europa rica. O país onde era apenas preciso saber ler escrever e contar e onde se ensinava às crianças no ensino primário os rios, os afluentes, todas as linhas da CP com os seus ramais, o nome dos distritos de Angola e as suas capitais.
Hoje as crianças começam a aprender inglês no ensino primário, como acontecia na Alemanha dos anos 70.
Não me venham com histórias das vantagens do "antigamente".
Não há nenhumas.
Também havia corrupção, só que era escondida pela censura e o regime também entrou em decadência, exactamente por causa da corrupção que o consumia.
E aqui, devo dizer em defesa do Salazar, que acredito que não fosse intenção dele, pois a interpretação que faço, é que desde que começou a guerra que Salazar tinha deixado de acreditar em Portugal. Começou a entender que a guerra não podia ser ganha e não tinha soluções. Não sabia o que fazer limitando-se em continuar para ver em que paravam as modas.
Numa democracía, teria feito a única coisa decente que estava ao seu alcance, e que foi a única coisa decente que eu reconheço que o António Guterres (salvo as devidas distâncias) fez.
Admitir que tinha chegado ao fundo e demitir-se.
Salazar achou que era insubstituivel e esqueu-se que os cemitérios estão cheios de gente insubstituivel.
O regime continuou porque a podridão tem meios de se auto-governar, no periodo em que vai do inicio do apodrecimento, até ao momento em que a casa cai.
Cumprimentos