DEBATE “QUEDA NA MÁSCARA MODIFICADA” A antiga “instalação sem preparação da posição”, vulgo “queda na máscara”, foi pensada e ministrada aos militares num exército que tinha acabado de adquirir a espingarda automática HK-G3 e estava em operações nas antigas colónias. Durante a guerra da ultramar, as operações militares ai levadas a cabo eram, em grande parte, todas realizadas em terreno arborizado, onde tendo em conta um dos fatores de decisão, o terreno, a “queda na máscara” era perfeitamente adequada à situação ai vivida.
Com o fim da guerra fria e com o aumento dos conflitos armados em regiões urbanas, foi necessário adaptar esta técnica individual de combate ao terreno onde se realiza o combate.
O 1BIMec no decorrer do seu ciclo treino operacional deparou-se com uma problemática ao nível da Técnica Individual de Combate (TIC):
“QUEDA NA MÁSCARA MODIFICADA vs QUEDA NA MASCARA
TRADICIONAL”.
Para saber que técnica a adotar levantaram-se os parâmetros que sustentariam a escolha de mudar ou de continuar. Os fatores que tivemos em conta foram: prontidão em combate, segurança, fadiga e risco de lesão.
A prontidão em combate é, ao nível do atirador, a capacidade/tempo que este tem para reagir perante uma ameaça. Ao analisarmos as duas técnicas, tendo por base que um atirador médio demora cerca de 4 segundos a adquirir/disparar e acertar no alvo, constatamos que este é o tempo que um atirador demora a executar a QUEDA NA MASCARA TRADICIONAL. Contrariamente, o atirador quando executa a QUEDA NA MÁSCARA MODIFICADA demora menos de 4 segundos, logo anula a probabilidade de ser atingindo e potencia a possibilidade de atingir deixando de ser um alvo remunerador.
Analisando o terceiro fator, a segurança, podemos constatar que na execução da QUEDA NA MASCARA TRADICIONAL, descrita na ficha de instrução TIC (00) 02-05, o combatente em nenhuma altura da execução tem a arma pronta a fazer fogo, ou seja, está mais vulnerável durante a execução. Na QUEDA NA MÁSCARA MODIFICADA temos a grande vantagem que durante a execução temos sempre a arma a apontar na direção do alvo. Será complicado fazer tiro ajustado, no entanto podemos fazer fogo de supressão durante a execução. Estas técnicas são empregues quando a probabilidade de contacto é iminente ou já em contacto efetivo.
Na probabilidade de contacto iminente se usarmos a técnica da QUEDA NA MASCARA TRADICIONAL podemos por em causa a surpresa e a deteção da força, devido ao ruido inerente da execução da mesma.
Em contrapartida a QUEDA NA MÁSCARA MODIFICADA pode ser executada de forma mais silenciosa. Neste parâmetro a QUEDA NA MÁSCARA MODIFICADA revelou-se a escolha mais acertada tendo em conta o fato de, no momento da execução da técnica, é possível responder ao fogo.
Queremos deixar também um dado importante que diz respeito à segurança, ao nível das coronhas da espingarda automática HK G3. No 1BIMec a grande maioria das coronhas partidas, derivam da técnica da QUEDA NA MASCARA TRADICIONAL. No entanto este fator não foi analisado porque não conseguimos aferir se este dado deriva da má execução da técnica ou do avançado estado de idade do material.
Quanto à fadiga analisámos as duas técnicas tentando dividir a execução em tempos bem definidos. A fadiga assume um papel importante pois vai ter influência diretamente no militar quer ao nível do tiro, quer ao nível da distância percorrida.
Na QUEDA NA MASCARA TRADICIONAL está implícito na ficha de instrução TIC (00) 02- 05 que a execução tem 5 tempos:
“1º tempo - Assentar os 2 pés simultaneamente no chão (...);
2ºtempo - Cair sobre os joelhos (...);
3º tempo - lançar a coronha da arma
para a frente, estendendo bem o braço (...);
4º tempo - deitar o corpo para a frente;
5º tempo - Com o corpo bem colocado no terreno, assentar a coronha da arma no ombro e tomar a posição de tiro deitado.
Na QUEDA NA MÁSCARA MODIFICADA podemos constatar com o nosso treino que a execução desta técnica tem 3 tempos:
1º tempo – baixar a frente, pondo a mão contrária ao que é atirador no solo,
2º assentar o corpo no solo;
3º tempo - Assumir a posição de atirador deitado.
Comparando os tempos necessários para a execução das duas técnicas podemos concluir que na
QUEDA NA MÁSCARA MODIFICADA é menos desgastante fisicamente pois tem menos tempos de execução. Isso tem vindo a ser comprovado com o nosso treino operacional. Notamos que com a adoção desta técnica os militares mantêm mais facilmente o ímpeto durante o assalto, tem uma silhueta para o inimigo mais pequena e que durante a execução da técnica mantêm sempre os olhos e a arma na direção da ameaça.
Por último temos o risco de lesão, que é um fator que pode ser determinante no potencial de combate aos baixos escalões, pois não é expectável ter uma baixa na execução de uma das técnicas.
Esta análise foi feita com a colaboração do Tenente de Medicina Gilberto, que recentemente foi colocado no 1BIMec para integrar a KFOR.
O risco de lesão vai depender sempre da variável terreno. No entanto, analisando as duas técnicas temos uma dicotomia de conceitos: o choque dos joelhos e amortecer com a mão.
Anatomicamente o joelho não possui capacidade para absorver convenientemente o impacto causado pelo peso do corpo. O que significa que, cada vez que o joelho embate numa superfície com um coeficiente de rigidez semelhante sendo esse movimento animado com uma energia cinética elevada, o resultado mais provável serão microtraumatismos.
A curto e médio prazo vão originar a degeneração da articulação. O tipo de lesões que advêm desta prática podem repercutir-se ao nível do menisco, ligamentos articulares e rótula. O tempo de recuperação de uma lesão no joelho pode variar entre 2 semanas a 6 meses de repouso.
Este prazo poderá ser alargado se for necessário intervenção cirúrgica, mais a fisioterapia necessária. Quanto à mão, esta possui uma anatomia muito mais favorável para suportar o peso do corpo, em comparação com o joelho, advindo esse fato de possuirmos um antepassado quadrúpede.
Concluindo a análise deste parâmetro facilmente chegamos à conclusão que na QUEDA NA MÁSCARA MODIFICADA o risco de lesão é menor. Com esta nossa análise e com a experiencia adquirida ao longo do ciclo de treino operacional o 1BIMec optou pela adoção da QUEDA NA MÁSCARA MODIFICADA, com a plena convicção que mudamos em prol do soldado e tentamos melhorar o treino operacional.
Referências:
• PDE 3-07-14 Manual CAE do Exército Português, Ficha de instrução TIC (00) 02-05;
• NEP 3.01.11 do 1BIMec;
• Tática de Pelotão e Secção de Atiradores – EPI 1993;
• PDE – 3-00 Operações
