“(…)- Muito bem - atalhou o embaixador - um exército de sessenta mil homens entrará em Portugal e fará...
- O quê? - perguntou o marquês, sorrindo-se, com a tremenda luneta assestada e no tom mais indiferente.
- Fará entender a razão e a justiça de El-rei, meu amo, a Sua Majestade e a Vossa Excelência! - redarguiu meia oitava acima o espanhol, supondo o ministro fulminado.
Sebastião José de Carvalho franziu as sobrancelhas, carregou a viseira, e cravando a vista e a luneta no diplomata, retorquiu-lhe:
- Sessenta mil homens muita gente é para casa tão pequena; mas querendo Deus, El-rei, meu amo e senhor, sempre há de achar onde possa hospedá-la. Mais pequena era Aljubarrota e lá couberam os que D. João de Castela trouxe. Vossa Excelência pode responder isto ao seu governo.
E, levantando-se para despedir o embaixador, acrescentou:
- Bem sabe Vossa Excelência que pode tanto cada um em sua casa, que mesmo depois de morto são precisos quatro homens para o tirarem!
O embaixador saiu jurando por Dios y la Virgen Santísima e o marquês preparou-se para a guerra.(…)”
Última Corrida de Touros
Rebelo da Silva