https://eco.sapo.pt/2025/09/25/aviao-portugues-ja-tem-todos-os-fornecedores-identificados/O bimotor para uso civil e militar receberá um investimento de perto de 250 milhões de euros. Vai empregar entre 180 e 200 engenheiros na fase avançada de desenvolvimento.
Oavião bimotor português já tem todos os fornecedores selecionados. Se a engenharia é 100% nacional, as peças terão de vir do estrangeiro, devido à falta de fornecedores certificados. Com um investimento previsto próximo dos 250 milhões de euros, o projeto irá empregar até 200 engenheiros durante a fase de desenvolvimento.
“Estão identificadas 100% das empresas que estão certificadas em termos aeronáuticos (vulgo OEM) e que tecnicamente e do ponto de vista da regulamentação aeronáutica poderão fornecer os vários sistemas do LUS-222, que vão desde a propulsão, trens de aterragem, aviónica a demais sistemas embarcados que equipam as aeronaves”, afirma o major-general Lourenço da Saúde, administrador do CTI Aeroespacial, uma das entidades responsáveis pelo desenvolvimento do bimotor, em respostas enviadas ao ECO.
A engenharia é toda nacional. É no polo do CEiiA – Centro de Engenharia e Desenvolvimento, junto ao Parque do Alentejo de Ciência e Tecnologia, em colaboração com a Universidade de Évora, que está a ser trabalhado o projeto aerodinâmico e estrutural, a integração de sistemas, a análise de desempenho, a certificação, ensaios em solo e em voo, bem como a produção da documentação técnica necessária para operadores e a Agência Europeia para a Segurança da Aviação (AESA).
“Este tipo de trabalho nunca tinha sido realizado em Portugal até agora”, salienta o major-general Lourenço da Saúde. “O exemplo mais próximo foram as cerca de 800.000 horas de engenharia do CEiiA no desenvolvimento da fuselagem central, sponsons e cauda do KC-390″, acrescenta, numa referência ao avião da Embraer que é parcialmente produzido nas OGMA.
Já o fornecimento de equipamentos, que tipicamente pesa 60% num programa aeronáutico, virá todo do estrangeiro. “Em Portugal ainda não existem fabricantes certificados pelas autoridades aeronáuticas para fornecimento direto destes sistemas. Por isso, os fornecedores são, por agora, internacionais”, esclarece o administrador da CTI Aeronáutica, entidade com forte intervenção no projeto de engenharia, em particular no que respeita aos requisitos relacionados com a versão militar.
O engenheiro aeronáutico considera, no entanto, que “o país reúne hoje as condições para avançar no desenvolvimento de soluções próprias, desde que sejam assegurados os processos exigentes de certificação aeronáutica, condição essencial para a entrada efetiva na cadeia de fornecimento aeronáutico”.
Investimento de perto de 250 milhões
O LUS-222 foi destacado pelo ministro da Economia e Coesão Territorial, Manuel Castro Almeida, como um dos principais projetos abrangidos pela reprogramação das Agendas Mobilizadoras do PRR. O projeto integra a agenda Aero.Next, que conta com um financiamento de 90,8 milhões de euros. O investimento total será de perto de 250 milhões de euros, segundo apurou o ECO.
Para já, emprega cerca de 130 engenheiros de várias especialidades, mas o número ainda vai crescer até 180 a 200 durante a fase de desenvolvimento, refere o major-general Lourenço da Saúde. Nas fases de montagem, voos de ensaio e de testes o número será substancialmente menor, voltando a crescer na produção, que irá acontecer na fábrica que será construída no Aeródromo Municipal de Ponte de Sor e que já se encontra em licenciamento.
O LUS-222 terá capacidade para transportar até 19 passageiros ou 2.000 kg de carga, com uma autonomia de até 2.000 km. Com a reprogramação foi implementado um programa para fazer evoluir a aeronave LUS-222 para versão militar, permitindo a respetiva certificação pela Autoridade Aeronáutica Nacional.
O que distingue o bimotor português? “A principal característica distintiva do LUS-222 face às aeronaves atualmente no mercado é a incorporação de uma rampa traseira de carga. Esta solução surgiu da evolução do conceito inicial civil para uma versão militar, beneficiando de requisitos operacionais-técnicos fornecidos pela Força Aérea”, afirma o também membro do conselho consultivo do EuroDefence Portugal.
“A rampa traseira confere versatilidade operacional, simplificando as operações de carga e descarga tanto no setor civil como no militar, bem como o embarque de passageiros”, explica o engenheiro aeronáutico, acrescentando que “elimina a dependência de equipamentos de apoio em terra e, em contexto militar, permite lançar carga em missões humanitárias ou, em operações de busca e salvamento, lançar equipamentos de apoio, como liferafts“.
Outra característica distintiva do LUS-222 é a capacidade de aterrar em pistas curtas — o que permite operar em aeródromos ou aeroportos regionais — ou não preparadas, incluindo infraestruturas destruídas devido a conflitos ou fenómenos naturais.
Para o major-general Lourenço da Saúde, “Portugal está a criar condições aeronáuticas particularmente favoráveis ao reconhecimento do valor estratégico de iniciativas nacionais que dão contributo para a inovação, a autonomia tecnológica e a resiliência industrial no setor aeroespacial e de defesa na Europa”.
“Os principais fabricantes europeus de aeronaves de transporte militar (Airbus e Leonardo) não oferecem modelos nesta dimensão, tendo optado por aeronaves de maior capacidade e alcance, tendo deixado este segmento a descoberto”, afirma.
O LUS-222 poderá ser configurado para transporte de militares, largada de paraquedistas, largada de carga, evacuação médica (em macas simples e macas com apoio de equipamentos médicos) e busca e salvamento, por ter janelas de vigilância.
Na vertente civil, “foi concebido para responder às necessidades de operadores que valorizam a flexibilidade: por exemplo, aeronaves commutter que durante o dia transportam passageiros e à noite fazem transporte de correio aéreo”, explica.
O LUS-222 será produzido e comercializado pela EEA Aircraft and Maintenance, que é detida em partes iguais pelo CEiiA, responsável pelo projeto de engenharia e produção de protótipos, e por um veículo de cinco investidores individuais.
O processo de certificação civil da aeronave já começou. O primeiro voo está previsto acontecer em 2028.