É um apoio a indústria... um "Jack of all trades, master of none" - daí ser difícil de justificar. E, tal como a hipótese de termos abdicado do segmento C130/KC390, "já está" no inventário da FAP, agora é usar o melhor possível - como avião de treino e, duvido muito, como avião de ataque leve se a Europa necessitar, em cenários africanos de baixa ameaça.
E o valor pago a mais (face a alternativas, caso fosse apenas para treino) apareceu porque é um apoio à indústria... senão aparecia para outra coisa, não militar.
O apoio à indústria teria que ser feito com pés e cabeça, não a investir num produto cuja versão em causa (NATO) dificilmente terá clientes. Indústria de produtos sem clientes, não é indústria.
Para agravar a situação, podíamos ter investido na nossa indústria, através do desenvolvimento de um UCAV nacional na classe do Bayraktar TB2. Mas não, há que dar dinheiro à Embraer, e o assunto resumiu-se a isso.
a África continua a ser um barril de pólvora e fonte de instabilidade… se não pensarmos apenas em termos nacionais, e sim europeus ou NATO, convém ter capacidade CAS para acautelar o flanco Sul.
África é um barril de pólvora em que a ameaça está a evoluir em vários aspectos, estando cada vez mais longe dos "maluquinhos com AKs e RPGs sem portaria". A ideia que o ST será uma opção útil no TO africano, está a desvanecer-se a cada ano que passa.
Com o crescimento do nível de ameaça, a opção mais prudente seria a utilização de UCAVs, que não sendo imunes, se um deles for abatido pelo menos não temos o problema de um piloto morto ou capturado.
Isto são questões básicas. Defender o ST em futuros TOs africanos, está quase ao mesmo nível de absurdo de dizer que a Terra é plana.
a) Desempenharmos um papel de apoio a Leste (daí ser apoiante da aquisição de aviões de transporte, desde o LUS ao MRTT, passando por um reforço sério do número de KCs e pods de reabastecimento em vôo ou vigilância marítima, por exemplo);
b) Investirmos em capacidades ASW;
c) Ter um papel ativo e de liderança em África, se necessário.
E tudo isso é insuficiente. A NATO não precisa apenas de apoio logístico e moral, precisa que os diversos países invistam o que puderem para tornar a aliança o mais forte possível, nas suas variadas vertentes.
Isto de "vocês aí na frente invistam nos sistemas mais caros e complexos, que nós aqui longe investimentos em capacidades baratas" não tem nexo e não é como funciona uma aliança.
E um reforço sério do número de KC, não faz sequer sentido. Temos tanto onde investir, não é em mais KCs que temos que o fazer.
1. Treino avançado.
2. Envolvimento da indústria nacional.
3. CAS em ambientes permissivos e semi-permissivos.
Há alguma plataforma única que consiga atender aos três requisitos/desejos, embora possa não ser a melhor em nenhum deles?
1. Ao que parece o ST vai para a 101, portanto nem para treino avançado foi adquirido. O que torna o ST uma escolha excessivamente cara para substituir os TB-30, e indicia que a FAP mantém o interesse numa aeronave a jacto.
2. Foi um ajuste directo, não demos oportunidade a mais nenhum concorrente de fazer uma proposta nesse sentido. Portanto este critério tem tanto valor como no seu lugar ter o critério "ser da Embraer" ou "ter Tucano no nome".
E o "envolvimento da indústria nacional" tem que ser feito para programas em que as quantidades adquiridas e/ou o mercado externo assim o justifiquem. Tentar envolver a indústria para 12 avionetas, não faz sentido. No mínimo façam prospecção de mercado.
3. Esse critério foi atirado para cima da mesa como pretexto para comprar o dito avião. Se fosse realmente uma necessidade, tinham sido avaliadas todas as opções:
-helicópteros armados previstos na LPM desde 2019 (muito mais versáteis, e vamos adquirir na mesma para o EP);
-uma modernização aos C-295 VIMAR para os converter em MPA/ISR (aeronave já em uso, e verdadeiramente multifunções);
-ou UCAVs, que têm como vantagens o facto de não colocarem em risco tripulações, e poder realizar missões de longa duração.
Como os requisitos não foram sequer apresentados como parte de um concurso, não sabemos que candidatos participariam, nem tão pouco que propostas seriam feitas.
Como tal, a resposta teria que ser hipotética, e o vencedor seria o TA-50 porque:
1. Seria uma aeronave verdadeiramente de treino avançado, ficando o país resolvido nesta questão para os próximos 30/40 anos;
2. Teria (hipoteticamente) envolvimento da indústria nacional, e neste caso seria uma aeronave com um grande potencial de mercado, havendo muitos mais possíveis clientes;
3. Faz CAS em ambientes permissivos, semi-permissivos, e muito mais, é superior para C-UAS devido ao seu radar, tem capacidade BVR, é supersónico... Por outras palavras, o TA-50 não seria apenas útil em TOs de baixa intensidade, tornando-se um melhor investimento em termos de custo/capacidade.
Em vez disso, foi-se fazer um ajuste directo pelo ST, e daqui a 5/10 anos vamos ter que gastar dinheiro outra vez para comprar uma aeronave na mesma classe do T/TA-50.
Agora que já se cometeu o erro de comprar o avião, resta esperar que não seja desperdiçado dinheiro em mais unidades, que estas não roubem recursos (financeiros, munições e de pessoal) a outras esquadras, e que se tenha juízo e nunca sejam usados em TOs externos, para evitar algum desastre perfeitamente evitável.