Nós (Portugal) encontramo-nos neste momento a braços com a tempestade perfeita, por nossa culpa exclusiva; é que se por um lado o F-35A é neste momento um ativo tóxico (diria até qualquer equipamento militar feito nos EUA), optar por um eurocanard seria uma fuga para a frente duvidosa e mal calculada.
Optar pela modernização F-16V é também uma incógnita face aos desenvolvimentos das últimas semanas. Tratando-se de uma FMS, e sabendo de antemão quão revanchista é Donald Trump e os membros da sua administração, diria que existe a forte possibilidade de, na eventualidade de tomarmos este passo tardio, tal nos ser negado ou fortemente condicionado devido às declarações do nosso MDN e o impacto que tiveram em Washington. Estamos a lidar com egos, convém não esquecer.
A Lockheed Martin sofreu recentemente 2 grandes reveses (excluída do F/A-XX e derrotada no NGAD), e deve estar extremamente preocupada com o rumo atual das coisas, pelo que artigos "damage control" como aquele no Expresso da passada sexta-feira não sejam de estranhar. Quando o presidente dos EUA, referindo-se ao NGAD, afirma que o mesmo também estará disponível para venda aos aliados, mas numa versão degradada porque um dia esses mesmos aliados poderão já não o ser, é natural que se pense duas vezes a partir de agora ao escolher material de proveniência norte-americana, e isto em apenas 2 meses de mandato. E também agora é que vamos todos testemunhar se o peso e influência da LM ainda se mantém ou não em Washington, ou se o culto MAGA tudo infetou.
Quanto a Portugal, não podíamos estar em pior situação no que concerne ao futuro da aviação de caça. Sucessivos governos sempre a empurrar com a barriga, sempre deixando a modernização para as calendas gregas e agora as consequências estão à vista, provavelmente fadados a ter de adquirir um eurocanard face ao conjunto atual de circunstâncias. Uma opção duvidosa e que trará problemas mais cedo que mais tarde, isto se quisermos continuar num certo de pé de igualdade com os nossos parceiros e aliados, claro está.
Apesar dos riscos, a opção Viper parece ser a mais razoável. Eu tenho sérias dúvidas que o Trump "homem de negócios", vá bloquear a venda de produtos militares, neste caso a modernização de F-16 para o padrão V. Simplesmente não é rentável ou benéfico para a economia americana, recusar um negócio destes. Ainda por cima com a previsão de que as encomendas de material americano, nomeadamente caças, diminuam enquanto o gajo lá estiver, e provavelmente durante uns bons anos depois dele sair.
Nesse aspecto não estou preocupado.
Quanto a uma versão exportável do NGAD, será algo inédito se se confirmar, sabendo que este avião ia ser o "F-22 do futuro". Mas também, uma versão "downgraded" do NGAD, mesmo assim terá custos unitários bem superiores ao F-35, e aí fica a dúvida se compensaria sequer para outros países comprarem o NGAD de exportação, ao invés do F-35. Poderá ser um cenário idêntico ao que aconteceu com F-16 e F-15, em que o primeiro ficou com um mercado internacional muito mais amplo (à semelhança do que acontecerá com o F-35).
Não sei se o custo é assim tão elevado, o gripen versão 4,5 tb foi desenvolvido só pela suecia e com um cliente que comprou poucos aviões brasil (36). Só agora a tailândia comprou tb. O proprio kf21 tb não tem ainda tantos clientes e a propria indonesia reduziu a participação
https://indonesiabusinesspost.com/917/geopolitics-and-diplomacy/korea-agrees-to-reduce-indonesias-financial-contribution-to-kf-21-fighter-jet-project por falta de verba e o avião está ai, foi oferecido a países com poucos recursos como o peru
Mas não dá para comparar um caça como o Gripen, com um futuro 5G da Saab. O Gripen manteve custos mais ou menos contidos (mesmo assim não foi barato), graças à maior parte dos seus componentes serem "off-the-shelf". O que é que a Saab pode ir buscar à prateleira, para espetar no seu futuro caça, sem que a sua qualidade enquanto avião 5G sofra, e que ao mesmo tempo permita manter os custos em baixo?
Depois é ingrato comparar os custos do KF-21. O KF-21, neste momento, nem sequer é um caça 5G, quanto muito é "4.75". Os sul-coreanos optaram por desenvolver gradualmente, até chegar à versão 5G.
Os sul-coreanos tiveram ajuda externa (creio que da LM). A Coreia do Sul tem um PIB 3x maior que o da Suécia. Na Coreia do Sul os custos de desenvolvimento vão ser sempre muito mais baixos do que na Suécia, porque a mão de obra é muito mais barata. E o KF-21 mesmo assim precisou de equipamento "off-the-shelf", como os 2 motores F414.
O desafio da Suécia, é conseguir desenvolver um caça minimamente competitivo tecnologicamente e com custos inferiores ao F-35 (sem o benefício da economia de escala). Isto é um desafio enorme, e não vão lá com equipamento baratucho "off-the-shelf".
Dassault Ready to Offer Rafale Fighters to Canada and Portugal as F-35 Alternatives
Trappier mentioned that although Portugal has not yet approached France regarding a possible purchase of Rafale fighters, the company anticipates that such a request may be made in the coming weeks or months.
https://mil.in.ua/en/news/dassault-ready-to-offer-rafale-fighters-to-canada-and-portugal-as-f-35-alternatives/
Acho engraçado este mito que se criou a nível internacional, de que Portugal quer comprar caças num curto espaço de tempo. Semanas ou meses? Contem mais 5 anos a uma década.
Enquanto se perde tempo a inventar, as necessidades das FA, e da FAP neste caso, a curto prazo mantém-se, e ninguém está a ver resolução à vista. Continuamos a ter 28 F-16 com armamento insuficiente, e com falta de determinados tipos de arma/equipamento que permitem potenciar a plataforma em uso.
Enquanto se tenta desconversar e inventar neste assunto, caso comece um conflito que nos envolva (NATO/UE) a curto prazo, eu só estou a ver os nossos F-16 a serem empregues apenas com AIM-9L, uma dúzia de AMRAAM e bombas de queda livre. Mas com isto ninguém se importa. Como se Rafales desarmados mudassem alguma coisa.
Prefiro considerar que tem "desafios, com algumas similaridades... não me parece - em caso de "Trump & trupe" resolverem embirrar a sério - estarmos na mesma situação (até porque com o F-35 "a situação" ainda não foi bem percebida - umas linhas de código em uma das muitas possíveis ligações "online"?); e há pods de diversos fabricantes (e não acredito que na Europa não exista o conhecimento para os atualizar entre missões - ie, mais capacidades que a Ucrânia tem) e no próprio software há conhecimento mais generalista (digo eu).
Coloco isto aqui:
https://www.airandspaceforces.com/ukraine-f-16-electronic-warfare-us-air-force/Eu tenho sérias dúvidas que a questão de EW seja tão "simples" como se tem falado.
Em primeiro lugar, os sistemas EW terão sido reprogramados para lidar com a ameaça específica dos russos. A mim parece-me mais que, os EUA ao deixarem de realizar ELINT em apoio à Ucrânia, não existirão grandes updates a fazer aos pods EW de qualquer maneira.
Os pods continuariam programados até ao último update feito pelos americanos, e qualquer evolução que decorresse no campo de batalha no espectro electromagnético, não seria "captada" pelos sistemas ELINT americanos, que depois permitiriam actualizar os ditos sistemas EW.
A questão aqui, parece-me ter muito menos a ver com o modelo de caça, mas sim na capacidade europeia de realizar ELINT (e já agora SIGINT e COMINT), e a capacidade de realizar estes reprogramação/updates aos sistemas EW dos diversos meios.
Se calhar aqui o debate devia centrar-se no desenvolvimento de uma aeronave europeia que cumpra a função dos RC-135. Por exemplo, um modelo baseado no A321 Neo MPA.