Os navios de guerra ou são especializados - para poderem ser utilizados numa determinada função - ou não servem para grande coisa, porque não são muito bons em nada.
O problema aqui é o do pessoal disponível.
O pessoal é cada vez mais caro, porque tem que ser mais especializado. O custo torna-se incomportável. Mesmo os radares civis que estão a ser vendidos hoje, quase que é preciso um curso de engenharia para entender e utilizar todas as suas capacidades... Imaginem os sistemas militares.
Os navios de guerra tendem a ser gabinetes de tecnologia flutuantes, com engenheiros e não com marinheiros.
As coisas estão a mudar constantemente e não podemos olhar para estas realidades com o mesmo tipo de comentários que se faziam há duas décadas atrás .
Portanto, o próprio conceito das Vasco da Gama, navios que seriam capazes de luta anti-submarina e tinham capacidade anti-aérea está esgotado.
Nunca foram navios especializados em nada (nem esse era o objetivo) e nunca faria sentido serem substituídos por qualquer coisa idêntica.
Cada vez mais as coisas parecem seguir no sentido da especialização, da interoperabilidade em termos de defesa comum, por organismos plurinacionais (seja a NATO seja uma futura força militar da UE) em que se tenta criar forças com capacidade e meios de ponta.
Só conta quem tiver esses meios de ponta para participar.
A dimensão enorme da ZEE e eventualmente a sua zona contigua são de uma dimensão desproporcional à nossa dimensão e às nossas capacidades.
Podemos garantir a segurança dos navios civis, podemos prestar apoio e evacuação médica, podemos combater a pirataria.
Mas não temos a mais pequena capacidade para defender essas águas.
E devemos entender isso, caso contrário dentro de uns anos, vamos acabar com outro mapa-cor-de-rosa na cara, com um qualquer país a explicar que não temos dimensão para achar que temos direito a milhões de quilómetros quadrados da placa continental.
Os submarinos são só dois porque, com as luvas, acabámos por pagar 2 ao preço de quase 3. Inicialmente a ideia era serem 3 + 1 de opção. E já deu para ver que agora, num mundo muito mais instável, pelo menos o 3º submarino tinha dado bastante jeito.
As VdG são fragatas GP, na sua forma mais básica, não estão especialmente equipados em nenhuma vertente. Ironicamente, o maior potencial que possuem, não é em ASW ou AAW, é como plataforma de lançamento dos Harpoon, para serem disparados para lá do horizonte com guiamento dos Lynx. As BD são na prática fragatas ASW, dado terem sonar de casco e rebocado (as VdG apenas têm sonar de casco), logo até na missão ASW são superiores. Em Portugal, as BD, que são superiores à VdG em ASW, são consideradas fragatas AAW, por terem radares melhores e VLS. Isto já dá para ver a confusão que para aqui vai.
"Portanto, o próprio conceito das Vasco da Gama, navios que seriam capazes de luta anti-submarina e tinham capacidade anti-aérea está esgotado."
Não está esgotado. É aliás o tipo de navio combatente de superfície mais construído em todo o mundo: a fragata multi-funções, precisamente porque a maioria dos países não tem dinheiro para comprar navios de guerra dedicados para cada função. Não existe uma única fragata moderna que abdique da capacidade anti-aérea, seja fragata ASW ou não. Até mesmo a maioria das corvetas/fragatas leves, não abdicam desta capacidade.
E para colocar em perspectiva, hoje em dia uma fragata ASW, tem mais capacidade AAW que uma fragata dedicada há 30 anos atrás. Os avanços nos mísseis AA, nos sistemas de lançamento e nos radares, permitem isto.
Portanto, substituir as VdG por NPOs ASW, é remar contra a maré, apenas para poupar uns tostões. As VdG deviam ser substituídas por fragatas, GP ou ASW ou AAW, modernas.
Quanto às grande marinhas não precisarem dos nossos: não é verdade. Existem muitas vozes a apontar para a falta de escoltas (e também de AOR) na NATO. A própria USN, considera que tem falta de navios, e com ameaças em duas ou mais frentes, terá que se desdobrar. Os franceses têm muitos territórios ultramarinos, logo também têm de desdobrar as suas forças. Os ingleses com as Falklands idem. As coisas vão-se complicar não é só com a ameaça russa, mas a chinesa e o efeito dominó que isso pode gerar noutros países que os apoiarem. E isto vai exigir que os restantes países comecem a respeitar os compromissos.
Quanto à defesa do nosso mar, é exequível. Não vai é ficar mais fácil se reduzirmos ainda mais a frota de navios combatentes. Juntando as peças todas (4/5 fragatas 3/4 submarinos, 4/5 P-3/P-8, UAVs, F-16, etc) dá. Agora ficar com apenas 2 fragatas e 2 submarinos, com disponibilidade intermitente, é que não dá mesmo.
Quanto ao factor pessoal, não me preocupa tanto. Fragatas modernas na ordem das 5000 ou 6000 toneladas, operam com 2/3 da guarnição de cada uma das VdG. Problema parcialmente resolvido. E o excesso de oficiais nas FA, tem muito mais peso no orçamento do que a especialização do restante pessoal para operar meios modernos.
Para concluir, é perfeitamente possível ter 4/5 fragatas modernas na MGP, haja vontade para isso. Um país que pensa em torrar uns 14 mil milhões no TGV Lisboa-Porto, que muito dificilmente será rentável de todo, é um país que tem dinheiro suficiente para garantir a sua segurança.
PS: O argumento inicial eram NPO ASW, mas já vi que está a ser alterado para corvetas ASW. E a isso pode-se responder o seguinte: uma corveta ASW não fica muito mais barata que uma fragata, depressa atingindo os 300 milhões por navio. No entanto será um navio mais pequeno, menos adequado para operar no Atlântico, possivelmente mais lento, menos armado, com menos resiliência a danos. Até a guarnição será muito superior ao do NPO, ficando entre os 75 e 100 elementos (para contextualizar, hoje fazem-se fragatas de 6000 toneladas, e muito bem equipadas, a operar com 120 homens ou menos). Para ficar exponencialmente mais barato que uma fragata, e com uma guarnição minimalista, as ditas corvetas teriam de se limitar a ASW, abdicando das restantes capacidades, o que seria subaproveitar um casco a rondar as 2500/3000 toneladas, logo não faz sentido também.
A única situação em que fazia sentido substituir as VdG por corvetas (bem armadas), era se a intenção fosse aumentar o número de navios, de 5 para uns 7. Fora isso, se é para manter ou reduzir para 4, que seja fragatas puras e modernas.