Portugal espera colher dividendos económicos do apoio diplomático à Líbia
Portugal espera que alguns contratos relacionados com a reconstrução da Líbia venham a beneficiar empresas portuguesas, retirando dividendos económicos do apoio político prestado ao movimento anti-Kadhafi nos últimos meses.
Esse apoio passou pela votação a favor da resolução de Março no Conselho de Segurança, que abriu caminho à intervenção militar da NATO contra alvos de Kadhafi, e mais recentemente, através da presidência do comité de sanções, «descongelar» activos de empresas líbias a favor do CNT, no valor de milhares de milhões de dólares.
«Temos a boa vontade política deles. Os empresários agora têm de apresentar propostas, ser competitivos», disse à Lusa fonte diplomática.
A mesma fonte adianta que compete aos empresários correr riscos, porque as informações que chegam do terreno sobre possíveis cisões dentro do Conselho Nacional para a Transição são preocupantes, de acordo com diplomatas em Nova Iorque.
Não obstante, o CNT vai ocupar o lugar da Líbia na ONU, conforme decisão da Assembleia Geral na sexta feira.
O prémio para os que arriscarem agora fazer negócios com Tripoli são contratos para construção e outros serviços, num país que nas últimas semanas viu serem «descongelados» cerca de 16 mil milhões de dólares antes apreendidos a empresas ligadas ao regime de Kadhafi, e mesmo a alguns dos seus dignitários, segundo disse quarta feira o embaixador de um país membro permanente do Conselho de Segurança.
«O comité [de sanções] tem sido especialmente céleres no desbloqueamento [de verbas], e gerido bem [o envolvimento] com a China e Rússia», as potências dentro do Conselho que foram mais críticas do uso da força, embora não o tenham vetado.
Segundo a mesma fonte diplomática, não existe um acordo tácito sobre quais os países estrangeiros que terão primazia em termos económicos, mas aqueles que recolhem mais boa vontade das autoridades líbias, nesta fase, são os membros permanentes do bloco ocidental (França, Reino Unido e Estados Unidos), em primeiro lugar por se terem envolvido militarmente, e depois Portugal.
«Portugal é o país que, sobretudo, teve uma postura importante e que ajudou a fazer consensos para o comité funcionar», refere fonte diplomática ouvida pela Lusa em Nova Iorque.
Ponto alto da questão líbia durante a próxima semana nas Nações Unidas, em que começa o debate anual da Assembleia Geral, será uma reunião de alto nível, com o presidente francês, Nicolas Sarkozy, os primeiros ministros britânico, David Cameron, e italiano, Sílvio Berlusconi, entre outros.
Para o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, que esteve recentemente em Tripoli, será uma oportunidade para destacar o papel que Portugal tem tido na questão líbia e mostrar disponibilidade para continuar a apoiar na delicada fase de transição para a democracia.
Ainda na sexta feira, o Conselho de Segurança aprovou por unanimidade uma resolução que prevê a criação da missão de apoio das Nações Unidas para a Líbia, a (UNSMIL) durante três meses, para apoiar a reconstrução do Estado líbio, preparação de eleições e redacção de uma nova Constituição.
A resolução prevê ainda o descongelamento de bens da Petrolífera Nacional líbia e da congénere Zueitina, e deixa também aberto o caminho para saída da lista de entidades com bens congelados do banco central, o Banco Árabe Líbio Internacional, a Autoridade Líbia de Investimento e a sociedade de investimentos Libyan-African Investment Portfolio.
O descongelamento destes activos no valor de milhares de milhões de dólares destina-se a «colocá-los à disposição do povo líbio», refere o texto aprovado pelos 15 países membros, incluindo Portugal.
Após a votação, o embaixador português, Moraes Cabral, afirmou que a Líbia entra agora num «novo capítulo».
Lusa