No caso de a situação degenerar, as coisas poderiam ficar de facto complicadas, mas estas coisas levam tempo.
Em primeiro lugar as empresas.
Essas, numa situação de falência do Estado ou falência dos Estados seriam inevitavelmente as primeiras vítimas. Os investimentos seriam nacionalizados e as fábricas deixariam de laborar, perderiam mercados e as economias desses países sofreriam mais ainda.
Do ponto de vista militar, o problema não é para já mas para o futuro.
Para já, mesmo na Libia o Kadafi pode sair ou morrer (caso o Camarada Hugo não o convença a ir para a Venezuela), mas o problema não é imediato.
Ainda não estão claras as razões que levam os árabes a revoltar-se. Vemos no Bahreim, protestos num país em que a renda per capita é umas três vezes maior que a portuguesa.
Logo, as revoltas árabes não têm necessariamente SÓ a ver com a carteira.
O outro problema prende-se com os árabes e a sua maneira de ser, de ver o mundo, de se relacionar com a religião.
Para mim o principal problema, é o inevitavbel falhanço de um processo de democratização nos países árabes. Eles vao querer ver as vantagens da democracia e vão esperar que essas vantagens se tornem aparentes e sejam visiveis num curto espaço de tempo.
Todos sabemos que isso não é possível. Não se criam democracias de um momento para o outro. A ideia de que se pode comprar um pacote de democracia no supermercado e polvilhar os países com o pó e pronto, não funciona.
Isto quer dizer que há uma grande probabilidade de as populações que hoje protestam porque querem uma democracia e liberdade, quando desencantadas coma liberdade que de nada lhes serve e com a democracia que não lhes dá trabalho nem dinheiro, recorram à solução de séculos:
A religião.
Os árabes podem tentar encontrar conforto na religião, pedindo a Deus aquilo que não conseguem de outra forma.
Uma economia de um país árabe não tem como competir com outras economias em igualdade de circunstâncias. A capacidade produtiva das mulheres é em grande medida desperdiçada e uma sociedade que coloca de lado nem que seja um terço das mulheres, é uma sociedade condenada a não conseguir competir.
Deus, será a solução. Com a democracia desacreditada e sem um sentido prático para a Liberdade, os árabes facilmente vão aceitar o extremismo e aí é que a coisa se pode por preta.
De qualquer forma, dificilmente esses regimes conseguirão obter armamentos que possam colocar em causa a nossa segurança. Os russos têm problemas com os extremistas islâmicos e dificilmente lhes vão fornecer mais armas modernas. Os europeus idem e dos americanos nem se fala.
Só a China poderia ser uma ajuda, mas até a China tem problemas com o extremismo islâmico no noroeste e oeste, pelo que o mundo árabe, especialmente as sociedades do norte de África teriam dificuldade em conseguir desenvolver uma capacidade militar efectiva para nos colocarem problemas.
Mais grave, é a inevitabilidade do exodo, que tanto o mundo árabe quanto a África sub sahariana considera ser a sua bomba atómica.
E para evitar a chegada de centenas de milhares om milhões de pessoas às costas do sul da Europa, de nada servem F-16, de pouco servem submarinos e de muito pouco servem fragatas.
Os nossos problemas com a pirataria do norte de África são seculares. No caso de falência dos regimes do norte de África, o que precisamos são muitos meios de patrulha medianamente armados. Não poderiamos de maneira nenhuma permitir que nas nossas águas se desenvolvessem redes de pirataria que atacassem a navegação.
Também acredito que uma situação ao estilo da Somália seria dificil, principalmente porque na Somália não há nada em frente (excepto as costas da India demasiado longinquas). No sul da Europa, e aqui falo do sul da peninsula ibérica, a patrulha seria sempre muito mais facil. Mas ainda assim, isso implica a necessidade urgente de meios que permitam patrulhar de forma efectiva as águas. Isto quer dizer ter permanentemente dois ou três navios no mar, do sul desde as águas do Algarve até às águas da Madeira.
Isto quer dizer que é necessário investir o que for possível, em meios de vigilância marítima, especialmente em aeronaves não tripuladas, em redes de comunicação e de permuta de dados sobre a situação táctica. É necessário que esses sistemas estejam interligados com o de outros países - obviamente a Espanha - para impedir que a pirataria passe de uma área para a outra sem continuar a ser seguida.
As necessidades são muito mais em termos de tecnologia de vigilância que em termos de armamentos.
E quanto aos equipamentos que podem já ter sido vendidos a esses países, creio que sem manutenção e apoio logístico, a capacidade efectiva desses meios será relativamente reduzida.