"Dois homens de sorte no meio da tragédia
O brasileiro João Marcelo Calaça, um psicanalista de 37 anos, é um homem de sorte: soube em cima da hora que teria de adiar a fatídica viagem a Paris, o que fez com que também um seu amigo, norte-americano, igualmente deixasse de viajar. Ele e o amigo, outro homem cheio de sorte, jamais esquecerão este dia, que para muitos outros foi trágico.
Logo ao acordar, na manhã de ontem, já tinha 25 mensagens no seu telemóvel. Eram amigos que sabiam da intenção inicial dele de embarcar no fatídico voo. "Ao ver a notícia do desastre, pela TV, senti um calafrio", diz Calaça aos jornalistas, no Rio de Janeiro.
Mesmo sem a divulgação oficial da lista de mortos, parentes das supostas vítimas acorreram desde o início da manhã ao aeroporto do Galeão, no Rio. Aos prantos, solicitavam informações sobre os familiares. Com a lista oficial por divulgar, ia-se sabendo por vias indirectas quem tinha perdido parentes ou empresas que haviam ficado sem os seus funcionários.
Da Guatemala, o Presidente Lula da Silva mandou dar prioridade imediata às acções de busca do avião. A Aeronáutica destinou cinco aviões e a Marinha três navios, um deles dotado de um helicóptero.
As rádios e televisões suspenderam a sua programação normal e passaram a dar informações e fazer entrevistas com ex-pilotos, especialistas em aviação, em meteorologia - já que se especula, dede o primeiro instante, com a hipótese de um raio ter precipitado o acidente. Também psicólogos e astrólogos eram escutados. Até especialistas em energia falaram sobre a possibilidade de os raios atingirem aviões. O brigadeiro reformado José Carlos Pereira, ex-presidente da estatal de aeroportos Infraero, afirmou que o provável causador do facto deve ter sido uma anomalia enorme no ar, como uma fortíssima tempestade, um raio ou até o choque com algo imprevisto, como um meteorito ou uma parte de detrito espacial.
O prefeito do Rio de Janeiro (equivalente a presidente da câmara), Eduardo Paes, perdeu o seu chefe de gabinete, Marcelo Parente, de 38 anos, que viajou acompanhado da esposa.
"O nosso grupo assumiu a Prefeitura do Rio em Janeiro último e Parente era um dos meus companheiros queridos, que estava envolvido no projecto de realizarmos um bom trabalho. Perco um grande amigo e colaborador", disse ao DN o autarca, visivelmente comovido, acrescentando: "A morte de tantas pessoas é uma tragédia, que atinge todos os brasileiros e envolve sobretudo os moradores do Rio, os cariocas, pois a sociedade local conhece muitos dos falecidos." À sua volta, dezenas e dezenas de pessoas, tão comovidas como ele."
Fonte DN