GM adia carro a hidrogénio por falta de abastecimento
Uma década após ter apontado 2010 como o ano do lançamento comercial do primeiro carro a hidrogénio, a General Motors investiu mais de mil milhões de euros no protótipo, mas não o vai comercializar porque não há onde o abastecer.
«Não serve de nada um construtor automóvel ter a tecnologia pronta, como a nossa está, e passá-la ao mercado para ser comercializada quando o utilizador dos automóveis a hidrogénio não terá qualquer possibilidade de o abastecer de combustível», afirmou o director de comunicação e assuntos institucionais da General Motors (GM) Portugal, em entrevista à agência Lusa.
Segundo Miguel Tomé, o adiamento da comercialização do primeiro carro a hidrogénio da GM não significa, por isso, uma «alteração de planos» por parte da empresa, mas antes a resposta à «mudança na forma como o mercado automóvel encara os próximos anos em termos de mobilidade».
«Não há, nem pensar, em parte alguma do mundo uma rede completa [de abastecimento de automóveis a hidrogénio]. Em Portugal, por exemplo, não existe um único posto», salientou.
Ainda assim, a GM continua «a ter o hidrogénio como visão de futuro para a mobilidade automóvel individual» - até agora já investiu «bastante, acima de mil milhões de euros», no desenvolvimento da tecnologia -, mas encara-o agora como uma solução «a médio/longo prazo, mais para longo do que para médio».
«Até lá, continuaremos a investir na tecnologia dos automóveis a hidrogénio», garante Miguel Tomé.
Conforme explicou à Lusa, o hidrogénio é uma área «onde vários 'stakeholders' e parceiros têm que intervir», para além dos construtores automóveis propriamente ditos.
«Nós temos a tecnologia pronta para passar ao mercado. Agora é uma questão de os outros participantes nesta equação do hidrogénio - designadamente as empresas de energia - fazerem, eles próprios, os seus investimentos», sustentou.
Os elevados investimentos necessários são, na sua opinião, o que tem travado o avanço do hidrogénio e determinado a aposta feita nos automóveis eléctricos.
«O hidrogénio enquanto solução de mobilidade não é simples de implementar. Estamos a falar de mudar o paradigma ao ponto de, nos postos de abastecimento, deixar de existir gasolina e gasóleo e passar a existir hidrogénio, que tem uma série de exigências ao nível da distribuição e armazenamento que implicam investimento», explicou Miguel Tomé.
Este investimento, disse, seria mais facilmente desbloqueado «se o preço dos combustíveis convencionais (gasolina e gasóleo) fosse o dobro ou o triplo do actual».
Neste caso, «o hidrogénio já teria dado muitos mais passos em termos de rede de abastecimento».
Lusa