Árvore nazi causa polémica na PolóniaUma árvore de origem nazi está a dividir os habitantes de Jaslo, na Polónia. A polémica já chegou às Filipinas.
Tem 67 anos, mede 12 metros, é robusta e frondosa. Até há poucos dias era só mais uma árvore numa qualquer rua de Jaslo, no Sudeste polaco. Mas agora está no centro de uma azeda polémica que divide os 38 mil habitantes da cidade entre partidários do abate e defensores da conservação.
O carvalho foi um presente de Hitler ao governador alemão de Jaslo durante a Segunda Guerra Mundial. Oriundo da localidade natal do Führer, Braunau am Inn (Áustria), chegou em 1942 embrulhado numa suástica e, uma vez plantado, foi decorado com simbologia nazi. "Falo um pouco de alemão e por isso consegui perceber que a cerimónia [de plantação] assinalava o aniversário de Hitler", conta o historiador local Kazimierz Polak à televisão polaca.
Polak, de 81 anos, é um dos poucos sobreviventes da invasão alemã. Antes de fugir do Exército Vermelho, as tropas nazis destruíram Jaslo e apenas 39 das 1200 casas foram preservadas. Agora o historiador é o mais ardente defensor da árvore, que tinha passado despercebida até que se soube que que ia ser cortada para fazer uma rotunda.
Quando Polak revelou a origem do carvalho numa entrevista televisiva, a presidente da câmara, Maria Kurovska, reagiu imediatamente. "A árvore comemora o maior criminoso da história da humanidade", afirmou à imprensa local há duas semanas.
Controvérsia mundial Desde então não param de chegar mensagens a favor e contra o carvalho da discórdia. Os residentes estão divididos e adiaram a decisão das autoridades, mas Kurovska está empenhada em melhorar o trânsito e não esconde as intenções. "Temos centenas de árvores aqui", explica, "e no lugar dela podemos plantar árvores em homenagem às vítimas de Hitler."
A controvérsia deu a volta ao mundo e chegou ao jornal israelita
Ha'aretz. "Esta árvore deve ser derrubada, embarcada num comboio e incinerada", recomenda um comentador anónimo, talvez inspirado pelos campos de extermínio de judeus. "É estúpido cortar uma árvore - pouco importa quem a mandou plantar - numa era de aquecimento global", responde um leitor das Filipinas. "O carvalho de Guernica tinha um significado político ancestral. Em contrapartida, não creio que a árvore em questão encarne o mal hitleriano", opina Paulo Tunhas, professor de Filosofia da Universidade do Porto.
Plantar árvores no aniversário do ditador era um dos mais importantes rituais nazis ligados à silvicultura e um dos poucos legados que perduram. Em Jaslo está a gerar acesos debates, que podem prolongar-se ainda algumas semanas.
"A árvore não fez mal a ninguém e não tem culpa de nada", insiste Polak. "É alta e forte, deixem-na crescer." A presidente da câmara não recua: "As árvores plantam-se em memória de pessoas realmente grandiosas, como João Paulo II, diz Kurovska. "Se decidimos conservá-la, cada vez que passearmos no centro da cidade iremos lembrar-nos de que é a árvore de Hitler", sentencia.
Ionline