Agora voltando ao tópico.
Não estou a ver como um LST em pleno século 21 teria grande hipótese, numa altura onde qualquer pé rapado consegue ter um UAV. Sim eu sei que o USMC quer adquirir LST para transportar os seus homens entre ilhas do pacifico, mas tenho sérias dúvidas que os mesmos fossem usados em zonas controladas pelo IN. Para mim faz mais sentido que estes navios fossem usados para transportar Pelotões de Fuzileiros e misseis antinavio para ilhas/zonas controladas pelos EUA e seus aliados, mais como reforço rápido e para negar o uso dessas localizações pelo IN e possível uso dessas rotas maritimas.
Na prática eu vejo a Holanda a abandonar o conceito de LPD pelos Crossover e MRSS. Eu vejo os britânicos a trocarem também eles os LPD por MRSS.
E nós? Bem a única solução possível para a Marinha Portuguesa (na minha humilde opinião de quem nunca foi militar da Marinha, e pouco percebe disto), é de que o navio a ser adquirido tem que ter em conta a doutrina que está a ser implementada neste preciso momento na Marinha e no CF em relação a este tipo de operações. O que é que eles precisam?
1 - Um navio que tenha uma boa autonomia;
2 - Possa transportar toda uma FFZ com todos os "módulos" possíveis (150/180 Fuzileiros?);
3- Ter um bom convés de voo e respetivo hangar para operar pelo menos dois helicópteros médios ao mesmo tempo;
4 - Possa transportar e transferir entre navios combustível, víveres, munição, sendo capaz de fazer reabastecimento no mar substituindo o NRP Bérrio;
5 - Ter capacidade de fazer roll-on/roll-off.
Um LPD, em pleno século XXI, também não tem quaisquer hipóteses de sobreviver. Com a evolução das armas anti-navio, dos drones, e tudo mais, ou as tropas desembarcam a 200km da costa inimiga (e olhem que mesmo assim, depende dos mísseis e drones que o adversário tenha), e portanto para ele operar em segurança, precisas de ter capacidade de "amaciar" as defesas inimigas, para permitir um desembarque. Isto é um problema inerente a qualquer navio anfíbio, não há meios soluções milagrosas.
Também é preciso compreender, que uma operação anfíbia a sério implica uma cadeia de acontecimentos e conjugação de meios enorme. Espetar o fantástico LPD na MGP, não vai mudar as lacunas que existem, e que impedem de proceder a esta cadeia de acontecimentos para realizar e sustentar um desembarque anfíbio.
Dito isto, o "LPD" em Portugal, teria uma utilidade meramente civil, para a resposta a catástrofes aqui e ali, e depois para um ou outro exercício militar, e operações militares, só sob a alçada da NATO. Se é para isto, era preferível adquirir 2 a 4 LSTs, que servem perfeitamente e sendo mais do que um navio, têm uma taxa de disponibilidade muito superior, sendo possível ter uma verdadeira capacidade de resposta rápida anfíbia, com pelo menos um navio disponível todo o ano.
Já para a defesa dos arquipélagos (principal argumento a favor dos navios anfíbios), nunca iríamos desembarcar grandes quantidades de blindados, mas sim forças ligeiras e meios que se adequem à defesa de ilhas. Com 2 arquipélagos e tantas ilhas, quantos mais navios com capacidade anfíbia melhor. Boa sorte ter que reforçar os meios nos Açores e Madeira, com apenas um navio anfíbio.
As opções parecem-me claras:
-LPDs mais pequenos, baratos e de guarnição reduzida, de forma a permitir ter 2 navios
-LSTs, navios com 100 metros capazes de transportar mais de 200 militares e vários veículos, com custos e guarnições muito inferiores a um grande LPD
-Crossover, ou na variante de combate para substituir as VdG ou na variante Security para substituir os 4 NPOs iniciais
MRSS depende do tipo de navio que fosse escolhido pela RN. Um dos designs até agora demonstrados, é tão ou mais complexo que um LPD, portanto não será nada barato, mantendo-se portanto o mesmo defeito de ser apenas um navio. MRSS ou similares, só faziam sentido, se fossem relativamente baratos, e pudessem ser adquiridos 2, eliminando-se a necessidade do AOR. Mas sabemos que navios tipo JSS, tendem a ser extremamente caros.
Já agora, e relativamente ao que os britânicos poderão vir a pensar no futuro, chamo a atenção para o fato de eles terem recentemente feito a primeira aterragem de um drone de asa fixa e longo alcance a bordo de um porta-aviões.
https://www.royalnavy.mod.uk/news-and-latest-activity/news/2023/september/08/20230907-first-aircraft-drone-on-board-hms-prince-of-wales
O normal, será que à medida que a tecnologia se desenvolva, e como acontece com todos os outros meios, os drones aumentem de tamanho e passem a ter uma importância cada vez maior.
Não só em termos de capacidade de reabastecimento, mas posteriormente em termos de capacidade de vigilância e mesmo de combate.
Os turcos não adquiriram nenhum LPD, foram direto para uma navio com capacidade para operar drones de maiores dimensões.
Um navio com esta capacidade será sempre infinitamente mais barato que um porta-aviões, mas um navio sem uma coberta adequada para estas realidades, poderá não ter futuro, por ser uma duplicação de esforços.
Eu diria que, se os britânicos estão a estudar a questão com os holandeses, vai ter que aparecer um qualquer novo tipo de alternativa, porque pelo menos para já, não há nada que acomode estas capacidades, que aparentam ser vistas como o futuro.
Os britânicos provavelmente irão operar no futuro drones de asa fixa de grande dimensão a partir dos PA. Caso contrário, vêem-se obrigados a mandar construir um ou mais navios com convés de voo corrido para esse fim, o que me parece pouco provável. A Holanda, até agora, não demonstrou interesse em porta-drones, e a própria Damen, ainda não veio à tona com nenhum design de convés corrido, que pudesse indiciar de alguma forma esse interesse. Isto não quer dizer que não mude, mas o mais provável, é preocuparem-se menos em ter navios anfíbios clássicos (LPDs) e avançarem mesmo para os Crossover.
Os turcos, por outro lado, têm um LHD porta-drones, que originalmente foi pensado para operar o F-35B. Eles têm claramente um foco mais ofensivo, algo que não coincide com a maioria dos operadores de LPDs. Muitos países que não estão tão preocupados com a parte ofensiva, nem sequer sonham com navios porta-drones, para drones de asa fixa de grandes dimensões (até porque isso tem o mesmo custo de um pequeno porta-aviões), e quanto muito limitar-se-ão, pelo menos para já, aos drones VTOL ou lançados de catapulta.
Entretanto, a imprevisibilidade da evolução naval do futuro, acaba por favorecer ainda mais a aquisição para a MGP de navios anfíbios mais pequenos, ao invés de um LPD, de forma a se correrem menos riscos.