Terminou o resgate de restos mortais de combatentes portugueses da guerra colonial na Guiné-BissauA terceira etapa de resgate dos restos mortais de soldados portugueses mortos na Guiné-Bissau durante a guerra colonial da Liga dos Combatentes portuguesa terminou hoje com a deposição das urnas no cemitério municipal de Bissau.
Durante cerca de um semana, uma equipa da Liga dos Combatentes de Portugal e técnicos do Instituto de Medicina Legal, liderados pela antropóloga forense Eugénia Cunha, recolheram 13 dos 17 restos mortais de antigos combatentes, sepultados no cemitério de Gabu, norte do país.
No final da cerimónia no cemitério de Bissau, o coronel Sebastião Goulão, da Liga dos Combatentes, disse que a "terceira etapa está concluída".
"A terceira etapa está concluída, não também como nós queríamos, não vieram todos. Foi o possível", afirmou visivelmente emocionado o coronel, que lamentou o facto de só terem conseguido resgatar os restos mortais de 13 dos 17 combatentes previstos.
Segundo o coronel Goulão, "só vieram 13 porque as outras quatro campas já tinham sido reutilizadas por naturais de Gabu".
O coronel explicou também que os trabalhos de resgate de restos mortais de antigos soldados portugueses vão continuar em Dezembro.
"Já fizemos um reconhecimento em todo o sul da Guiné-Bissau encontramos mais cinco locais com 12 campas, algumas identificadas outras não", disse.
"Pensamos em Dezembro continuar e de uma maneira geral a missão na Guiné-Bissau fica cumprida", acrescentou.
"Temos depois a preocupação dos 47 homens que ficaram no rio Corobal (sul da Guiné-Bissau). Fizemos já um primeiro reconhecimento, mas como a segurança não era total não fizemos averiguações no terreno", explicou o coronel.
"Vamos estudar a hipótese de vir cá com uma equipa de minas e armadilhas que nos ajude a manter a segurança de modo a que não afecte trabalhadores", disse.
Sobre a identificação dos restos mortais dos antigos combatentes depositados no cemitério municipal de Bissau, o coronel Goulão disse que a "equipa técnica vai levar aquilo que achou conveniente para determinar o ADN de cada um deles de modo a que possam ser entregues às famílias, caso aquelas assim o desejem".
"Alguns deles vai ser muito difícil, temos um supostamente identificado. Todos os outros não sabemos quem são", afirmou o coronel, um antigo combatente na Guiné-Bissau entre 1969 e 1971.
Questionado sobre o tempo necessário para identificar os restos mortais dos antigos combatentes, a antropóloga forense Eugénia Cunha explicou à agência
Lusa que depende dos testes.
"Se forem antropológicos são mais rápidos, se forem genéticos são mais demorados", salientou.
"Nos antropológicos significa que vamos comparar os dados que temos sobre as vítimas, enquanto estavam vivas, com os dados que retiramos do esqueleto. Se houver coincidência de características suficientes a pessoa fica identificada", disse.
"Quando não há dados suficientes do esqueleto que nos permita a identificação temos de tirar ADN do esqueleto e comparar com o de um familiar e esse processo é mais demorado", sublinhou.
Questionada sobre o tipo de características para fazer a identificação através do esqueleto, Eugénia Cunha explicou que é feita com base em fractura antigas, terapias dentárias, que ficam marcadas para sempre.
"E se houver um ficha dentária da pessoas, nós fazemos a comparação", acrescentou.
A primeira fase da operação da Liga dos Combatentes, decorreu em Guidaje, também no norte do país, tendo sido trasladados para a capela de Bissau os restos mortais de oito antigos combatentes e de três pára-quedistas, devidamente identificados, para Lisboa.
A segunda fase decorreu em Farim, tendo sido trasladados para o cemitério municipal de Bissau 15 restos mortais de antigos combatentes.
Em África, e respeitando ao conflito entre o período de 1961-1975, estão cerca de 4000 militares, mas apenas cerca de 1300 homens espalhados por Angola, Moçambique e Guiné-Bissau são naturais de Portugal.
Lusa