Orgulho de Ser Português

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TOMSK

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« Responder #210 em: Dezembro 13, 2008, 12:33:43 am »
Diogo da Silveira
"Antes a honra de Portugal que o ouro !"




Diogo da Silveira foi um dos mais intrépidos guerreiros que militaram na Índia no tempo do governador Nuno da Cunha.

Foi ele que comandou a armada que devastou as costas de Cambaia por mais duma vez, e foi ele que aconselhou a Nuno da Cunha a tomada de Baçaim, enquanto não podia tomar a fortaleza de Diu, e para essa conquista contribuiu poderosamente.

Esteve também na destruição de Panane. Apesar das muitas atrocidades que praticou, devastando por mais duma vez e cruelmente a costa de Guzerate, há dele um facto, que muito o honra.

Andando a cruzar na costa de Aden, encontrou um navio árabe que vinha de Djeddah. 0 capitão dirigiu-se a ele e apresentou-lhe uma carta dum português cativo, carta que o árabe supunha ser a recomendação e bom salvo-conduto. Era efectivamente de recomendação, no sentido de recomendar a qualquer capitão português a quem a carta fosse entregue, que se apoderasse da nau, porque levava ali uma rica presa. Diogo da Silveira envergonhou-se pelo seu compatriota da infame cumplicidade de que ele dera provas, e para salvar a honra do nome português, sem revelar ao capitão árabe o engano infamíssimo de que estava para ser vitima, deixou-o passar como se a carta fosse efectivamente um salvo-conduto!
 

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TOMSK

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« Responder #211 em: Dezembro 13, 2008, 01:23:04 am »
Mais um ditoso filho da Pátria...
Lopo de Sousa Coutinho
Valente homem da guerra e das artes



Lopo de Sousa Coutinho, pai do ilustre escritor Frei Luís de Sousa, foi dos maiores militares portugueses que serviram na Índia.
Se a valentia na espada não lhe faltava, pois que também foi notável escritor. Aqui vos falarei então de alguns dos seus feitos de armas.

Em 1533 partiu para o Oriente na esquadra comandada por Pedro de Castelo Branco. Militou debaixo das ordens de Nuno da Cunha, e esteve no cerco de Diu, praça comandada por António da Silveira, que no principio do cerco o encarregou da guarda das mulheres e crianças, que para não serem bocas inúteis, deviam ir buscar água, lenha, etc.

Foi Lopo de Sousa Coutinho que abriu a longa série de façanhas que neste cerco se praticaram:



No dia 14 de Agosto de 1538, surpreendido com mais 14 portugueses por uns 400 homens de Khodja Sofar, não só os repeliu, mas perseguiu-os até fora da povoação, sendo necessário fazerem-se-lhe sinais repetidos da fortaleza para ele voltar.

Noutra ocasião fez uma sortida feliz e atrevidíssima; mandara-o António da Silveira com uns 100 soldados descer ao fosso, mas ele que tinha consigo apenas 85 homens, obedeceu da mesma forma, repelindo o inimigo, e desembaraçando o baluarte de Gaspar de Sousa, que estava sendo vivamente atacado. Muitas outras façanhas notáveis praticou ainda nesse famoso cerco, de que depois havia de ser historiador.

A sua morte foi devida a um lamentável desastre. Estando na vila de Povos, no dia 28 de Janeiro de 1577, quando ia a apear-se dum cavalo em que montava, desembainhou-se-lhe a espada, e caindo sobre ela, enterrou a no peito de forma tal, que faleceu imediatamente. Foi sepultado na igreja do Salvador, de Santarém.
 

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TOMSK

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« Responder #212 em: Dezembro 14, 2008, 01:28:11 am »
Peço desculpa pelo tamanho da imagem, mas ela merece isso!

 

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Daniel

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« Responder #213 em: Dezembro 14, 2008, 08:53:23 am »
TOMSK
Citar
Peço desculpa pelo tamanho da imagem, mas ela merece isso!


Que é para merecer, é que pela foto não reconheco quem possa ser. c34x  :roll:
 

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TOMSK

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« Responder #214 em: Dezembro 14, 2008, 09:53:48 am »
Nem eu sei quem é... um militar português, aparentemente do séc.XIX...

Mas achei a pintura bem conseguida, e como boas imagens sobre o passado português rareiam... :roll:
 

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Ermit

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« Responder #215 em: Dezembro 14, 2008, 02:15:45 pm »
Não sei se já foi falado aqui, mas aqui fica a notícia.

http://www.maltabusinessweekly.com.mt/n ... temid=5943

Cumprimentos
Não sabe assinar.
 

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HSMW

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« Responder #216 em: Dezembro 14, 2008, 03:02:03 pm »
Nem sabia disto.
https://www.youtube.com/user/HSMW/videos

"Tudo pela Nação, nada contra a Nação."
 

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TOMSK

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« Responder #217 em: Dezembro 14, 2008, 09:04:18 pm »
É caso para dizer, "os Portugueses são sempre os primeiros a ajudar a malta!" :lol:

Pois,  é que a "estória" gosta mais de falar dos valentes e imaculados "Lords" ingleses de sua majestade que vão ajudar os países amigos quando precisam, do que dos pobres portugueses, sempre com a barba por fazer e mal-vestidos...  

O que é certo é que a justiça foi feita, e a devida homenagem foi feita aos Portugueses, eles sim os primeiros!
 

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André

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« Responder #218 em: Dezembro 14, 2008, 10:02:34 pm »
Batalha do Cabo Matapão
19 de Julho de 1717[/b]




Em resultado de uma série de guerras desastrosas a que o tratado de Carlowitz pôs fim, o Império Otomano vira-se forçado a ceder a Dalmácia e a Moreia (Peloponeso) à república de Veneza, a Transilvânia, a Hungria e a Eslavónia à Austria, a Ucrânia à Polónia e Azov à Rússia. A partir da subida ao trono do sultão Achmet III, em 1703, os Turcos, sob a direcção do enérgico grão-vizir Kurmurgi-Ali-Pachá, começaram a reorganizar o seu exército e a sua marinha, especialmente com vista à recuperação da Moreia e da Dalmácia. Em 1715, sob pretexto de que os Venezianos estavam incitando os Montenegrinos à revolta, invadiram a Moreia, que ocuparam em poucas semanas, e apoderaram-se das ilhas de Tinos e de Cerigos, as últimas que Veneza ainda detinha no mar Egeu.
Por essa altura a armada turca e dos seus aliados Egípcios e Berberescos ascendia a cinquenta e oito boas naus de guerra, contra as quais Veneza apenas podia alinhar dezanove suas e mais quatro da Ordem de Malta. Em terra a desproporção de forças entre Turcos e Venezianos era ainda maior. Aflitos, os Venezianos pediram auxílio ao imperador da Áustria e ao Papa. O primeiro, depois de algumas hesitações, iniciou a guerra contra os Otomanos em Maio de 1716; o segundo lançou um apelo aos reis da França, da Espanha e de Portugal para que enviassem as suas armadas em socorro de Veneza.

A França escusou-se. Depois da morte de Luis XIV os Franceses não estavam dispostos a envolverem-se em novas guerras; por outro lado, também não desejavam ver o Império Otomano ainda mais enfraquecido do que já estava, uma vez que no quadro geral da política européia constituía uma espécie de contrapeso, a Oriente, em relação ao enorme poder da Áustria. Por esta mesma razão os Espanhóis, que continuavam a disputar aos Austríacos a posse do sul da Itália e da Sicília, não acederam ao apelo do Papa, limitando-se a prometer que enquanto durasse a guerra contra os Turcos se absteriam de empreender quaisquer operações militares em Itália ou na Sicília. O único monarca católico que respondeu positivamente ao apelo do Papa foi o rei D. João V de Portugal, não por quaisquer razões de ordem político-militar mas movido somente pelo desejo de que o Sumo Pontífice concedesse a si próprio e à Igreja Portuguesa títulos honoríficos que no seu acanhado entender seriam a melhor forma de prestigiar o País.

E logo deu ordem para que fosse organizada uma esquadra de socorro a Veneza, que ficou constituída por cinco naus, uma fragata, um brulote, uma nau com sobresselentes e uma tartana, a qual, sob o comando de Lopo Furtado de Mendonça, conde de Rio Grande, largou do Tejo a 5 de Julho de 1716, rumo ao Mediterrâneo. A 12 de Agosto chegou a Livorno, de onde foi enviado um emissário a Roma a fim de notificar o Papa da sua chegada e a pedir instruções. A 21 foi recebida uma mensagem daquele solicitando ao conde de Rio Grande que fosse ajudar a desbloquear Corfu, que estava sendo atacada pelos Turcos.

A esquadra portuguesa seguiu imediatamente para lá, mas chegou tarde de mais. Desmoralizados com uma pesada derrota que o seu exército tinha sofrido, a 5 de Agosto, na frente do Danúbio, às mãos dos Austríacos comandados pelo príncipe Eugénio, os Turcos já haviam levantado o cerco a Corfu. Na ilha lavrava agora uma epidemia de peste. Por isso e porque não eram de prever novas operações militares antes da chegada do Inverno, o conde de Rio Grande decidiu iniciar a viagem de regresso a Portugal. A 28 de Outubro estava de volta ao Tejo.
Desta primeira expedição de socorro a Veneza se poderá dizer que foi «um passeio à Senhora da Asneira», já que a esquadra portuguesa largou demasiado tarde de Lisboa e perdeu um tempo precioso indo primeiro a Livorno em vez de se ter dirigido directamente para o sul da Itália.

Ainda em Dezembro de 1716 o Papa voltou a escrever a D. João V pedindo-lhe para que no ano seguinte não deixasse de tornar a mandar a sua armada em auxílio dos Venezianos. Mais uma vez o nosso rei acedeu ao pedido, ordenando que fossem iniciados imediatamente os preparativos necessários. Ao contrário do que acontecera no ano anterior, estes começaram mais cedo, o que permitiu ao conde de Rio Grande iniciar a viagem a, 28 de Abril de 1917.
Nesta segunda expedição a esquadra portuguesa era constituída pelos seguintes navios: nau Nossa Senhora da Conceição, de 80 peças e 700 homens de guarnição (390 marinheiros, 220 soldados e 90 artilheiros); nau Nossa Senhora do Pilar, de 80 peças e 700 homens de guarnição; nau Nossa Senhora da Assunção e São Pedro, de 66 peças e 500 homens de guarnição; nau Nossa Senhora das Necessidades, de 66 peças e 500 homens de guarnição; nau Santa Rosa, de 66 peças e 500 homens de guarnição; nau Rainha dos Anjos, de 56 peças e 350 homens de guarnição; nau São Lourenço, de 58 peças e 350 homens de guarnição; brulotes Santo António de Lisboa e Santo António de Pádua, qualquer deles de 8 peças e 40 homens de guarnição; nau São Tomás de Cantuária, transportando sobresselentes, de 20 peças e 100 homens de guarnição; tartana, para avisos, de 18 peças (pedreiros) e 60 homens de guarnição. Eram, portanto, sete naus de guerra, dois brulotes e dois navios auxiliares, totalizando 526 canhões e 3840 homens de guarnição.

Desta vez o conde de Rio Grande dirigiu-se directamente para a Sicília, fundeando em Palermo a 24 de Maio. Dali seguiu para Messina, onde chegou a 30. A 10 de Junho lançava ferro em Corfu, onde já se encontravam as esquadras de remo de Veneza, do Papa, do grão-duque de Florença e da Ordem de Malta, sob o comando de André Pisani, a quem o Sumo Pontífice havia nomeado generalíssimo da armada cristã. Por essa altura a esquadra de alto bordo de Veneza encontrava-se em operações no mar Egeu, nada mais se sabendo a seu respeito.
Ao amanhecer do dia 17 de Junho chegaram a Corfu duas naus de Malta, arvorando a bandeira do Papa. Era seu comandante o tenente-general Bellefontaine, que havia sido escolhido por aquele para comandar a esquadra de alto bordo aliada. Quer dizer que, de acordo com a estrutura hierárquica delineada pelo Papa, o conde de Rio Grande ficava subordinado a Bellefontaine e este a André Pisani, o que até certo ponto representava falta de consideração para com Portugal, atendendo à importância do seu contributo. Assim o terá entendido o conde de Rio Grande, que não só se recusou a substituir a bandeira portuguesa pela bandeira papal, conforme lhe fora ordenado por Bellefontaine, como lhe declarou peremptoriamente que não se considerava seu subordinado mas somente de Pisani! Como se pode calcular, daí para diante as relações entre o conde de Rio Grande e Bellefontaine pautaram-se por um gélido formalismo.

Teve então lugar um conselho em que tomaram parte os principais capitães da armada cristã. Ao que parece, por essa altura predominava a ideia de que a armada turca se estava procurando esquivar a uma batalha decisiva. Por isso, foi resolvido seguir para o mar Egeu, efectuar a junção com a esquadra de alto bordo de Veneza, que andava naquele mar, e, seguidamente, ir flagelar as costas da própria Turquia a fim de fazer sentir aos Otomanos a força do poder naval dos Cristãos.

De acordo com este plano, a 22 de Junho de 1717 a armada combinada deixou Corfu e dirigiu-se para sul, navegando ao largo da costa da Albânia. A 25 fundeou na ilha de Zante, onde o conde de Rio Grande deixou a São Tomás de Cantuária por ter verificado que tinha muita dificuldade em acompanhar os restantes navios da esquadra. A 29 foi retomado o caminho para sul. A 1 de Julho foi avistada a esquadra de alto bordo de Veneza, pairando nas proximidades da ilha de Sapiência. No dia seguinte, 2 de Julho, foi efectuada a junção com ela.
Soube-se então que a referida esquadra tinha tido dois recontros com os Turcos, pelo que alguns dos seus navios estavam com o aparelho em mau estado. É de presumir que, de um modo geral, todos eles dispusessem de poucas munições e que as suas guarnições estivessem bastante fatigadas, mais desejosas de voltar para casa do que entrar em novos combates. De qualquer forma, desfez-se a ideia de que os Turcos não queriam correr o risco de uma batalha e, pelo contrário, ficou-se à espera de os ver surgir a qualquer momento.



Em Julho, no sul da Grécia, predominam os ventos de NW e N. Pisani, com as suas vinte e três galés e as quatro galeaças, dobrou o cabo Matapão e deixou-se ficar fundeado à sombra dele, enquanto a esquadra de alto bordo cruzava mais a sul, ora fazendo bordos para SW, ora para NE. E assim se passaram os dias 3 e 4 de Julho, à espera que o inimigo aparecesse. No dia 5, ao amanhecer, encontrando-se a armada cristã no final do bordo da terra, dentro do golfo de Cefalónia, foi avistada a armada turca, muito ao longe, entre a ilha de Cerigo e o cabo de Santo Ângelo. É natural que a armada cristã tenha arribado na intenção de se aproximar dela. Mas, ao que parece, o vento caiu e a aproximação não foi possível. No dia 6 o vento continuou a faltar, pelo que as duas armadas continuaram imobilizadas, a pairar, a grande distância uma da outra. Ao amanhecer de 7 a armada turca não foi avistada, possivelmente por estar projectada sobre a ilha de Cerigo que tinha por trás de si. Mas quando o Sol ganhou altura foi claramente vista a navegar no bordo da terra com a proa a NE. Pouco depois o vento voltava a cair.

Nos dias 8 e 9 de Julho continuou a predominar uma calma podre entre-cortada por curtas aragens. Na noite de 9 para 10 o vento começou subitamente a soprar muito fresco de W e a levantar-se mar. O dia 10 foi de temporal, provavelmente com chuva e visibilidade muito reduzida. Os turcos tinham deixado de ver-se e os navios cristãos só pensavam agora em defender-se do mau tempo e em não abalroar uns com os outros.

Aproveitando-se habilmente do facto de a armada cristã ter descaído para sul, o almirante otomano meteu-se no golfo de Cefalónia e a favor da brisa de terra dirigiu-se para o cabo Matapão e daí para Koron. Com esta brilhante manobra ficou a barlavento da armada cristã e, consequentemente, com a possibilidade de aceitar ou recusar a batalha conforme entendesse.
Pisani, que se encontrava com a esquadra de remo a leste do cabo Matapão, quando viu a armada turca avançar em massa na sua direcção, suspendeu apressadamente e bateu em retirada para Modon, ao mesmo tempo que mandava pedir auxílio a Bellefontaine. Mas este nesse dia nada mais pôde fazer do que aguentar o temporal. Na manhã de 11 o vento caiu e o mar abateu. Estando os turcos imobilizados pela ausência de vento, Pisani aproveitou a oportunidade para, a remos, ir para o cabo Matapão, onde, a 12, se juntou novamente à esquadra de alto bordo de Bellefontaine.

Nesse mesmo dia alguns navios mercantes vindos de Koron informaram que a armada turca estava lá. No dia 13 o vento voltou a soprar fresco de norte. A esquadra de remo regressou ao seu antigo fundeadouro a leste do cabo Matapão e a esquadra de alto bordo ficou a cruzar a sul do dito cabo. Da parte da tarde foi avistada a armada turca, parecendo vir em busca da cristã. Mas não chegou ao alcance de tiro. Um pouco antes virou de bordo e metendo à orça regressou a Koron. Na manhã de 14 já não se avistava.

Na tarde de 14 surgiram inesperadamente detrás da ilha de Cerigo nove galés turcas, que logo se suspeitou andarem em busca da sua esquadra de alto bordo. Os navios cristãos arriaram todas as bandeiras e galhardetes e dirigiram-se ao seu encontro. Só quando estavam muito perto é que as galés deram pelo engano. Inverteram imediatamente o rumo e puseram-se em fuga para leste. A capitânia de Veneza, que era o navio da vanguarda da esquadra de alto bordo cristã, abriu fogo, ao mesmo tempo que Bellefontaine içava o sinal de «caça geral». Mas o vento, mais uma vez, caiu e as galés turcas, navegando a remos, escaparam-se sem qualquer dificuldade. As galés e as galeaças cristãs que, como se disse, estavam fundeadas junto ao cabo Matapão, nada puderam fazer por se encontrarem muito longe.

Durante o Verão, no golfo de Cefalónia, predominam os ventos de S e SW fracos, que são substituídos pela calma ou por uma fraca brisa de terra durante a noite. No dia 15 Pisani ordenou que toda a armada se dirigisse para a enseada de Hapan a fim de fazer aguada e lenha.
No momento de fundear teve lugar um incidente que ilustra bem a mentalidade dos fidalgos da época. Tendo alguns navios portugueses fundeado antes de si, o conde de Rio Grande sentiu-se desrespeitado e recusou-se a fazê-lo, ficando a bordejar ou a pairar do lado de fora da enseada. Apenas a nau Nossa Senhora da Assunção, por solidariedade, lhe ficou a fazer companhia.

O dia 16 de Julho foi ocupado na faina de fazer aguada e lenha, tendo alguns fidalgos aproveitado para ir caçar para terra. Um grupo deles teve mesmo uma escaramuça com um destacamento de cavaleiros turcos de uma força que havia sido enviada para o local a fim de impedir os habitantes de vender alimentos aos cristãos.

A 17 chegou subitamente à enseada de Hapan uma corveta, que tinha sido enviada para Koron a fim de vigiar os turcos, com a informação de que estes tinham deixado aquele porto e vinham a caminho do golfo de Cefalónia. A 18, ao fim da tarde, foi avistado do cesto da gávea da Nossa Senhora da Conceição, que, como se disse, andava a cruzar do lado de fora da enseada de Hapan, a armada turca navegando de vento em popa na sua direcção. Imediatamente o conde de Rio Grande mandou uma embarcação avisar Bellefontaine. Durante a noite de 18 para 19, noite esplendorosa de lua cheia, as naus cristãs suspenderam e tentaram ocupar os lugares que lhes competiam na coluna de batalha. Mas não havia ponta de vento e foi necessário recorrer a reboques das galés e dos batéis para levar os navios para as posições desejadas. No entanto, apesar dos esforços daqueles, ao romper do dia a formatura continuava ainda muito desorganizada.

A armada cristã que se encontrava em Hapan era constituída por trinta e cinco naus, quatro brulotes, três corvetas, tartanas ou setias, vinte e três galés e quatro galeaças. Das trinta e cinco naus, vinte e seis eram venezianas, sete portuguesas e duas da Ordem de Malta; das vinte e três galés seriam doze de Veneza, cinco de Malta, quatro do Papa e duas do grão-duque de Toscana; as quatro galeaças eram de Veneza. A vanguarda da esquadra de alto bordo cristã era constituída pelas naus de Veneza; seguiam-se-lhes as naus de Malta e por fim as portuguesas. No entanto, possivelmente devido às dificuldades de que se revestiu a organização da formatura, por causa da falta de vento, tudo parece indicar que alguns dos navios terão ficado fora dos lugares que lhes competiam. Tendo em conta a forma como se desenrolou a batalha, estamos em crer que a ordem por que estavam dispostas as naus na retaguarda da coluna cristã, que foi quem suportou o principal peso do combate, seria a seguinte: São Lourenço (portuguesa), São Raimundo (de Malta), Rainha dos Anjos (portuguesa), Nossa Senhora das Necessidades (portuguesa), Santa Catarina (de Malta), capitânia de Bellefontaine, Nossa Senhora do Pilar (portuguesa), Fortuna Guerreira (veneziana), Santa Rosa (portuguesa), Nossa Senhora da Conceição (portuguesa), capitânia do conde de Rio Grande, Nossa Senhora da Assunção (portuguesa). A coluna constituída pelas trinta e cinco naus cristãs devia ocupar cerca de duas milhas. Entre a esquadra de Veneza e a terra encontravam-se as galés, as galeaças e os brulotes aguardando a ocasião propícia para entrarem em acção.

Logo que começou a clarear pôde ser vista distintamente a armada turca que fechava por completo a enseada de Hapan, onde se encontrava a armada cristã. Era aquela constituída por vinte e duas grandes naus turcas, algumas delas com cerca de cem peças, e por vinte e uma outras mais pequenas de Alexandria, Tunes e Argel, além de nove galés, alguns brulotes e outros navios mais pequenos.

Soprava então uma brisa de SW, com a ajuda da qual a armada turca se foi aproximando da armada cristã que se encontrava praticamente imobilizada, tentando ainda rectificar a formatura. Pelas sete da manhã os navios de Tunes e de Argel, que eram os mais ligeiros, chegaram ao alcance de tiro das naus de Veneza que constituíam a testa da coluna cristã e abriram fogo sobre elas. Responderam energicamente os venezianas e durante cerca de uma hora e meia prosseguiu o duelo de artilharia entre a vanguarda cristã e os berberescos, provavelmente com pouco efeito, já que a distância entre eles era considerável. Tentaram então alguns navios de Argel ou Tunis tornear a testa da coluna cristã, dando ideia que pretendiam ir atacar as galés. Para se lhes opor, a Madona del Arsenal, que era a capitânia de Veneza e o primeiro navio da coluna, começou a guinar lentamente para EB a fim de os conservar dentro do seu campo de tiro. Após algumas salvas disparadas a curta distância, os berberescos desistiram do seu intento e, metendo à orça, voltaram a integrar-se na sua coluna. A Madona del Arsenal completou a viragem de bordo, ficando com a proa a SE, descaída cerca de uma centena de metros para sotavento da coluna de batalha cristã. Logo que viram a sua capitânia começar a arribar e depois virar em roda, as naus venezianas que seguiam nas suas águas foram fazendo sucessivamente o mesmo. E assim toda a esquadra de alto bordo de Veneza, à excepção da Fortuna Guerreira, ficou a sotavento do alinhamento inicial e com a proa a SE.

Cerca das oito e meia da manhã a esquadra turca chegou ao alcance de tiro da rectaguarda cristã, dando início a um novo duelo de artilharia a grande distância. Nessa altura o vento caiu por completo, deixando todos os navios imobilizados nas posições em que se encontravam, provavelmente servindo-se de reboques dos respectivos batéis para melhor orientarem as suas baterias.

Quando vira guinar para EB a nau veneziana que ia à sua frente, a nau portuguesa São Lourenço não acompanhou esse movimento, provavelmente por não ver içado no navio de Bellefontaine qualquer sinal nesse sentido. Quanto a este é de supor que tenha ficado surpreendido pelo facto de toda a esquadra de Veneza ter virado de bordo sem ordem sua. Possivelmente hesitou durante alguns momentos sobre a acção a tomar. Entretanto começou o combate com os turcos e caiu o vento, o que o impediu de mandar executar qualquer evolução com vista à rectificação da formatura.

Em resultado do que acaba de ser dito, até perto das duas da tarde a batalha travou-se exclusivamente entre as dez naus que constituíam a retaguarda da armada cristã e as quinze naus turcas que se lhes opunham. Manietados pela ausência de vento e fora do alcance de tiro, os restantes navios turcos e berberescos, bem como a esquadra de Veneza, viram o seu papel reduzido ao de meros espectadores.
Pelas duas da tarde recomeçou a soprar uma aragem fraca de SSW que os venezianos aproveitaram para lançar um dos seus brulotes contra uma das grandes naus turcas que estavam combatendo contra a rectaguarda cristã. Manobrando com grande perícia, a sua tripulação conseguiu levá-lo até junto do alvo e ligá-lo a ele com vários arpéus; seguidamente pôs-lhe fogo e quando viu este bem ateado retirou numa embarcação. Mas o seu acto de coragem para nada serviu. Como o vento era muito fraco e soprava do lado da nau, os turcos conseguiram cortar os cabos dos arpéus e afastar o brulote. Sendo este um navio de dimensões apreciáveis, andou a arder, à deriva, durante todo o resto do dia e da noite seguinte por entre os navios da armada cristã.



Logo que começou a soprar a aragem de SSW é natural que Bellefontaine a tenha querido aproveitar para reorganizar a formatura, criando as condições necessárias para que toda a armada cristã pudesse tomar parte na batalha. Com esse fim é provável que tenha feito o sinal para virar em roda a fim de meter os dez navios que constituíam a retaguarda da armada no alinhamento da esquadra de Veneza, que, como foi dito, já tinha efectuado essa manobra da parte da manhã.

Lentamente a São Lourenço e todas as demais naus que seguiam à frente da de Bellefontaine viraram em roda e foram colocar-se no alinhamento das naus de Veneza com a proa a SE. Mas com as naus que seguiam atrás dele as coisas passaram-se de maneira diferente. A Nossa Senhora do Pilar, almiranta de Portugal, de que era capitão Manuel de Távora da Cunha, conde de São Vicente, ou porque não tivesse compreendido o sinal, ou porque entendesse que não recebia ordens de Bellefontaine, ou muito simplesmente porque achasse que seria uma desonra afastar-se deliberadamente do inimigo, não virou de bordo, continuando em frente! As três naus portuguesas e a veneziana que navegavam nas suas águas seguiram-lhe o exemplo. Daí resultou terem ficado quatro naus portuguesas e uma veneziana isoladas a barlavento da coluna cristã, combatendo com quinze turcas!
Pela mesma altura a armada turca virou também em roda, ficando com a proa a NW, o que a fez aproximar da cristã. Reduzida a distância de tiro, embora sem permitir ainda o uso da mosquetaria, o duelo de artilharia redobrou de intensidade. Durante mais três horas a Nossa Senhora do Pilar, a Fortuna Guerreira, a Santo Rosa, a Nossa Senhora da Conceição e a Nossa Senhora da Assunção bateram-se galhardamente contra um adversário muito mais numeroso e igualmente determinado, provocando a admiração entre as guarnições dos navios que não estavam em acção. A dada altura, o conde de São Vicente, no desejo de se aproximar ainda mais do inimigo, começou a orçar, dando ideia de se querer bater sozinho com toda a armada turca! O conde de Rio Grande teve de lhe fazer sinal para regressar à formatura.

Durante esta fase da batalha, a mais intensa de todas, dada a menor distância que separava os dois adversários, é natural que tenham aumentado consideravelmente os danos e as baixas sofridos por ambos.

Ao fim da tarde é muito provável que os principais navios turcos, em resultado dos dois combates que haviam travado anteriormente com os venezianos e do fogo nutrido que tinham feito durante todo o dia, já estivessem a lutar com falta de munições. O certo é que puxaram tudo para a orça e começaram a afastar-se para o mar. Aos olhos da armada cristã era como se estivessem a bater em retirada, corridos pelas quatro intrépidas naus portuguesas e pela sua companheira veneziana.
O grosso da armada cristã, encontrando-se no interior da enseada de Hapan com muito pouco vento não pôde, de imediato, lançar-se em perseguição dos turcos. Quando conseguiu sair dela já estes iam longe.

Os navios portugueses, de um modo geral, ficaram com o aparelho muito danificado e tiveram, por junto, cerca de cinquenta mortos e cento e cinquenta feridos. Os danos e as baixas sofridos pelas duas naus de Malta devem ter sido menores, uma vez que estiveram durante menos tempo envolvidas em combate. Os navios venezianos pouco ou nada devem ter sofrido. Quanto aos turcos, constou que tinham tido um navio afundado pelo tiro da artilharia e outro incendiado por acidente, o que não é confirmado pelas testemunhas oculares. Disse-se também que tinham sofrido para cima de seis mil mortos, o que parece francamente exagerado. O mais natural é que tenham sofrido danos e baixas sensivelmente iguais aos dos cristãos.

Será curioso chamar a atenção do leitor para o facto um tanto insólito de a batalha, apesar de ter sido travada no interior da enseada de Hapan, que fica a cerca de vinte e cinco milhas a NE do cabo Matapão, ter passado à História com o nome deste.
 
Sob o ponto de vista táctico foi uma batalha com muito pouco interesse, já que, devido à ausência de vento, os navios se conservaram praticamente imobilizados durante toda ela sem possibilidade de efectuarem qualquer manobra. Nas suas linhas gerais não fugiu à regra das inúmeras batalhas do século XVIII: um aparatoso duelo de artilharia à distância, milhares de tiros disparados, vergas e mastaréus quebrados, cabos cortados, velas feitas em pedaços e algumas centenas de mortos e feridos, mas sem que nenhum navio tivesse ficado seriamente danificado no casco e muito menos tivesse sido afundado ou incendiado.
De realçar o audacioso ataque levado a cabo pelo brulote de Veneza, que deve ter sido lançado à bolina cerrada de sotavento para barlavento, o que será caso único ou pelo menos muito raro, mas que não produziu qualquer efeito, como, regra geral, acontecia com os ataques com brulotes, tipo de navio que estava chegando ao fim. A batalha do cabo Matapão de 1717 terá sido também uma das últimas grandes batalhas navais da História em que tomaram parte galés em grande número, as quais, de resto, para nada mais serviram do que para dar reboque às naus por ocasiões de calma. Era outro tipo de navio que tinha igualmente os seus dias contados. Apesar da sua fraca potência, a artilharia afirmava-se definitivamente, por esta época, como a arma por excelência da guerra no mar, posição que haveria de manter até ao início do sécculo XX.

Sob o ponto de vista estratégico, a batalha do cabo Matapão não teve qualquer repercussão sobre o desenrolar da guerra, continuando os Turcos, como anteriormente, senhores absolutos do mar Egeu.

Durante a noite de 19 para 20 de Julho e durante todo o dia 20 a armada turca velejou para o cabo de Matapão e deste para o de Santo Ângelo. Quando atingiu este último ainda a armada cristã se encontrava nas proximidades do primeiro. No entanto, afastando-se para o mar, Bellefontaine começou a apanhar vento bonançoso de NW, o que lhe permitiu reduzir consideravelmente a distância que o separava dos turcos. Mas durante a tarde de 21 o vento voltou a cair e a armada cristã ficou mais uma vez imobilizada. Na noite de 21 para 22 o vento começou a soprar com força, provavelmente de NE, e o mar a crescer, obrigando os cristãos a correr com o tempo em direcção à costa da Cirenaica. Ao anoitecer foi efectuada uma viragem de bordo, passando a armada a navegar em direcção à Calábria. Só no dia 24 de manhã é que o tempo melhorou, mas continuou a fazer-se sentir uma ondulação larga que fatigava o aparelho dos navios, sobretudo daqueles que mais avarias tinham sofrido durante a batalha, como era o caso dos portugueses. Constatando que nem Pisani nem Bellefontaine pareciam dispostos a perseguir o inimigo nem a retirar para as suas bases, o conde de Rio Grande propôs que fosse adoptada sem demora uma qualquer dessas duas linhas de acção. Em resultado da sua intervenção foi decidido recolher a Corfu.

À passagem por Zante a esquadra portuguesa reintegrou a nau com sobresselentes que ali deixara, os quais eram preciosos para as reparações que tinha necessidade de efectuar. Após a chegada a Corfu tanto Pisani como Bellefontaine insistiram com o conde de Rio Grande para que se deixasse ficar ali durante mais algum tempo para prevenir a hipótese de os turcos virem procurar novo encontro com a armada cristã. Mas o conde recusou, alegando que tinha diante de si uma longa viagem para regressar a Portugal e que antes disso tinha necessidade de reparar os seus navios.

A esquadra portuguesa largou de Corfu a 16 de Agosto. A 24 chegou a Messina, onde permaneceu até 2 de Outubro, reparando as avarias que sofrera durante a batalha. Nessa data iniciou a viagem de regresso a Lisboa, onde chegou a 6 de Novembro.
Entretanto, em Agosto de 1717, o príncipe Eugénio voltara a vencer os Turcos em Tameswar e tomara-lhes Belgrado, o que lhes abateu consideravelmente o moral.

No ano de 1718, por se terem deteriorado subitamente as relações com a Espanha, a esquadra portuguesa não foi mandada para o Mediterrâneo, permanecendo no Tejo pronta para qualquer eventualidade. No Verão desse ano a esquadra de Veneza teve mais dois encontros com a turca, dos quais saiu muito maltratada, sofrendo perto de dois mil mortos e feridos.

Por esta altura já os Turcos se tinham convencido de que não tinham capacidade para recuperar o que os Austríacos lhes haviam arrebatado. Estes, por seu lado, estavam descrentes de que os Venezianos fossem capazes de se aguentar na Moreia. Não havia, portanto, razões de peso para continuar a guerra. A Inglaterra ofereceu-se como medianeira e a paz foi assinada em Passarowitz a 21 de Julho de 1718. De acordo com o tratado então celebrado, a Áustria ficou de posse da Sérvia Setentrional, Veneza conservou a Dalmácia e os Turcos ficaram com a Moreia.
 
Pela sua parte, D. João V recebeu efusivos agradecimentos do Papa e viu a sé de Lisboa elevada à categoria de patriarcal, com o que ficou inchado de vaidade. E como por essa época foram descobertas novas minas de ouro em Mato Grosso, no Brasil, é bem possível que tenha mesmo pensado que o envio da sua esquadra a combater os infiéis o havia feito cair definitivamente na graça de Deus!


Saturnino Monteiro                
em «Batalhas e Combates da Marinha Portuguesa» (Vol.VII)

 

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André

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« Responder #219 em: Dezembro 15, 2008, 12:38:33 am »
Batalhas da Boca do Tigre
15 de Fevereiro de 1809 a 21 de Janeiro de 1810


Perdida no fim do mundo, esquecida pela Índia e ainda mais pela Metrópole, constantemente ameaçada pelas prepotências dos Chineses e dos Ingleses, a cidade de Macau teimava em sobreviver!
Em Setembro de 1808, apesar dos protestos do Governador e do Senado, os Ingleses sob o comando do almirante William O'Brien Drury insistiram em colocar nela uma guarnição sua, tal como haviam feito no Funchal e em Goa, para... a defender de um eventual ataque dos Franceses! A verdade nua e crua é que a Companhia Inglesa das Índias estava aproveitando despudoradamente a guerra na Europa para deitar mão a todas as possessões que os Franceses, os Holandeses e os Portugueses ainda possuíam no Oriente. Afinal, a esperteza de nada lhe serviu, porque ao ser assinado o tratado de paz em 1815 foi obrigada a devolvê-las todas aos seus antigos donos.

Mas não eram só os Ingleses que causavam preocupações aos Macaenses. Desde 1805 que um pirata chinês, chamado Quan Apon Chay, que aspirava a tornar-se imperador da China, andava assolando as costas deste país com uma armada de perto de setecentos navios, entre juncos, lorchas e outras embarcações de menor porte. De início não se tinha atrevido a interferir com a navegação de Macau, possivelmente por recear a esquadra que ali tínhamos, composta por urna fragata e um brigue. Porém, quando aquela foi mandada seguir para a Índia, começou também a apresar os navios que iam para Macau ou de lá vinham.

Era então governador e capitão-general da cidade Lucas José de Alvarenga, homem inteligente e enérgico, que resolveu pôr cobro a uma situação que a prolongar-se levaria inevitavelmente os Macaenses à ruína. Nesse sentido deu ordem ao desembargador Miguel José de Arriaga Brum da Silveira, pessoa com excepcionais capacidades de organização e profundo conhecedor do meio, para organizar uma esquadra capaz de ir dar combate à dos piratas. Meteu este mãos à obra e a breve trecho tinha prontos a fazerem-se ao mar, devidamente armados, guarnecidos e municiados, o brigue de guerra Princesa Carlota, de 16 peças e 100 homens de guarnição, o navio mercante Belisário, de 18 peças e 120 homens de guarnição, e a lorcha Leão, de 5 peças e 30 homens de guarnição, esta última comandada pelo piloto José Gonçalves Carocha. Para comandante da força foi escolhido o capitão de artilharia José Pinto Alcoforado de Azevedo e Sousa. Encontrava-se no porto uma fragata inglesa, cujo comandante, instado pelo Governador, acedeu a colaborar connosco.

A 15 de Fevereiro de 1809 os navios acima referidos deixaram Macau, continuando a fragata inglesa fundeada como se nada fosse com ela! Pouco depois entravam aqueles em contacto com cerca de duzentos navios do Quan Apon Chay que se encontravam nas proximidades. Teve então lugar um medonho combate entre os portugueses e os chineses, disparando os primeiros continuamente os seus canhões e as suas espingardas sobre o cardume de juncos e lorchas que procuravam aproximar-se deles, enquanto os segundos se esforçavam por chegar à abordagem, o que, felizmente para nós, nunca conseguiram. Durou o combate, no qual se distinguiu particularmente a lorcha de Gonçalves Carocha, desde manhã até ao pôr-do-Sol, acabando os piratas por bater em retirada com muitos dos seus navios gravemente danificados e cheios de mortos e feridos.
Esta vitória de David contra Golias levantou extraordinariamente o ânimo dos Macaenses e abalou a dos piratas.



Na sequência dela o governo imperial enviou emissários a Macau para propor uma acção conjunta de Portugueses e Chineses destinada a acabar de uma vez por todas com o temível Quan Apon Chay. A 23 de Novembro de 1809 foi assinado entre as duas partes uma convenção, mediante a qual os Portugueses se comprometiam a aprontar uma esquadra de seis navios e os Chineses uma de sessenta, para, unidas, irem dar batalha à do pirata.

Mais uma vez o infatigável desembargador Arriaga entrou em acção e lançando mão de todos os recursos da cidade conseguiu armar mais quatro navios mercantes que estavam no porto. Eram eles: o Inconquistável, de 26 peças e 160 homens de guarnição, cujo comando foi confiado a Alcoforado, também comandante da esquadra; o Indiana, de 24 peças e 120 homens de guarnição, do comando do alferes Anacieto José da Silva; o Conceição, de 18 peças e 130 homens de guarnição, do comando de Luís Carlos de Miranda; o São Miguel, de 16 peças e 100 homens de guarnição, do comando de Constantino José Lopes. Todos eles, assim como o Belisário, de que era comandante o alferes José Félix dos Remédios, eram navios de três mastros com mastaréus de gávea e de joanete, portanto equivalentes às corvetas de guerra. A lorcha Leão, talvez por causa das avarias sofridas no primeiro combate, não foi utilizada, sendo o bravo Gonçalves Carocha nomeado comandante do brigue Carlota.

Em princípios de Novembro de 1809 largou a nossa esquadra com destino à Boca do Tigre a fim de se juntar à chinesa que pela mesma altura deveria ter saído de Cantão. Porém, poucas horas depois de ter deixado Macau, foi interceptada pela esquadra do Quan Apon Chay, com a qual travou um novo combate, que durou cerca de nove horas. Depois de terem tido quinze navios afundados a tiro de canhão e ficado com muitos outros destroçados, os piratas retiraram. Mas recompuseram-se rapidamente e a 11 de Novembro voltaram ao ataque, sendo novamente repelidos com pesadas perdas. Não tendo aparecido a esquadra chinesa de Cantão, a nossa recolheu a Macau.

Nos primeiros dias de Janeiro de 1810 Alcoforado voltou a fazer-se ao mar, travando mais dois combates, nos dias 3 e 4, com a esquadra do Quan Apon Chay. Tal como acontecera nos encontros anteriores, preponderou a potência de fogo da nossa artilharia e mosquetaria, que não permitiu que os chineses concretizassem nenhuma das repetidas tentativas que fizeram para abordar os navios portugueses. Mas Quan Apon Chay não se deu por vencido e a 21 de Janeiro lançou-se em massa, com mais de trezentos navios, sobre a nossa esquadra, disposto a jogar tudo por tudo. O embate foi terrível! Manobrando habilmente os seus navios por forma a conservarem-se a barlavento e disparando incessantemente os seus canhões e os seus mosquetes, os portugueses conseguiram manter o inimigo à distância, ao mesmo tempo que lhe iam provocando grandes estragos e inúmeras baixas.
A dada altura o Conceição encalhou, ficando em risco de ser abordado e tomado. Foi em seu auxílio Gonçalves Carocha com o Carlota e conseguiu desencalhá-lo, tirando-o da difícil situação em que se encontrava.

Notou então Alcoforado que no centro da esquadra inimiga se encontrava um grande junco transformado em pagode onde deviam ser transportados os símbolos da religião dos piratas. Pensando que se o conseguisse afundar o moral destes ficaria consideravelmente abalado, concentrou sobre ele o fogo da artilharia do seu navio. Atingido repetidamente, o pagode começou a desmanchar-se, a meter água e, por fim, afundou-se. Conforme Alcoforado previra, ao verem-no desaparecer, os restantes navios do Quan Apon Chay, na sua maior parte já muito maltratados, deram a batalha por perdida e começaram a afastar-se dos nossos. Nestas circunstâncias viu-se aquele obrigado a refugiar-se no rio Hiang San, onde os portugueses não puderam entrar por terem maior calado, ficando fundeados à entrada da barra.
Decorridas cerca de duas semanas Quan Apon Chay mandou dizer a Alcoforado que estava disposto a negociar. Que lhe mandasse um emissário. Não esteve este com meias medidas. Meteu-se sozinho numa embarcação e foi ele mesmo ao junco do pirata que se encontrava rodeado por toda a sua esquadra! Quan Apon Chay ficou estarrecido perante tanta coragem e ao mesmo tempo lisonjeado pela confiança que o nosso comandante depositava nele. E como também era um homem corajoso e honrado, declarou a Alcoforado que na realidade a sua intenção, quando propusera negociações, era distrair os portugueses para tentar furar o bloqueio, ainda que perdesse parte dos seus navios. Mas considerando a forma como se tinham batido e a demonstração de confiança que lhe tinham dado, mudara de ideias e estava agora disposto a entrar em negociaçoes de paz com o Imperador da China. Para tal solicitou a mediação portuguesa e que o encarregado directo dela fosse o desembargador Arriaga. Tal era o prestígio de que este desfrutava entre os Chineses.

Deslocou-se o desembargador ao rio Hiang San juntamente com os delegados do Imperador e a 21 de Fevereiro de 1810 firmou-se um tratado de paz, mediante o qual Quan Apon Chay se comprometia a entregar toda a sua esquadra e a reconhecer sem reticências a autoridade do Imperador. Em contrapartida, por sugestão de Arriaga, era aquele investido no cargo de almirante-mor da armada chinesa gozando de inúmeras regalias. Desta forma ficou salva a face de todos. Uma verdadeira obra-prima de diplomacia oriental!

A 20 de Abril teve lugar a entrega formal das forças do Quan Apon Chay, num total de duzentos e oitenta navios, duas mil peças de artilharia e vinte e cinco a trinta mil homens. Os Portugueses nada quiseram para si, além dos navios que tinham capturado durante o último combate, o que, mais uma vez, assombrou os Chineses.

Mais tarde Quan Apon Chay visitou Macau com uma esquadra de sessenta juncos festivamente embandeirados. Recebido com todas as honras no leal Senado, disse, referindo-se a Gonçalves Carocha:
- Eis o homem que mais danos me causou; ele só e a sua lorcha [durante o primeiro combate] inquietava toda a minha esquadra. Mas quem pode igualar os Portugueses!


Saturnino Monteiro                
em «Batalhas e Combates da Marinha Portuguesa» (Vol.VIII)


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« Última modificação: Dezembro 23, 2008, 11:38:25 pm por André »

 

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« Responder #220 em: Dezembro 15, 2008, 12:29:08 pm »
A última carta de Afonso de Albuquerque ao Rei de Portugal

Afonso de Albuquerque, O César do Oriente como lhe chamavam, veio a falecer à vista de Goa, em 16 de Dezembro de 1515, não sem saber que na cidade o aguardava para lhe suceder um dos seus mais acérrimos inimigos pessoais: Lopo Soares de Albergaria enviado pelo rei D. Manuel I.
Profundamente ofendido e desgostoso, Afonso de Albuquerque deu graças a Nosso Senhor e disse: «Mal com os homens por amor a el-rei com el-rei por amor dos homens, bom é acabar». Os seus padecimentos haviam-se agravado, e sentido-se morrer ditou para D. Manuel a seguinte carta:

«Senhor: quando esta escrevo a Vossa Alteza estou com um soluço que é sinal de morte. Nesses reinos tenho um filho e peço a Vossa Alteza que mo faça grande, como meus serviços merecem que tenho feito com minha serviçal condição; porque a ele mando, sob pena de minha benção, que vo-lo requeira. E quanto às coisas da Índia não digo nada, porque elas falarão por si e por mim».

E efectivamente, as coisas da Índia falaram.
A Afonso, a história relembra-o como a maior figura da Expansão Imperial Portuguesa, excelente militar, político, diplomata, governador.
Por todos respeitado e temido. Um homem "maior que a vida"!

Ao rei, esse, todos o tomaram por mesquinho e fraco, não merecedor de tão valioso vassalo...
 

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TOMSK

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« Responder #221 em: Dezembro 16, 2008, 12:12:23 am »
"O Governador D. João de Castro, depois de despedir seu filho D. Álvaro de Castro, ficou dando ordem, e despacho a algumas cousas. E, como além de ser muito Cavaleiro, era fonfarrão, e roncador, sabendo que andava gente de Cambaya naquela Cidade, que forçado havia de escrever lá novas, deitou fama que havia de ir até à Cidade de Amadabá, e tomar ElRei às mãos, e que o havia de espetar, e assar vivo. E mandou fazer na ferraria (que ele muitas vezes visitava) uns espetos de ferro mui grandes, dizendo «que eram pera assar ElRei, e os seus Capitães»."

(Diogo do Couto, Década 6.ª).

 :wink:
 

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dremanu

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« Responder #222 em: Dezembro 16, 2008, 10:34:49 pm »
Adoro a história das Batalhas da Boca do Tigre. Brilhante a actuação dos Portugueses nessa situação.
"Esta é a ditosa pátria minha amada."
 

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nelson38899

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« Responder #223 em: Dezembro 22, 2008, 05:32:54 pm »
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Gualdim Pais
(Braga 1118 - Tomar 1195)

D. Gualdim Pais (Gaudinus, Galdinus ou Gualdinus, em latim), Grão-Mestre da Ordem do Templo em Portugal, de 1157 a 1195, foi o fundador do Castelo de Tomar

Em 1190, Tomar foi cercada pelos Almorávidas sob o comando do Rei de Marrocos, Yusuf I, mas Gualdim Pais conseguiu defender o Castelo contra forças bastante superiores, impedindo assim a invasão do norte do Reino por essa região.

Morreu em Tomar durante o ano de 1195 (1233 da era espanhola). Repousa na Igreja de Santa Maria do Olival, em Tomar, onde uma estela mural cobre um nicho que contém as cinzas do cavaleiro

http://www.viagensnotempo.com/perso2.html


"Que todo o mundo seja «Portugal», isto é, que no mundo toda a gente se comporte como têm comportado os portugueses na história"
Agostinho da Silva
 

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« Responder #224 em: Dezembro 22, 2008, 07:18:49 pm »
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o ano de 1195 (1233 da era espanhola)

 :?:  Alguem me pode explicar?
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"Tudo pela Nação, nada contra a Nação."