Caro Foxtroop discordo!
A Ministra da Saúde tem um discurso semelhante ao seu e eu tenho um colega que ganha o mesmo que eu e tem a ADSE, eu e a minha colega não temos direito. O meu colega queixa-se dos custos da ADSE e eu pergunto-lhe porque não deixa a ADSE, já que não é obrigatório!!!!
Já reparou que os maiores utilizadores das clinicas e hospitais privados do país são os funcionários públicos? Se criticam tanto os privados, acabem com a pouca vergonha da ADSE, porque esta não é certamente para fazer co-pagamentos aos SNS!!!!
O Zé povinho que não é funcionário público, espera e desespera por uma consulta no SNS ou por uma operação. Já os funcionários públicos ou quem tem a carteira recheada (porque aí concordo, um seguro de saúde é muito bom quando não precisamos dele), se vir que a fila do São Teotónio é grande (Viseu) vai ao lado à CUF, que a ADSE paga!!!!
Para cúmulo, ainda corre um sério risco de acontecer a pouca-vergonha do médico que não pode atender no Hospital, ser aquele que rapidamente dá a consulta na CUF sem filas de espera!!!!
Isto sim é uma pouca-vergonha que de ético não tem nada, que é um médico trabalhar num Hospital em ritmo deixa andar e depois vai dar consultas para uma clínica/hospital a receber 50, 70, 100€ por consulta, e a funcionar a uma cadência sem paragem!!!!!!
Podia dar-lhe muitos exemplos do que se passa.... e muito mal no reino da saúde.
Até na educação, a nossa Escola continua com aulas on-line (12º acabou as aulas em Janeiro, já defenderam o seu projecto antes do confinamento e falta apenas o estágio), não íamos ter aulas presenciais para o 11º e on-line para o 10º e a írmos buscar os alunos porta-a-porta a 20 concelhos!!!! Aqui não há transportes públicos pagos pelo estado. Somos uma Escola privada, apesar de uma autarquia ser o accionista que controla directa e indirectamente 99,50% do capital social, e não tivemos 1 máscara dada, nem gel, nem a desinfecção feita pelo exército, temos de pagar tudo do mesmo orçamento de 2009 e termos que lidar com aumentos obrigatórios!!!!!
Como vê há sempre pelo menos 2 realidades e olhe que ambas pagam as mesmas taxas de IRS!!!!!!
Caro Viajante, sinceramente não percebo no que não concorda comigo. O que colocou acima é justamente a defesa de tudo o que eu disse. Que deve existir um SNS único e devidamente equipado e financiado e que esta mama dos "privados" que de privados nada têm pois vivem à conta das negociatas entre publico e privado e, no dia em que o Estado lhes faltar, simplesmente vão à falência.
ADM e ADSE não têm feito nada mais do que financiar privados indirectamente e casos como o que referiu de médicos de um lado atrasarem deliberadamente consultas e intervenções no publico ao mesmo tempo que "aconselham" a ir à clinica privada onde também trabalham porque lá "resolvem na hora", assisti eu directamente, ao vivo e a cores no Hospital de Marinha!!
Quanto ao que refere sobre as escolas, a minha esposa é professora externa (AKA recibos verdes) no ensino profissional e sinceramente, a realidade das escola profissionais privadas que na realidade são publicas porque sem financiamento publico simplesmente fecham, é algo que me transcende e escapa a qualquer lógica que a minha mente tente sobre o assunto. Em algumas delas, desde arrastar alunos deliberadamente de modo a não perder financiamento a ginásticas orçamentais que roçam a ilegalidade, há de tudo.
Caro Foxtroop, eu não sou contra o sector privado, muito pelo contrário. É aí que divergimos. O que eu sou contra é a promiscuidade entre o sector público e privado. De pessoas que estão num lado e no outro, isso é que me choca.
E uma vez que falamos da saúde, é bom recordar, que tirando os grandes grupos do sector da Saúde, todas as clínicas pertencem a pessoas da área da saúde, médicos e enfermeiros. Não é um sapateiro que abre uma clínica.
Devem ser raros os médicos directores de um Hospital Público, que não deêm consultas nas suas clínicas. E isso é profundamente errado. Numa empresa 100% privada, e o foxtroop sabe isso com certeza, se você tiver um contrato com uma empresa e trabalhar também para a concorrência, pode crer que se a empresa descobre coloca-o na rua com justa causa!!!! Isso no estado é impossível, os médicos são “sagrados”! E nem percebem que são eles os coveiros do SNS, porque lhes interessa que o SNS não funciona, para terem mais consultas nos seus consultórios!!!!!
Em relação ao ensino profissional, conheço profundamente, porque já cá estou desde 2000. Pelo que descreve, a sua esposa fará parte de uma Escola Profissional da região de Lisboa e Vale do Tejo!? Já que é a única região que ultrapassa como um todo a riqueza média da UE e dessa forma só pode ser financiada pelo Orçamento de Estado.
Estranho que esteja fechada, nós continuamos a funcionar on-line, dentro de 2 semanas terminam as aulas de todas as turmas, através da plataforma ZOOM. Todas as Escolas profissionais que tenho conhecimento, só reduziram a sua actividade nas cantinas e motoristas. De resto os professores continuam a leccionar e a receber pelas aulas on-line. Ontem mesmo fiz as transferências dos salários de Maio!
Já outro problema que a sua esposa sente na pele (e a minha também, porque recebe uma “fortuna” em regime de recibos verdes), prende-se com o magro financiamento das Escolas Profissionais, que é exactamente o mesmo desde 2009, desde o tempo que o amigo Sócrates cortou em 5% o financiamento das turmas, que o valor mantém-se!
O Financiamento do Ensino Profissional, excepto Lisboa que vem do Orçamento do Estado, em todo o resto do país e ilhas, é pago em 85% pelo Fundo Social Europeu e só 15% pelo Orçamento de Estado (o estado vai buscar muito mais no IVA, Segurança Social, IRS……). As Escolas Profissionais são muito pequenas no norte e centro (até 200 alunos) e só atingem uma dimensão grande à volta de Lisboa e no Alentejo. Todas estas escolas assinam um contrato com o Ministério da Educação e da Segurança Social onde na prática estão proibidas de terem mais receitas que não seja o financiamento acordado, que varia de 76 076€ e os 93 974€ (depende se é mais teórico ou prático), por turma e por ano (desde 2009). Como deve imaginar, no máximo há 32 a 35 semanas lectivas necessárias para esgotar as quase 1 100 horas anuais por turma (7h por dia e horas são mesmo 60 minutos e não 45 ou 50 como nas Escolas Públicas). Se você tiver só professores a tempo inteiro (um luxo para uma Escola Profissional e já explico porquê), sabe que em 32 semanas lectivas por ano, só lhe pode atribuír no máximo 22 a 25h por semana, o que perfaz que esse professor só vai leccionar 700 horas por ano. Quer isto dizer que precisa de 2 professores por turma para garantir que leccionam as 1100 horas. Os professores do ensino profissional ou têem o CAP ou são profissionalizados. Um licenciado profissionalizado começa a ganhar 1 152€ e termina a carreira com 3 053€, mas vamos só considerar um com 5 anos de experiência a ganhar 1 416€ (1 416€ x 14 meses x 1,2375 por causa dos descontos da Segurança Social da entidade + 1 100€ de subsídio de refeição), tem quase 26 000€ por ano e por professor a tempo inteiro. Como precisa de 2 por turma, já lá vão 52 000€ em salários dos professores. Pergunto eu como é que as escolas vão pagar com os restantes 20 e tal mil euros os auxiliares, a direcção, as rendas, os leasings, o equipamento, material, consumíveis, a energia eléctrica (que agora paga IVA a 23% e não podemos deduzir)…. Está a ver o grave problema das Escolas?
Por esse motivo as escolas optam pelos recibos verdes! Que só recebem em função das horas que leccionam. No nosso caso pagamos o mínimo de 15,16€ (não profissionalizados) até ao máximo permitido por lei que são 20€ por hora para o nível 4 (Ensino de dupla certificação e equivalente ao 12º ano), mais IVA se estiver sujeito a IVA. Dessa forma a Escola consegue garantir as 1 100 horas de aulas por um preço mais comedido de (1 100h x 20€/hora) 22 000€, muito longe dos 52 000€ com professores a tempo inteiro!!!!! E já nem vou pelos professores do último escalão (3 053€ por mês), em que só um custa 54 000€ por ano (3 053€ x 14 meses x 1,2375 + 1 100€ para alimentação). Relembro mais uma vez que as Escola só tem 76 a 93 000€ por cada turma, para pagar todas as despesas, excepto as despesas directas dos alunos (todos os gastos com a alimentação, transporte e seguros dos alunos é pago mediante os comprovativos dessas despesas (passes, assistência às aulas, só tem direito a alimentação se cada aluno assistir pelo menos a 3 horas por dia).
Está a ver porque as Escolas Profissionais têem poucos ou nenhuns professores a tempo inteiro? Simplesmente não podem pagar, não há dinheiro para tal.
Referiu as retenções…. Essa é outra história, uma turma tem de ter no mínimo 20 alunos por turma. Cada aluno a baixo de 20, há um corte de 3,33% do valor da turma, e se tiver 14 alunos, tem de acoplar a outra turma (passa a receber o financiamento de 1 turma mais desdobramentos)..... cada aluno conta! Para além de que pelo menos 85% dos alunos tem de passar de ano, pelo menos 65% tem de concluir o 12º ano e pelo menos 60% tem de estar empregado ou a estudar no prazo máximo de 6 meses depois de terminar o curso, caso contrário diga adeus a turmas dessa área!
E já nem adianto muito em relação às despesas não elegíveis (que a Escola paga e o POCH corta). Se fizéssemos como o estado que primeiro compra e só depois publica o concurso dá direito a corte da despesa a 100%! Quando começar o ano lectivo, o resultado final dos concursos públicos já têem de estar publicados no base.gov, caso contrário todos os pagamentos são cortados a 100%!