Passou-me ao lado essa a parte sobre o Scirocco e o que os alemães têm a ver com esse negócio. Discordo é que os alemães/franceses/italianos/espanhóis sozinhos consigam tão facilmente fazer negócios em países da CPLP quando comparado com Portugal ou Brasil. A língua e as "amizades" ainda têm algum impacto, mas já o Brasil não precisa das "amizades" portuguesas. Os ucranianos e russos safam-se porque já existe uma relação de longa data e porque os países africanos já estão habituados à logística/treino soviética.
Essa de comparar a AutoEuropa com a Embraer PRT é que é. (Será que os brasileiros aceitam carros como pagamento pelos 390 como os malaios queriam fazer com a Indonésia?) Mais pelo facto do meu problema não é o facto da Embraer ter recebido fundos mas porque praticamente toda a gente desvaloriza esses fundos e o acesso a tecnologia e mão-de-obra qualificada. Dizem depois que Portugal tem de "pagar" de volta o facto de termos cá a fábrica.
Também (não) faz muito sentido comparar a AutoEuropa, dos anos 90, e as suas congéneres da indústria automóvel, onde existiu uma maior troca de tecnologia e conhecimentos dos restantes países europeus para Portugal, com esta iniciativa da Embraer onde aconteceu exactamente o oposto, uma transferência enorme de tecnologia europeia e de mão-de-obra qualificada de Portugal para o Brasil. E reconhecendo que qualquer tecnologia é valiosa, a verdade é que tecnologia de última geração da área da aviação militar é mais valiosa ainda.
Chegamos depois à parte da aquisição do produto. Até porque é isso que está aqui a ser discutido no fundo da questão. No caso da AutoEuropa estamos a falar de carros que são adquiridos principalmente por indivíduos enquanto no caso do 390 estamos a falar de seis aeronaves que serão exclusivamente adquiridas pelo governo. No caso de seis carros para o governo estaríamos a falar de veículos que seriam operados durante 5-10 anos antes de serem comprados outros novos. No caso destas aeronaves são meios que vão ficar em serviço cerca de 35-40 anos.
Repetindo-me: Portugal, com o acesso que permitiu da indústria brasileira a tecnologia luso-europeia e mão-de-obra qualificada, já pagou o valor de duzentos 390, quer mais o valor de seis unidades e o valor monetário de existir um país membro da NATO a operar a aeronave. Por isso por favor deixem de vez essa ideia que temos de comprar o 390 só porque temos uma fábrica cá. Sabendo que não é possível mudar a opinião dos jornalistas e prevenir o copy-past que eles fazem aos press releases, seria porreiro pelo menos dar oportunidade ao Zé Povinho de não deixar-se cair nessa cantiga.
Cumprimentos,