Antes de mais, eu vou votar sim.
A posição do Professor Marcelo (a quem até costumo ouvir com gosto e atenção) é, a meu ver, de uma profunda desonestidade intelectual.
Ao menos, o Marques Mendes (a quem habitualmente considero intragavelmente irritante) teve uma posição mais directa, como podem ver
aqui.
Há um fundamento de opinião moral ali, classifica o aborto como "um acto arbitrário e injustificado que destrói um ser humano" pelo qual está disposto a mandar pessoas para a cadeia.
Obviamente não concordo com ele, nem há factos que aprovem a ideia que depois de despenalizado o aborto se torne num "mecanismo de desresponsabilização social", uma forma de planeamento familiar. Mas a opinião moral é clara e defensável.
A do Marcelo Rebelo de Sousa resume-se a algo como "sou contra a penalização das mulheres mas vou votar não porque a pergunta no referendo não é a que devia".
A pergunta no referendo é exactamente se as pesssoas devem continuar a ser penalizadas por isso! Ou dito de outra forma: estamos suficientemente convictos que há ali uma vida que deve ser protegida a todo o custo, obrigando a mãe a levar até ao fim uma gravidez indesejada e prendendo as pessoas que abortam?
A meu ver, é tão simples e clara quanto isso.
Já agora, tenho uma dúvida: muitas pessoas têm manifestado que vão votar "não" porque temem uma "liberalização total" do aborto.
Este é o meu entender do efeito de uma vitória no "Sim": deixando de ser crime, o aborto até às 10 semanas em establecimento médico autorizado passa a ser um acto médico a necessitar de regulamentação pelas entidades competentes.
Uma vez regulamentado, isso significará que as mulheres que o desejarem poderão fazer um aborto após uma ou duas consultas de avaliação mas, no fundo, sem grandes entraves.
É isto que entendem por "liberalização total" do aborto?
Em que termos votariam "Sim" a uma despenalização do aborto?