A crise em Portugal tem razões diferentes. São processos diferentes, porque se trata de países diferentes.
A importância educativa do tópico «A verdade sobre a economia espanhola» consiste em demonstrar com notícias variadas, que o que se dizia há dois anos sobre a Espanha e sobre Portugal, era mentira.
Este tópico destinou-se a mostrar aos descrentes que ao contrário do que diziam alguns políticos e alguns sectores da sociedade, não há vantagem nenhuma em estabelecer relações primordiais com a Espanha.
O desenvolvimento económico espanhol era resultado de uma bolha especulativa movida pela construção civil. Foi isso o que imensas vezes foi aqui referido, e normalmente contradito por alguns participantes espanhóis.
Que quando a crise chegasse aEspanha ela iria afectar Portugal, é algo que qualquer estudante do primeiro ano de economia poderia prever. É tão óbvio que nem merece comentário.
A questão que se coloca é a da dimensão do choque que a economia espanhola sofre.
E isso é especialmente visível no incrível aumento do desemprego em Espanha e na Irlanda.
Trata-se de países que sempre tiveram dificuldade em encontrar lugar para todos os seus cidadãos (e o problema também se estende a Portugal) e o seu passado recente parecia fazer crer que o problema era nosso e que os outros tinham encontrado formas de sair desse ciclo vicioso.
Os resultados dos números divulgados, mostram que não foi o que aconteceu. O «milagre» espanhol ou irlandês eram uma ilusão.
Nós não ficamos mais ricos com os problemas dos outros. O que afirmo é que a diferença entre nós e eles não é de facto tão significativa quanto muitos nos quiseram fazer crer.
Quem for a Espanha e conhecer o país nos últimos anos, sabe que os salários subiram, mas sabe também que os preços ao consumidor aumentaram muito.
Embora algumas pessoas nos tivessem feito crer o contrário, comparando os preços de uma pequena cidade como Elvas, com os de uma cidade média como Badajoz (média para Portugal, claro) as coisas não eram assim.
Eu não comparei nunca os preços da fronteira espanhola com os preços do pequeno comercio de Elvas, mas sim os preços dos supermercados espanhóis com os preços dos supermercados em Setúbal.
E em Portugal, nas regiões onde se encontra a maior parte da população (Lisboa, Setúbal, Braga e Porto) os preços são mais baixos. Os preços em Setubal são mais baixos que em Elvas. A diferença nota-se muito mais na fronteira.
Os espanhóis que se aventuravam a passar da «raia» e a chegar ao Porto ou a Lisboa, entendiam que de facto os preços ficam mais baratos à medida que se chega aos maiores centros urbanos portugueses.
Isto quer na prática dizer que, os salários mais altos em Espanha, têm como contrapartida um custo de vida também mais elevado.
O resultado é simples: Para um trabalhador de classe média, e mesmo classe média baixa é preferível Portugal a Espanha.
E isto já era assim há alguns anos, mesmo sem a crise espanhola.
É claro que para os 20% de trabalhadores portugueses sem qualquer qualificação, a Espanha era melhor que Portugal porque lá ainda havia trabalho que os espanhóis não queriam fazer.
Esses 20% da população portuguesa continuam aí e nós continuamos sem saber o que lhe fazer. O problema é que com a Espanha, utilizámos o velho esquema de varrer o problema para debaixo do tapete (sendo o tapete a Espanha). Agora o tapete ardeu, e é por isso que a crise espanhola também nos afectará.