Vila de Rei: Alguns já regressaram ao país de origem
Brasileiros com dificuldade para sobreviver no Interior
Atravessaram o Atlântico sonhando com uma vida desafogada mas depararam-se com uma realidade bem diferente. Os 14 imigrantes brasileiros que vieram para Vila de Rei ao abrigo de um acordo entre a autarquia local e a prefeitura de Maringá, no Brasil, estão a passar dificuldades para sobreviver porque “os ordenados não chegam para as despesas”.
Das quatro famílias que se estabeleceram em São João do Peso, apenas uma continua na aldeia. As outras mudaram-se para a sede do concelho e para a Sertã – e uma acabou por regressar ao Brasil por não se ter adaptado à região.
“Quem pensar que vem para Portugal para enriquecer está muito enganado. Aqui tem-se melhor qualidade de vida e mais segurança mas, por agora, vivemos com dificuldades”, desabafou ontem ao CM Cecília Fraga, de 42 anos, que mora com os dois filhos em Vila de Rei. “Encontrei aqui uma casa e estou mais perto da escola onde estudam os meus filhos”, explicou a imigrante, que trabalha como secretária numa empresa de construção civil e colabora num jornal regional. A brasileira diz que já “estava à espera” de, no princípio, “passar por dificuldades”. Salienta, no entanto, que a autarquia “está a cumprir as promessas que fez”. “O que nos vale é que temos apoio de muitas pessoas que nos dão legumes e outros bens”, conclui.
As quatro famílias começaram por morar numa residência que a câmara lhes disponibilizou mas, “por falta de privacidade”, cada uma arrendou uma casa. O casal Letícia (de 35 anos, grávida de cinco meses) e Marcelo Duarte, de 32 anos, trabalha no Centro de Acolhimento de São João do Peso e arrendou uma casa na aldeia. Ambos dizem que estão “felizes” em Vila de Rei e garantem que tencionam continuar em Portugal.
Irene Barata, presidente da Câmara de Vila de Rei, não ficou surpreendida por uma família ter regressado ao Brasil porque “não é toda a gente que aguenta uma mudança de vida tão brusca”. “Por aquilo que sei, eles tinham muitas saudades do resto da família. Nós cumprimos tudo o que prometemos”, diz a autarca, adiantando que em Janeiro está prevista “a chegada de mais brasileiros”.
TRABALHADORES E SIMPÁTICOS
A população de São João do Peso, na maioria constituída por pessoas idosas, só tem a “dizer bem” das famílias brasileiras que se estabeleceram naquela aldeia. Maria da Graça Pires, presidente da junta local, já estabeleceu “laços de amizade” com os imigrantes e ficou “muito triste” quando os três que regressaram ao Brasil foram despedir-se dela. “Eu não estava a contar mas, pelos vistos, não se adaptaram à nossa realidade e regressaram a casa. Foram à sua vida”, diz a autarca, adiantando que os que ficaram “estão a fazer pela vida”.
Os imigrantes brasileiros rapidamente se integraram no modo de vida dos habitantes de Vila de Rei e no mercado de trabalho. João Firmino, presidente do Centro de Acolhimento de S. João do Peso – onde trabalha um casal – considera-os pessoas “trabalhadoras, simpáticas e responsáveis”. “Aqui na aldeia toda a gente gosta deles e os apoia”, assegura António Simões, proprietário do Café S. João.
PORMENORES
REPOVOAMENTO
As primeiras famílias oriundas da cidade de Maringá chegaram a Portugal no início do mês de Maio. Fazem parte do projecto idealizado pela presidente da Câmara de Vila de Rei, que tenta repovoar aquele concelho.
PROMESSAS
A autarquia prometeu-lhes visto, trabalho onde iriam auferir o salário mínimo, habitação e, nos primeiros dias, os bens alimentícios. Os imigrantes assinaram o acordo ainda no Brasil.
MANIFESTAÇÃO
A chegada dos brasileiros causou alguma polémica entre os habitantes, que na altura se queixaram da falta de emprego. O Partido Nacional Renovador (PNR) chegou a realizar uma manifestação de protesto na vila.
Luís Oliveira correio da manha 25/09/2006
Como se pode ver, a vida no interior de Portugal, não é fácil, nem para os que cá nasceram, nem para aqueles que vêm à procura de uma melhor vida....