Do jn online de 11/07/2006
O fémur do Fundador
Sérgio de Andrade, Jornalista
TSão só contrariedades! Perdemos com a França por causa de um árbitro uruguaio meio ceguinho, sofremos insultos de cavalgaduras que escrevem em jornais de Londres e de Paris, vimos desfeitear o "nosso" Ronaldo, aguentámos as agressões sexuais do bruto que é Rooney e as fantasias sexuais do carroceiro que é Domenech - e, como se a nossa capacidade de sofrimento ainda não se estivesse esgotado, veio o presidente do Instituto Português do Património Arquitectónico e deu-nos o golpe de misericórdia não permitiu que se vasculhasse o que possa restar de D. Afonso Henriques - e assim ficaremos privados de saber coisas tão interessantes como apurar se o homem media, ou não, dois metros e se, no cerco de Badajoz, fracturou um fémur, ou apenas uma tíbia.
A julgar pelo relevo que ao caso deram os órgãos de comunicação social, o que sucedeu é extremamente grave. Mais grave do que a subida estonteante do «crude», do que a ameaça de uma 3.ª guerra desencadeada pela Coreia do Norte ou dos golpes que, sem cessar, o Governo desfere sobre a máquina do funcionalismo público. Dir-se-ia que, saindo embora estonteado do pesadelo que foi o desfecho do «Mundial», o país inteiro conseguiu reunir forças bastantes para se preocupar com o malogro da «Operação D. Afonso Henriques».
A coisa não é para menos, pois enfrentamos a frustração de uma trupe de gente especializada em coisas tão complicadas como palio-dietas e epigrafia que se propunha, de certo modo, profanar o túmulo do Fundador da Nacionalidade para saber se ele fazia dieta, ou para esboçar mesmo o seu retrato-robot. Ainda acredito que a ministra da Cultura vai reconsiderar e permitir o estudo dos restos mortais do filho do conde D. Henrique e de D. Teresa, quando mais não seja para que Portugal inteiro possa voltar a dormir descansado. Haja fé aí, ao menos, pois que a fé na vitória no «Mundial» já se foi!
PS - Calculo que, a estas horas, os incondicionais de tudo o que seja culturalmente esotérico estejam a chamar-me ignorante, retrógrado, obscurantista ou outras coisas ainda piores. Mas a verdade é que, terra-a-terra que sou, acho que o país tem mais com que se preocupar do que com o ADN de D. Afonso Henriques.
Sérgio de Andrade escreve no JN semanalmente, às terças-feiras
p.s.-proverbio monarquico
povo tende cuidado com os republicanos
pois eles vendem-nos a rês e ficam-nos
com o dinheiro