1. Bairrismo
Um dos problemas quando se discutem ideias, em Portugal, é que sofremos dum mal terrível, chamado bairrismo.
A rivalidade Lisboa-Porto (e muitas outras), que é muito alimentada pelo futebol.
O bairrismo faz com que um cidadão do Porto menos esclarecido não compreenda que o desenvolvimento de Lisboa só traz vantagens.
E vice-versa.
O problema da concentração de pessoas e empresas em Lisboa e no Porto (e outros pontos) , básicamente no Litoral, é que como está claramente á vista, sofremos dum gravíssimo problema de falta de planeamento urbano, de planeamento em larga escala. "Built to last."(Algo que ainda não está bem interiorizado na mente do português)
O português ainda não compreende o conceito de Grupo.
O bairrismo no fundo equivale a tribalismo. O que é perigoso, porque Portugal já é suficientemente pequeno e irrelevante internacionalmente. Divisões internas adicionais complicam tudo.
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2. (A Ausência de) Planeamento Urbano das Cidades
Faz-se uma avenida com 2 faixas, sem se perceber que no futuro a mesma avenida necessitará de 3 ou 4 para o transito fluir.
Como é óbvio, a compra de bairros inteiros com o propósito de demolição para construção de artérias vitais (para resolver o estrangulamento) é algo que é tão dispendioso que está fora de questão.
Este tipo de situações normalmente só acontece com expropriações que obviamente não são bem aceites.
Recuperar uma cidade mal desenhada é uma tarefa hercúlea.
A somar ao problema temos uma situação de excesso de uso de viatura pessoal, em parte compreensível por uma ausência dum serviço de transportes verdadeirmente amplo, em parte porque o português está perfeitamente obcecado pelo automóvel, e o vê como uma espécie de símbolo de identidade pessoal, sem compreender que uma cidade com um sistema de metro verdadeiramente moderno e eficiente é infinitamente mais comfortável e barato, mas apenas se pensado em larga escala e com o objectivo de servir o máximo número de cidadãos possível.
E não esquecer a enorme quantidade de dinheiro que é enviada para o estrangeiro, cada vez que um automóvel é adquirido, dado que a Indústria Automóvel Nacional é inexistente.(Para os fans da Ford-Volkswagen e afins, gostava de frisar que nenhuma empresa vem para cá para fazer caridade, e que o lucro, após pagos impostos e salários, vai direitinho para os cofres da empresa, no estrangeiro, como é óbvio.)
O português que compra o automóvel não compreende portanto, que no seu acto individual está a prejudicar o seu país, (O grupo!), porque nem sequer consider a hipotese, de que ele mesmo, pertence a esse grupo, quer queira quer não. (Isto é o Individualismo em acção , ou seja o Bairrismo/Tribalismo levado ao extremo).
Portanto enquanto não existir uma Indústria Automóvel NACIONAL, o uso do Transporte público é a opção mais económico-patriótica possível.
(Ou se preferirem, agora está na moda dizer Nacionalismo Económico.)
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3. Dimensão
Portugal , sendo tão pequeno e tendo poucos recursos (não me refiro a recursos minerais) perde bastante se enveredar por uma política de governo verdadeiramente descentralizado, como já foi referido inúmeras vezes, a duplicação de tarefas, e sobretudo a ausência de coordenação entre as mesmas.
Dou um exemplo. A área metropolitana do Porto, tem em números muito redondos, qualquer coisa como 1,5 milhões de habitantes, contudo a gestão desta área é dividida por variadas câmaras com inúmeras chefias, inúmeras decisões, inevitávelmente contraditórias.
Hipotéticamente, a fusão de todas as Câmaras numa só permitiria que todo o planeamento fosse feito duma forma clara pensando a área como uma só, (que é de facto). Desenhando toda a rede de transportes e serviços municipais duma forma perfeitamente orgânica no Todo.
Mas outra vez, o bairrismo persiste, o municipe do município X nunca aceitaria ver o SEU município "desaparecer". Encararia isso como um ataque pessoal, sem perceber que os destinos da sua area metropolitana afectam-no,por exemplo, porque nomeadamente muito provávelmente tem um emprego num município vizinho. Queixa-se de que perde muito tempo da sua vida quando se desloca ao seu local de trabalho sem compreender que o controlo do planeamento é dividido. Que por exemplo os problemas de estacionamento em Lisboa não interessam ao Presidente da Câmara de Oeiras, visto não pertencer ao seu município.
Como o tempo perdido na deslocação é elevado, cria-se uma falsa noção de distância, como se o outro município fosse longe, quando no fundo é ao lado. Por exemplo, o que se designa por Moscovo central, tem um raio de 25 km. Mas pouco importa se um cidadão vive num extremo da cidade e trabalha no outro extremo, pois se utilizar o metro, rápidamente lá chega.
Outra questão: Devido a Portugal ser um país pequeno e economicamente fraco, uma empresa monopolista Portuguesa, lá fora, é uma formiga, contudo ainda assim a legislação Europeia ataca-la-á com toda a força. Isto é extremamente complicado. Para quem como eu, acredita que, ao contrário do que muita gente diz, a solução Económica reside em Grandes Grupos Industrais, e não, Pequenas-Médias Empresas (Que invariávelmente pertencem á area dos Serviços.)
Aliás por definição, Indústria é algo em larga escala. Favorecer Pequeno e Médio , é automaticamente negar a Indústria. Uma Oficina não é uma Indústria.
É extremamente popular criticar os grandes grupos (quer dizer.. serão tão grandes assim?, para mim, parecem-me grupos internacionalmente insignificantes..). Não me recordo de ver um político que seja, vir a público dizer, "É imprescindível que Portugal tenha grandes grupos económicos". Ou seja, defende-se a mercearia e ataca-se a Fábrica.
O Português ainda não compreende que tem básicamente 2 opções, ou lida com Grandes grupos Portugueses, ou lida com Grandes grupos estrangeiros. (as tais multinacionais, que não são tão multi como isso).
Porquê esta obsessão no discurso polítco, esta vergonha de admitir uma ambição por grupos económicos fortes? Todos os países o fazem, "National Champions", quer o admitam quer não.
A legislação Europeia, com as suas leis anti-monopólio, favorece os estados de grande dimensão (económica,geográfica,populacional,etc) e prejudica os estados pequenos.
Posição dominante em Portugal = 5% 10% na Alemanha.
O Objectivo Secreto (nem é tão secreto como isso..) da Europa do Norte e manter a Europa do Sul fraca.
Enrico Mattei, o criador da ENI, foi assassinado. (e não foram os Russos)
http://en.wikipedia.org/wiki/Enrico_Matteihttp://en.wikipedia.org/wiki/ENI_S.p.A.
Podem ter a certeza que se surgir um indivíduo em Portugal que realmente tenha um plano para Industralizar Portugal, ou criar grupos a sério (com significado internacional), esse indíviduo corre risco de vida.
Pois se tal suceder, Portugal passa de país dominado por areas de influencia estrangeiras, a ser uma força independente.
Enrico Mattei era filho de um Carabinieri, e no fundo, acabou mesmo por "levar um tiro" pela nação.
Óbviamente os nossos Advogados-Políticos obesos, nunca se arriscariam a tanto. É melhor deixar como está , não fazer ondas e ter uma vida calma/comfortável. O País que se lixe.
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4. Poder
Regionalização no fundo, é a dispersão do Poder, algo que por muitos é encarado como uma extensão do pensamento democrático. Falem de concentração de poder (concentração da decisão), e arriscam-se a serem apelidados de fascistas.
Acontece que, num País de grandes dimensões, e com realidades muito diferentes, faz sentido haver alguma dispersão de poder.
Mas num País como Portugal que tem tão pouco Poder, dividir esse mesmo Poder é no mínimo suícida.
É como ter umas Forças Armadas com 50.000 homens, e decidir organiza-las em 50 Exércitos, cada um com 5 divisões de 200 homens. (Teria uma certa graça uma Companhia ser composta por 1 soldado. (Uma Companhia sem companhia!) No fundo, isto acontece um pouco, indirectamente, a quantidade absolutemente excessiva de chefias que Portugal tem, tanto no exército como na política etc.
Resta saber é o que é que afinal existe para chefiar!
Já agora, falando de Piramides de Poder, imaginem por exemplo o Antigo Egipto governado por 1000 Faraós em simultaneo, cada um a fazer a sua mini-piramide, 1/1000 ou 0,1% do tamanho da Grande Pirâmide.
http://en.wikipedia.org/wiki/Pyramid_of_KhufuTendo aproxidamente 138.75 metros, em numeros muito grosseiros, cada mini-pirâmide teria qualquer coisa como 13 centímetros.
Isto é apenas um exercício de hipótese, pois se houvesse divisão de poder naquela altura, a civilização egípcia pura e simplesmente não teria existido.
Tal como, se não houvesse concentração de Poder, no reinado do Rei D. João II, não haveria Portugal Quinhentista para ser governado por D. Manuel, D. João III, etc. Os Ingleses não beberiam chá, a Batalha de Diu (1509) nunca teria ocorrido, e o controlo do negócio das especiarias seria controlado pelos Turcos, Egípcios.
Voltando ao Presente, Portugal é um país étnicamente e linguísticamente , culturalmente, religiosamente, Homogéneo.
Portugal não é uma Alemanha nem uma Itália. E se esses países têm uma herança de regionalismo, isso tem motivos históricos. Portugal é uno e sempre o foi. (À custa de muita espadeirada.)
Partindo do princípio que, Centralização = Larga Escala, Regionalização = Pequena Escala, torna-se um bocado óbvio, que regionalizando os problemas de planeamento agravar-se-ão.E até numa perspectiva estética e de qualidade de vida continuaremos a ter cidades onde numa só rua existe um monumento histórico, rodeado por construção fraca dos anos 70/80, e imediatamente ao lado um prédio moderno, tudo com os mais variados estilos, dimensões, correntes arquitéctonicas, ideias sui generis do arquitecto faraó (piramide versão 13 centimentros claro), que dá um aspecto caótico á cidade, e lhe tira a identidade.
Por exemplo, aqui no Porto, para construir a Estação de São Bento, demoliu-se um convento antigo.Quer dizer, com governantes e arquitectos que praticam planeamento urbano á moda de Átila o Huno, destruindo a herança cultural.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Esta%C3%A7 ... %A3o_BentoA construção termina em 1916, portanto periodo Republicano (sim aquela altura com 1 governo por mês)
Portanto... muitos Chefes = Muitas decisões = Muito maior Probabilidade de decisões contraditórias, de remoínhos.
Eu acredito que é importante ter uma direcção qualquer que ela seja, boa ou má, mas que seja algo coerente, consistente, contínuo.
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5. Desenvolvimento
Eu acredito que é possível combater a Macro-Encefalia de Lisboa e Porto, com um governo centralizado, desde que, o governo o queira.
Isto aliás é um problema histórico, visto que no passado Lisboa foi sempre o grande centro, sem qualquer outra cidade para a rivalizar.
Eu penso ser do interesse de todos os portugueses, que se faça crescer cidades no interior, e que o Litoral cresça menos, para que haja um aproveitamento mais inteligente do território nacional que é um todo.
O projecto do TGV apesar de ser melhor do que se gastar o dinheiro em BMW's ou Audi's para governantes, é no fundo, um erro estratégico.
O TGV não desenvolve a Indústria, o TGV é inútil para transporte de mercadorias.
No meu entender o Comboio tem que existir para servir a Indústria em primeiro lugar,(porque o custo de transporte é infinitamente menor do que comparado com o transporte por camião(já para nem dizer que há certas coisas que um camião não transporta..) , e em segundo lugar para transporte de cidadãos, para não desperdiçar um investimento tão avultado que é, o comboio.
Com o custo do TGV, poder-se ia criar uma série de novas ligações ferroviárias a várias cidades do interior e até criar uma segunda linha vertical de Trás-os-montes ao Algarve, para verdadeiramente cobrir o territorio nacional.
Ora , estes grandes projectos , no meu entender não se tornariam mais próvaveis se houvesse regionalização, pois, somente o Governo central tem (será que tem? ou pede emprestado aos suiços?) capacidade financeira para tais investimentos.
Mas confundir a questão do TGV vs Alternativas(Uma rede nacional de comboios convencionais modernos), e equiparar isto a Centralização vs Regionalização é um erro.
A questão do TGV , tem mais a ver com uma opção duma Economia baseada em Serviços. O Modelo Económico Inglês (o publicitado claro, se verificaram a quantidade de empresas inglesas no sector mineiro e matérias primas... já se apercebem que estes senhores dão propaganda a um modelo de serviços quando no fundo praticam um misto de serviços apoiados por um sector primário fortíssimo).
http://en.wikipedia.org/wiki/Anglo_Amer ... 8mining%29http://en.wikipedia.org/wiki/BHP_Billitonhttp://en.wikipedia.org/wiki/Rio_Tinto_Grouphttp://en.wikipedia.org/wiki/BPhttp://en.wikipedia.org/wiki/Royal_Dutch_Shell-------------------------------------------------------
Por fim, o argumento que muitos cidadãos têm que a Centralização é terrível, porque depois têm todos que se deslocar a Lisboa quando precisarem de lidar com o Estado/Grande Município , é falso, porque.. o Estado ou um Grande Município, pode ter uma presença (balcões) espalhada, aliás, até pode ter muito mais presença, com o que se poupa em chefias.
Já em 400 A.C. dizia(Escrevia) Aristófanes:
"Ah! The generals! They are numerous, but not good for much! "
Em 2006 AD. penso ser este um dos problemas de Portugal.
Hoje em dia, a "Nobreza" é forte, e o "Rei" é fraco.
Augusto.