A seguir, um resumo de intervenções de Washington nas Américas Central e Latina, a partir do século 19:
1806: À frente de um pelotão, o capitão Z. Pike invade o México ao norte do Rio Grande, sob as ordens do General Wilkinson.
1822-23: O tenente Ramage desembarca em Cuba a bordo do navio Porpoise, na costa oeste da ilha, sob o pretexto de perseguir piratas. O Tenente Itribiling desembarca uma tropa de fuzileiros navais na costa oeste de Cuba, em Puerto Escondido.
1824: O mesmo Porpoise desembarca marinheiros nas cercanias de Matanzas, em Cuba, ainda sob o pretexto de perseguir a pirataria.
1825: Destacamentos dos navios Sea Gull e Gallinnipper praticam “ações contra saqueadores nos cayos de Jutia Gorda e La Cocinera. Em Cuba
1831: Fuzileiros do navio Lexington desembarcam nas ilhas Malvinas, na Argentina, por ordem expressa do governo norte-americano. As ilhas seriam ocupadas pela Inglaterra cerca de dois anos depois.
1835: Soldados do navio Brandkwine aportam em El Calao, litoral do Peru, e seguem para Lima, a fim de ”proteger a cidade” durante motins revolucionários. A ocupação perdurou até 1836.
1838: O mesmo navio Lexington realiza um desembarque maciço em Buenos Aires, Argentina. Pretexto: “defender os cidadãos norte-americanos durante as desordens revolucionárias”.
1842: O oficial T.A.C Jones, no comando de uma esquadra que percorria o litoral da Califórnia, ocupa Monterrez, extremo noroeste do México. Uma semana depois, ocupa San Diego. Explicação: o oficial acreditou que as cidades haviam “declarado guerra”.
1816-1848: Guerra entre México e Estados Unidos. Não houve pretexto para o ataque norte-americano. Derrotado, o México firmou o tratado de Guadalupe-Hidalgo, reconhecendo a anexação do Texas. Cediam também a Califórnia, o Arizona, o Novo México e outras regiões, extensão equivalente a França e a Alemanha juntas.
1852-53: Durante a guerra civil de Buenos Aires os navios americanos Congress e Jamestown desembarcaram vários destacamentos. Pretexto: defender interesses estrangeiros.
1854: Uma esquadra norte-americana desembarca soldados em San Juan Del Norte, Nicarágua. O pretexto era “defender a propriedade de uma companhia daquele país, ameaçada (sic) pelo governo” nicaraguense. Em represália, o povo destruiu a empresa e o embaixador americano naquele país foi detido. O incidente diplomático resultou numa reação enérgica. Sob as ordens de Washington, uma esquadra ianque bombardeou San Juan, invadiu a cidade e a incendiou.
1855-57: Por ordens do comodoro Paudling, um destacamento de fuzileiros navais desembarca na Nicarágua. Pretexto: prender o “filibusteiro Wiliam Walker”, quer foi preso, torturado e enviado para Washington.
1858: Forças do navio americano St. Lawrence desembarca em Montevidéu, Uruguai e se apodera da alfândega, dando como pretexto a “guerra civil em processo”.
1859: Demonstrações de forças navais ianques no Panamá exigindo “desagravo”, por um suposto ataque ao banco norte-ametricano Water Witch. O governo panamenho se viu obrigado a capitular.
1860: Com o pretexto de perseguir o bandido mexicano Juan Cortina, o capitão ianque Ford cruza com suas tropas o Rio Grande, penetrando ilegalmente o México.
1865-66: O navio americano St. Mary desembarca fuzileiros navais no Panamá. O pretexto era “proteger o tráfego ferroviário e os interesses norte-americanos durante a guerra civil”. A intervenção ocorreria novamente no ano seguinte, sob o mesmo pretexto.
1868: O general Zedgwick exige e obtém a rendição de Matamoros, afirmando que o fez para reparar queixas de residentes norte-americanos. O militar permaneceu no local com cerca de cem homens durante uma semana, até que o governo de Washington se decidiu em ordenar a retirada da tropa.
1869: Fuzileiros americanos desembarcam por suas vezes em Montevidéu, novamente sob o intento de proteger nativos estrangeiros durante insurreição popular.
1873-1882: Tropas dos estados Unidos cruzam, por diversas vezes, a fronteira do México em suposta “perseguição a ladrões de gado. O governo mexicano apresentou moção de repúdio, o que não impediu que ocorressem choques entre as forças dos dois países, como foi o caso de Remolina, em maio de 1873 e o de Las Cuencas, em 1875. Tais incursões se realizavam, conforme ficou comprovado, por ordens diretas de Washington.
1885: Em março, o navio americano Galena envia à Colômbia uma grande força para a região do Panamá durante uma rebelião, sob o pretexto de proteger a ferrovia. Dois meses depois, uma esquadra ianque e vários destacamentos tomam à força a maior parte da rota do Canal e da Cidade do Panamá. Em julho, o navio Alliance desembarca tropas de fuzileiros em Colón, em caráter provisório.
1888: Uma esquadra norte-americana realiza apresentação de força no Haiti, por motivo do apresamento do navio mercante Haytian Republic.
1891: Uma guarda militar ianque desembarca em Valparaíso, Chile. Pretexto: proteger o embaixador dos Estados Unidos. Mais tarde, um motim de que resultaram dois americanos mortos, dezoito feridos e trinta e seis aprisionados, o governo dos Estados Unidos exigiu reparação. Diante da negativa chilena, a guerra chegou a estar iminente, e o Chile se viu obrigado, por fim, a oferecer escusas e a pagar todas as indenizações exigidas.
1893-94: Durante a Revolta da Armada, no Brasil, o almirante ianque Benham, com uma grande esquadra norte-americana sob seu comendo, tomou posição aberta contra os rebeldes, e chegou a posicionar embarcações a caminho do país, ao decorrer da guerra civil.
1896-98: Revolução no Panamá. Fuzileiros do navio americano Atlanta desembarcaram em Bocca de Toro, no ístimo. No ano seguinte, o navio Alert efetua um desembarque de soldados em Corinte, Nicarágua, durante “motins revolucionários”.
1898: Os Estados Unidos intervém no conflito cubano-espanhol, em Cuba. A propaganda oficial apresenta o envio de tropas ianques à Ilha como um ato generoso e filantrópico da América do Norte. Hoje existem provas de que ta; tese seria insustentável. De acordo com o historiador Ramiro Guerra, a intervenção não foi decidida pelo governo McKinley para ajudar o estabelecimento de uma república independente e soberana em Cuba mas, de fato, para realizar “uma política muito claramente definida em todo o decorrer do Século 20”.
1899: O navio americano Marieta realiza desembarque de fuzileiros em San Juan Del norte, com objetivos ‘de proteção’, logo após a insurreição de Reyes.
1901: Fuzileiros do navio Machias desembarcam em março em Boca Del Toro, na Colômbia. A mesma coisa, no mês de novembro, no Panamá em em Colón, permanecendo em ambos os lugares até dezembro. O pretexto era de “proteger a segurança ferroviária durante a guerra civil”.
1903-1904: Revolução Panamenha. O episódio teria sido orquestrado por agentes dos Estados Unidos com o objetivo de obter o comando do Canal. Não foi à toa que Theodore Roosvelt pôde afirmar, anos mais tarde: “eu me apoderei do Canal”. Para conseguir tal intento, o presidente americano violou todas as leis internacionais e os mais elementares princípios de moralidade que exigem respeito à soberania dos povos.
1904: Fuzileiros do navio Columbia desembarcaram em San Domingos. O pretexto era o de proteger o vice-cônsul alemão, ameaçado pelos revolucionários. Em janeiro e fevereiro daquele ano, uma enorme força naval norte-americana efetuou um desembarque de soldados em Puerto Plata e Souza e, com seus canhões, atacou os rebeldes.
1904: O Almirante Goodrich ordena que um batalhão de fuzileiros navais avança desde a zona do Canal do Panamá até Aucon, a fim de manter a ordem durante a rebelião do general Huertas. As tropas ocupam a cidade e permanecem no local durante uma semana.
1906: Intervenção militar norte-americana em Cuba. As tropas permaneceram no território cubano até 1907.
1910: O navio ianque Buffalo desembarcou uma força de reconhecimento, em março, na cidade de Corinte, Nicarágua. Em maio, os navios Paducah e Dubuque efetuam um desembarque ameaçou prender navios nicaragüenses e abriu fogo contra a terra. Pretexto: os motins revolucionários incitados pelo próprio Departamento de Estado.
1912: O navio americano Petrel desembarcou um destacamento em Honduras, a fim de impedir a ocupação, pelo governo, de uma estrada de ferro pertencente a uma empresa norte-americana.
1912: Desembarque de grande força ianque no porto de Guantânamo, em Cuba, ocupando todo o vale. Outro desembarque se efetuou em Nipe e em Daiquiri. Pretexto: defender os interesses norte-americanos durante os distúrbios que se produziram ao levantar-se em armas o Partido Independente de Cor.
1912-1925: Tropas desembarcam em Manágua, Nicarágua, a fim de “estabelecer a ordem e a pacificação do país”. Soldados desembarcariam também em outros lugares. Os americanos ocuparam todo o país. Em seguida, surgiu um movimento de independência nacional, que sustentou longa luta armada contra o invasor. Os Estados Unidos mantiveram suas tropas na Nicarágua até 1926.
1913: Grupo de marinheiros do navio Buffalo desembarcou em Ciaris Estero, México, para “proteger os norte-americanos dos distúrbios revolucionários”.
1914: Fuzileiros desembarcam em Port-au-Prince, no Haiti
1914-1917: Incidente do Delphin, em Tampico, México. Os norte-americanos se apoderam do porto deVera Cruz, permanecendo no local durante todo o ano. Em 1916, sob pretexto de perseguir Pancho Villa, o general americano Persching lança contra o México uma expedição “punitiva”, que penetrou milhas adentro do território mexicano. A luta continuou até fins de 1917. Esta seria a chamada guerra “não declarada” ao México.
1915-1934: Forças norte-americanas intervém e ocupam o Haiti, em julho de 1915, permanecendo na ilha por dezenove anos. O pretexto inicial: “impedir os ataques aos estabelecimentos estrangeiros durante a guerra”.
1916-1924: Forças navais ianques desembarcam e ocupam a República Dominicana, à custa de muitas baixas. Até 1922, o país é governado por generais. Deixam a região dois anos depois, sob a guarda de fuzileiros, como interventores.
1917-1919: Soldados invadem Cuba durante a Chambelona, ocupando boa parte da província oriental. O pretexto: defender interesses estrangeiros. As tropas permanecem na ilha até 1919.
1918-19: Após a expedição “punitiva”, no México, tropas americanas invadem o território mexicano três vezes em 1918 e seis, em 1919.
1919: O navio norte-americano Cleveland desembarca uma força em Puerto Cortez, Honduras, em setembro daquele ano, a fim de “impedir desordens”.
1919-12: Tropas ianques da Zona do canal penetram na província de Chiriqui, de julho a agosto, para “supervisionar as eleições” (!).
1920: Barcos americanos Tacoma e Niagara tomam a cidade da Guatemala, sob o pretexto de “defender os interesses norte-americanos durante a guerra civil”.
1924-25: Desembarcam soldados norte-americanos em vários pontos da Guatelama, entre fevereiro e abril de 1924. O cruzador Denver serviu de base de operações, ajudado pelo Billingsley e pelo Lardner. Em setembro, o Rochester desembarcou forças em Celba. Em abril de 1925, o Denver efetuou novo desembarque.
1925: Tropas dos Estados Unidos ocupam a cidade do Panamá. Pretexto: “prestar serviço de polícia durante uma greve”.
1926-1933: Depois de poucos meses após haverem se retirado, fuzileiros navais ianques regressam à Nicarágua, o que provoca forte oposição nacional. As tropas dos Estados Unidos ocupam o país até 1933. na prática, com um curto intervalo de poucos meses entre 1925 e 1926 a Nicarágua esteve ocupada militarmente por tropas estrangeiras durante vários anos.
1934-1950: Com a ascensão de Franklin Roosvelt à presidência dos Estados Unidos, os episódios referentes à Segunda Guerra mundial, que desviou o foco militarista norte-americano e a formulação da chamada “Política da Boa Vizinhança”, houve uma certa pausa momentânea em manifestações mais agressivas por parte de Washington nas Américas. O efeito civilizador dos Estados Unidos voltaria com a Guerra Fria, culminando com o rompimento da tradição política dos países do Sul, que adotariam à força a orientação de ditaduras sinistras que Washington iria impor, como o fez, desde sempre à América Central e ao Caribe.
1964: Em meio ao temor de uma revolução socialista no Brasil, durante o governo João Goulart (1961-64), os Estados Unidos desencadearam, como nos velhos tempos, uma operação, intitulada Brother Sam, constituída por uma esquadra chefiada pelo porta-aviões Forrestal, por um porta-helicópteros, seis destróiers, quatro petroleiros, sete aviões de carga C-125, oito aviões de caça, oito aviões-tanque e um jato de comando aéreo, e portava cento e dez toneladas de armamentos. A operação, prevista para maio, se precipitou com o levante de 31 de março. O objetivo inicial seria apostar em Santos, reconhecendo São Paulo como região legalista contra Jango. Com a insurreição das tropas de Juiz de Fora, a “missão civilizadora” se dirigiu para o Espírito Santo, com o intuito de sustentar o governo de Minas Gerais com homens, armas e combustíveis. Foi abortada com a rápida vitória dos militares e a deposição de Goulart, a 1o de abril. Até hoje, esta operação é ponto de controvérsia a respeito de seus fins e meios, e muitos questionam se ela realmente existiu ou não, embora existam documentos que comprovem a ação, nos próprios arquivos norte-americanos.
1973: A sedição do governo socialista de Salvador Allende, feita pelas mãos de militares chilenos, foi articulada pelos Estados Unidos, como a primeira operação complexa de desestabilização de governos sul-americanos. A operação se fez tanto através de propaganda quanto atos de conspiração e de guerra, comandada por um grupo que integrava gestores de empresas multinacionais, para derrubar o governo. O programa de Allende entrou em choque com os interesses norte-americanos na América. Como foi comprovado depois, o descontentamento popular foi estimulado por greves financiadas pela Inteligência norte-americana. Em 11 de setembro de 1973, o palácio do governo foi bombardeado e o presidente morreu durante a luta.
1986: O governo norte-americano foi acusado de desviar o dinheiro de venda ilegal de armamentos ao Irã para sustentar o movimento dos “contras”, grupo de extrema direita que lutava para derrubar o governo sandinista da Nicarágua, na América Central. O escândalo abalou o prestígio do presidente Ronald Regan, ficando claro para a opinião pública que ele não só tinha conhecimento dessas transações, como também as autorizara. Desta forma, o governo de Washington mantinha os “contras” (ditos “conservadores” que haviam fugido para Miami a fim de organizar uma milícia guerrilheira e atacar a Nicarágua) com armas, equipamento e assessoria militar que, sem sucesso, tentaram derrubar o governo de Daniel Ortega. O presidente seria derrotado apenas em 1990, por via eleitoral, com a vitória de Violeta Chamorro, da União Nacional de Oposição (UNO).