Agora, a mim que não fui a tropa, expliquem-me como é que está suposta praxe na Marinha ajuda a entrosar ou a seja o que for. E atenção que eu até sou a favor da "praxe" como factor de entrosamento e camaradagem e fiz, e faço, a vida negra a todos os incautos que me vão aparecem, irmãs, irmãos, amigos e camaradas.
Há um principio que deve ser incutido nos recrutas e em todos os militares, e principalmente quando se trata de unidades de forças especiais que se chama «ESPIRITO DE CORPO».
É uma coisa dificil de explicar a quem não foi à tropa, mas compreende-se que seja importante.
Para militares em situações de crise REAL (e nós não temos por tradição uma tropa para paradas militares) é da maior importância ter confiança nas pessoas com que lidamos diariamente.
A mim o que me ensinaram foi exactamente isso e os responsáveis pela formação, costumavam fazer a vida «mais ou menos negra» aos recrutas, para garantir que nos desenrascávamos em conjunto.
O espirito de corpo, permite que pessoas que tenham mais dificuldade numa coisa, possam ser ajudadas por outras, sem que ninguém tenha que dizer obrigado.
Espera-se que uma pessoa da mesma unidade ou sub unidade o faça sem estar à espera de recompensa.
Isto permite que numa situação de tensão, o pessoal não entre em pânico e todos saibam com o que contam, podendo reagir em conjunto.
Porém, aparecem sempre pessoas que, não são capazes de entrar no que é na realidade uma espécie de jogo. Podemos chamar-lhe jogo psicológico, mas jogo.
Dou-lhe um exemplo.
Durante a minha recruta, um dos individuos do meu pelotão partiu uma perna.
A recruta era durante o inverno e o pelotão tinha que formar, mesmo com o «perneta» ao lado.
Quando chovia, o pelotão só saía da chuva quando o individuo em causa se retirava, o que normalmente significava que tinhamos que ficar mais tempo à chuva.
A isso chamava-se espirito de corpo O próprio pelotão decidiu que era assim.
Ainda assim havia sempre uma «amélia» que protestava porque não achava que devesse ficar à chuva.
É evidente que numa situação de crise, eu não queria ficar na mesma unidade com aquele individuo, porque não confiaria nele.
Eu não posso fazer juizos de valor, mas aquelas cenas, ainda que violentas, fazem-me lembrar uma situação em que o grupo se revolta contra o individuo que em vez de demonstrar espirito de corpo, mostrava apenas o que nós chamávamos na altura «ESPIRITO DE PORCO».
Não gosto naturalmente do teor das imagens, mas confesso que há coisas que me impressionam mais.
Quem esteve no serviço militar provavelmente não fica tão impressionado como os outros.