Para comparar os municípios onde o Chega obteve vitórias nas eleições legislativas de 2025 com os municípios que tradicionalmente votavam no Partido Comunista Português (PCP) nos anos 80, é necessário analisar os contextos históricos, os resultados eleitorais e as características sociodemográficas de cada período. Abaixo, apresento uma análise com base nas informações disponíveis, incluindo os dados fornecidos e o contexto político português.
Contexto Histórico
PCP nos anos 80:
O PCP, através da coligação Aliança Povo Unido (APU) até 1987 e, posteriormente, da Coligação Democrática Unitária (CDU), teve o seu pico de influência eleitoral entre a Revolução dos Cravos (1974) e o início dos anos 80. Durante esse período, o partido era particularmente forte em áreas rurais do Alentejo (como Beja e Évora) e em zonas industriais como Setúbal e Lisboa, onde conquistava mais de 50% dos votos em alguns municípios.
Nos anos 80, o PCP controlava várias câmaras municipais, especialmente no Alentejo e Setúbal, com 34 municípios sob sua liderança em meados da década. A força do partido era sustentada por uma base de apoio entre camponeses, operários e trabalhadores industriais, com forte organização local e uma identidade ideológica marxista-leninista.
A influência do PCP começou a declinar após a queda do bloco socialista no final dos anos 80, mas ainda mantinha presença significativa em autarquias e no Parlamento.
Chega nas eleições de 2025:
O Chega, um partido de direita populista, teve um crescimento expressivo nas eleições legislativas de 18 de maio de 2025, obtendo 22,6% dos votos e 58 deputados, igualando o Partido Socialista (PS) em número de cadeiras. Este resultado reflete um aumento em relação às eleições de 2024, quando o partido já havia crescido de 12 para quase 50 deputados.
O Chega não elegeu deputados em Bragança, mas teve forte desempenho em vários círculos eleitorais, incluindo Beja, onde superou a coligação Aliança Democrática (AD). O partido capitalizou temas como imigração, corrupção e descontentamento com a classe política tradicional, atraindo eleitores em áreas com maior presença de população estrangeira.
Comparação dos Municípios
Não há uma lista exaustiva de municípios onde o Chega venceu diretamente nas legislativas de 2025, já que as eleições legislativas portuguesas elegem deputados por círculos eleitorais (que abrangem múltiplos municípios) e não por município. No entanto, podemos inferir algumas tendências com base nos círculos eleitorais e nas características dos locais onde o Chega teve melhores desempenhos, comparando-os com os bastiões históricos do PCP.
Beja:
PCP nos anos 80: Beja era um reduto comunista, com o PCP frequentemente obtendo mais de 50% dos votos nas eleições legislativas e autárquicas, devido à forte base rural e à organização camponesa. A CDU (PCP-PEV) mantinha a presidência de várias câmaras municipais na região.
Chega em 2025: Beja foi um dos círculos eleitorais onde o Chega teve um desempenho notável, superando a AD e elegendo deputados, enquanto a AD obteve apenas um deputado. Isso sugere que o Chega conquistou eleitores em áreas historicamente dominadas pelo PCP, possivelmente atraindo eleitores desencantados com a esquerda tradicional ou sensíveis a discursos anti-imigração e anti-elite.
Setúbal:
PCP nos anos 80: Setúbal era outra fortaleza do PCP, com forte apoio entre trabalhadores industriais e uma presença sólida nas autarquias. O partido liderava a câmara municipal da capital de distrito e tinha uma base eleitoral significativa.
Chega em 2025: Em Setúbal, a AD obteve 21,01% dos votos (cinco deputados), mas o Chega também teve um desempenho competitivo, refletindo sua capacidade de atrair eleitores em áreas urbanas e industriais. A presença de população estrangeira acima da média nacional (6,81% nos municípios onde a CDU era forte, contra 4,64% na média nacional) pode ter favorecido o discurso anti-imigração do Chega.
Évora:
PCP nos anos 80: Évora era outro bastião comunista, com forte votação na CDU e controle de várias autarquias. O apoio do PCP era sustentado por comunidades rurais e pela sua organização local.
Chega em 2025: Évora foi o único círculo dominado pelo PS em 2025, com a AD obtendo 24,81% (um deputado). Embora o Chega não tenha liderado, seu crescimento nacional sugere que pode ter atraído alguns eleitores em áreas tradicionalmente de esquerda, especialmente onde há descontentamento econômico ou social.
Outros Municípios e Tendências:
PCP nos anos 80: Além de Beja, Setúbal e Évora, o PCP tinha forte influência em outros municípios do Alentejo (como Alvito, Moura e Serpa) e em freguesias operárias de Lisboa. A CDU controlava 41 câmaras municipais em 1997, muitas no sul do país.
Chega em 2025: O Chega teve melhores resultados em municípios com maior peso de população estrangeira (acima da média nacional de 4,64%) e em áreas com indicadores de insatisfação social, como desemprego ou percepção de insegurança. Por exemplo, em Moura, a CDU esteve perto de recuperar a câmara em 2021 (perdeu por apenas 90 votos), mas o Chega tem ganhado terreno em áreas semelhantes, sugerindo uma possível transferência de eleitores descontentes.
Análise Comparativa
Sobreposição Geográfica: Há uma sobreposição parcial entre os redutos do PCP nos anos 80 (Alentejo, Setúbal) e as áreas onde o Chega teve bom desempenho em 2025, especialmente em Beja e Setúbal. Isso sugere que o Chega pode estar atraindo eleitores em regiões que historicamente apoiavam o PCP, mas o perfil desses eleitores mudou.
Perfil dos Eleitores:
PCP nos anos 80: A base eleitoral era composta por camponeses, operários e trabalhadores industriais, com forte identificação ideológica com o socialismo e uma organização partidária robusta.
Chega em 2025: O Chega atrai eleitores com discursos anti-imigração, anti-elite e moralizadores, muitas vezes em áreas com maior presença de população estrangeira ou onde há descontentamento com a política tradicional. Dados mostram que os concelhos onde o Chega performa bem têm uma população estrangeira superior à média nacional, o que pode indicar que o partido capitaliza sentimentos de insegurança ou competição econômica.
Fatores de Mudança:
O declínio do PCP após os anos 80, especialmente com a queda do bloco socialista, enfraqueceu sua base eleitoral, enquanto o Chega aproveita um contexto de crise econômica, desconfiança nas instituições e polarização política.
A CDU (PCP-PEV) perdeu influência em alguns municípios que controlava, como Alvito, Moita e Moura, enquanto o Chega ganhou espaço em áreas rurais e semiurbanas, onde o descontentamento com a globalização e a imigração é mais pronunciado.
Diferenças Ideológicas: O PCP baseava-se numa ideologia de classe, focada em direitos laborais e socialismo, enquanto o Chega adota uma retórica nacionalista e populista, com ênfase em questões como imigração e corrupção. Apesar disso, ambos apelam a eleitores descontentes com o "sistema", o que pode explicar a transição de votos em algumas regiões.
Limitações da Análise
Dados Eleitorais: As eleições legislativas são organizadas por círculos eleitorais, não por municípios, o que dificulta uma comparação direta. Dados autárquicos seriam mais precisos, mas a pergunta foca nas legislativas de 2025.
Evolução Demográfica: Os municípios dos anos 80 tinham um perfil socioeconômico diferente (mais rural e industrial) do que em 2025, com mudanças na composição populacional e na economia.
Fontes Limitadas: As fontes disponíveis não fornecem uma lista exaustiva dos municípios onde o Chega venceu diretamente em 2025, mas indicam círculos eleitorais onde o partido teve forte desempenho.
Conclusão
O Chega em 2025 conquistou eleitores em alguns dos mesmos círculos eleitorais (como Beja e Setúbal) que eram bastiões do PCP nos anos 80, sugerindo uma sobreposição geográfica parcial. No entanto, os perfis dos eleitores e as motivações de voto são distintos: o PCP atraía trabalhadores rurais e industriais com uma agenda socialista, enquanto o Chega apela a eleitores descontentes com imigração e corrupção, muitas vezes em áreas com maior presença de população estrangeira. A transição de votos pode refletir a erosão da base eleitoral do PCP e o crescimento do populismo de direita em contextos de crise social e econômica.