Eu não falei em dominar o Atlântico. Nós perdemos o domínio do Atlântico provavelmente em 1581, quando aceitámos que esse controlo passaria para a Coroa de Castela e Leão.
Eu disse “ter uma palavra a dizer” o que no máximo é contestar a capacidade de outra potência garantir o total domínio do mar entre os Açores e o continente.
Mesmo que em vez de F-35 nós tivéssemos F-22, nunca conseguiríamos controlar o mar. Não temos nem vamos ter dimensão para isso.
Os dois submarinos são a única coisa que pode fazer com que alguém pense. Se em vez de dois fossem seis, o resultado seria triplicado.
A nossa aviação de caça, existiu desde o final da II guerra mundial, para combater com os aviões espanhóis, numa guerra do Alecrim e da Manjerona que nunca existiu. A Força Aérea durante a guerra em África, fez um trabalho meritório, mas nunca em termos de aviação de caça.
Quando se suspeitou que a Guiné Konakry podia ter caças MiG-17, foi a infantaria da marinha que os tentou eliminar durante a operação Mar Verde.
Mesmo com 6 submarinos, abdicando da aviação de caça, nunca terás uma palavra a dizer no Atlântico. Temos os Açores e Madeira, cujo ponto forte é essencialmente servirem de "porta-aviões fixo", permitindo operar qualquer tipo de aeronave. Com 2 "porta-aviões" tinha algum sentido abdicar da aviação de caça? Está tudo louco?
Os submarinos são muito bons para bloqueios navais, e para colocar em causa forças navais adversárias. Se uma suposta potência opta por "atacar" o Atlântico, ao saber que teríamos meia dúzia de submarinos, simplesmente optava primariamente por um ataque pelo ar, com bombardeiros estratégicos, caças, aeronaves de reabastecimento, armamento stand-off, drones, etc. Qualquer inimigo não será estúpido ao ponto de combater como nós queremos, vai sempre tentar combater com base nos nossos pontos fracos. Não tendo nós qualquer capacidade de ter submarinos nucleares, os nossos teriam sempre a limitação de ter que emergir ao fim de X tempo, sendo sempre um risco perante um adversário que pode sobrevoar as nossas águas sem problemas.
Se por algum motivo quiseres atacar este potencial adversário no seu território (ou num território já ocupado/seu aliado), com meia dúzia de submarinos convencionais, esta capacidade de ataque será sempre limitadíssima.
Abdicar de caças não tem qualquer sentido.
Isto não tem a ver com os Açores serem ou deixarem de ser cobiçados. Se já antes da II guerra mundial o Roosevelt incluia os Açores na esfera de defesa da América do Norte, não há nada que impeça o atual tonto de se lembrar da mesma coisa.
Nós não podemos comprar armas, a pensar que se amanhã o Trump mudar o discurso, temos que pensar.
O problema é que o presidente dos Estados Unidos, mercê da sua instabilidade e imprevisibilidade, deixou de ser confiável. Deixou de ser confiável AGORA. E é agora que decisões devem ser tomadas.
Mas a nossa compra de F-35 nunca seria agora. Aqui ninguém acredita que se vão assinar contratos de caças na presente década, para receber o que quer que seja em 2030. Com sorte, lá para 2028/29, veríamos movimento nesse sentido para recebermos os primeiros por volta de 2035.
Está-se a entrar em devaneios por causa de um POTUS, que quando tivermos que escolher um caça, já não estará no cargo.
A questão é simples:
-A presença de Trump e as suas políticas desastrosas, poderá adiar esta decisão.
-Ora para adiar esta decisão, terá que ser feito um upgrade aos F-16 para o padrão V, quer se queira quer não.
-Todas as outras alternativas de geração 4.5 são estupidamente caras enquanto solução "stop-gap".
-E adquirir caças de geração 4.5 novos como caça definitivo até 2070 é igualmente estúpido por questões tecnológicas.
Como disse, se querem equacionar uma alternativa, num dos caças de 5ª/6ª geração europeus, como o FCAS, tem que haver seriedade política para ter que gastar muito dinheiro nesta opção. Não podem fugir como fizeram com os A-400, não podem ficar borrados quando virem o preço do FCAS.
Se não houver este compromisso, vai ter que ser feita a escolha pelo F-35, porque o país não pode ficar sem aviação de caça, nem pode ficar mais 4 décadas entalado na 4ª geração.
Err...
Coitados dos marriquinos... 
Então vamos comprar os F-35 e gastar vários milhares de milhões para lutar contra os marroquinos ?
Eu nem sequer mencionei Marrocos. "Usar no Atlântico" pode ser algo tão simples como dissuadir forças aéreas e/ou navais russas/chinesas. E no Norte de África, não é Marrocos que é o problema, é a Argélia. Se a Argélia entra em guerra contra Marrocos e ganha, controlando o Sara Ocidental, passa a ter acesso directo às Canárias e Madeira. A partir daqui, num qualquer cenário de guerra total com a Rússia, basta a Rússia pedir aos argelinos para atacarem um destes arquipélagos para obrigar a NATO a abrir uma segunda frente.
Aliás, num hipotético conflito Marrocos/Argélia, é bem possível que Portugal e Espanha sejam requisitados pelos marroquinos a ajudar, e será uma questão estratégica nós, Ibéricos, garantirmos que Marrocos não perde.
Eu não me esqueci de nada, mas acho que você está a pensar em termos de defesa nacional e em termos de manuais de estratégia.
Mas não está a considerar a situação de emergência atual, e que Portugal tem aliados, parecendo acreditar que devemos ter uma força com todos os componentes, e pouquinhos de cada um, (à nossa dimensão) para podermos ter uma força, pequenina mas balanceada e capaz de responder a todas as ameaças, haja ou não haja aliados. A nossa dimensão demográfica e económica, diz claramente qual seria o fim de tal estratégia.
O que eu digo, tanto na Força Aérea como na Marinha, é que para Portugal ter alguma relevância tem que apostar num setor, e aceitar que os outros terão que ser controlados por outros países aliados.
Isto implica coisas simples: Se a área de acção de uma força de submarinos portugueses fosse a oeste da peninsula, esses navios estariam a defender tanto águas portuguesas como espanholas. Isto implica que a defesa aérea dos espanhóis, teria forçosamente que se responsabilizar pela nossa.
Eu sei que isto é complicado de aceitar, mas não estamos em tempo de grandes tiradas patrioticas a pensar na História passada.
E olhe que poucas pessoas aqui, dão tanta importância à História como eu.
Este é evidentemente o atual dilema europeu.
Serão os países europeus capazes de ultrapassar os milhentos conflitos que tiveram no passado e pensar em defesa comum ?
Ou somos capazes, ou é melhor aprender a falar chinês ...
Isto não faz sentido. Sectorizar a Defesa, com cada país a controlar uma parcela específica, é arriscado para todos. Nenhum país vai aceitar fazer isto. E nem todos estão dispostos a colocar em risco os seus meios para defender o vizinho que não quis investir na Defesa.
Tendo nós recursos mais limitados que outros, apenas podemos dar maior prioridade a determinados sectores, nomeadamente na Marinha e Força Aérea. Nós tendo recursos limitados, e sabendo que outros países estão mais folgados nesse aspecto, fazia sim muito mais sentido manter caças, fragatas, submarinos, MPAs - os principais pilares da Defesa de um país como o nosso - e abdicar de grandes navios logísticos/anfíbios, de ter 3 brigadas distintas, de ter milhentos mini-regimentos, etc.
Faz muito mais sentido uma Croácia, país que praticamente não tem marinha, operar 1 ou 2 AORs para apoiar forças navais da NATO, ou até mesmo ter um LPD, do que Portugal, que tem um enorme mar para controlar, abdicar de fragatas para ter navios logísticos.
Também fazia muito mais sentido ter uma escola de treino de pilotagem unificada, ao invés de cada país gastar centenas ou milhares de milhões em frotas de aeronaves de treino.
O que é certo, é que todos os países têm que contribuir como deve ser, e que não dá para um país como Portugal abdicar da aviação de caça, sabendo que uma percentagem significativa de países europeus nem sequer a têm, nem terão tão depressa.
Se Portugal e outros países na mesma situação abdicassem de caças, isto só aumentava a pressão sob os restantes países, cujas forças aéreas teriam que se desdobrar para compensar os que não possuem caças. Isto tem tudo para dar asneira.