Segundo aquilo que afirmas, onde este conceito se encaixa na realidade de Portugal onde as missões prioritárias serão as
Operações de Luta Aérea Defensivas?
Em primeiro lugar, o conceito que mencionei foi um dos exemplos para a implementação de 2 tipos de caça na FAP, um de 5ª geração, e um de 4.5, e a forma como se complementam entre si.
Depois, o conceito que mencionei nada tem a ver com "Luta Aérea Defensiva", é mais uma capacidade ofensiva/de dissuasão.
Luta Aérea Defensiva é uma missão muito mais complexa do que se pensa. Pode ir de intercepção de drones, intercepção de mísseis de cruzeiro, intercepção de "balões espiões chineses" e outros meios de vigilância/espionagem, passando por interceptar aeronaves adversárias de qualquer tipo, desde AWACS, a caças, a bombardeiros, a aeronaves de patrulha marítima, UCAVs, etc.
A maioria destas missões pode ser executada com relativa tranquilidade por caças de 4.5, mas quando envolver aeronaves de combate, nomeadamente caças adversários, ter a vantagem tecnológica é uma clara mais valia, quando comparado com um confronto entre aeronaves de 4.5 vs 4.5, onde é mais 50/50.
Este "50/50" pode ficar ainda pior, se o adversário tiver um número de caças mais elevado, ou se tiver um AWACS, colocando os nossos caças em clara desvantagem. É aqui que um caça 5G oferece vantagens óbvias.
Não existem outros meios? Vale assim tanto a furtividade?
Não é só a furtividade, mas sim, vale assim tanto. Um inimigo não pode abater aquilo que não vê. Um caça furtivo consegue aproximar-se muito mais dos seus alvos. Ao poder aproximar-se dos seus alvos, pode usar munições mais baratas e numerosas para o destruir.
Por exemplo, um F-35 com JDAM-ER em configuração furtiva, consegue atingir alvos a 70km de distância, sem se preocupar com a sua detecção. Um caça de geração 4.5, para fazer a mesma missão, precisaria de um míssil de cruzeiro, com alcance a rondar os 150/200km, para garantir a sua segurança.
O caça 5G permite executar a missão com munições muito mais baratas, e permite preservar os mísseis mais caros para alvos mais valiosos e longínquos.
No combate BVR, além da vantagem clara de poder disparar primeiro antes de sequer ser detectado pela aeronave adversária, um caça furtivo pode dar-se ao luxo de disparar o míssil BVR a uma distância do alvo em que a chance de acerto do míssil seja mais elevada, em contraste com caças 4.5 que poderão que ter de lançar o míssil BVR no limite do seu alcance máximo, reduzindo a sua eficácia.
Outra questão, é que um caça de 4.5, pode ter que lançar uma munição a baixa altitude, para se esconder dos radares adversários, enquanto um caça furtivo pode disparar a mesma munição a altitudes elevadas, não se preocupando com radares inimigos. Na segunda instância, a munição tem um alcance muito superior, como exemplificado coma JSOW abaixo:
low altitude release: 22 kilometres (12 nmi)
high altitude release: 130 kilometres (70 nmi)
Depois temos o CAS em ambiente contestado/com defesas aéreas. Um F-35 a largar JDAMs e Paveways perto da linha da frente, tem mais chance de sobrevivência que o caça não-furtivo.
Sejam os cenários um conflito em grande escala contra Rússia/China ou contra países do norte de África, não será sempre essa a nossa missão principal?
O F35 ou outro 5G vai realmente dar-nos a capacidade para mais, para podermos atacar o espaço aéreo deles ou alvos em terra?
A nossa missão principal vai depender do TO e do tipo de conflito. Mas tendo em conta que a primeira linha de defesa, é o ataque, não faz sentido olhar para caças como um meio estritamente defensivo.
Sim, o F-35 vai dar-nos capacidade para mais, na medida que permite "esticar" o alcance de praticamente todas as munições que pode levar, quando comparado com um caça nao-furtivo, que tem que contar sempre com uma distância de segurança.
Eu por mim e no caso dos alvos em terra vejo mais utilidade em meios da Marinha, com destaque nos submarinos. Invistam nisso que me parece mais útil e eficaz.
Os submarinos da Marinha, podendo levar mísseis de cruzeiro, continuam a ter bastantes limitações. Por um lado, demoram demasiado tempo a chegar a uma posição de onde possam lançar os seus mísseis. Por outro, são apenas 2, logo a salva de mísseis que conseguiriam lançar seria muito reduzida, e portanto a chance de sucesso dessa missão era reduzido.
Além disso, os submarinos, e qualquer navio da Marinha, estão limitados a um corpo de água para poderem operar, logo o alcance das suas armas estará dependente disto. É pegar Maps, e usar a funcionalidade de medir, para ver o alcance real que um determinado míssil, se lançado de um navio.
Lançados de aviões não têm esta limitação.
O que eu acho, é que capacidade Land Attack em navios/submarinos faz todo o sentido, como complemente a esta capacidade lançada de aviões, não como alternativa.
Designação e identificação de alvos a partir de UAV's, muito mais baratos, e ataque dos mesmos seja com caças 4.5G, que até podem ser os F16V, que não sejam um tiro no escuro como me parece ser o F35, ou com mísseis embarcados em meios da Marinha.
UAVs realmente capazes, não são baratos (ver RQ-4 e MQ-4). Não sendo baratos, oferecem claras limitações em termos de velocidade, furtividade e armamento. Dependendo da missão, um UAV pode servir perfeitamente para aquisição de alvos. Noutras missões não dá.
Um F-35 com 6 AMRAAM, consegue fazer essa missão, defender-se de ameaças aéreas, manter-se "invisível" aos radares e evacuar caso a ameaça se torne demasiado perigosa. Os UAVs actuais, não conseguem fazer nada disso em grande parte, e ainda correm o risco de sofrer jamming.
No fim, os meios complementam-se, logo vais precisar sempre de um caça furtivo, de munições stand-off, de navios/submarinos com capacidade land-attack e de UCAVs.
Olhem para as FA's como um todo, e não como apenas a FAP, a Marinha e o Exército, isoladamente.
Vejo muita vontade e esforço em integrar as nossas FA's com outtras aliadas, e bem, mas nunca vi por exemplo um exercício em que a FAP treinasse a defesa de navios da Marinha.
Nas FA, os 3 ramos dependem uns dos outros em cenário de conflito, mas o EP e MGP dependem e muito da aviação de caça do país.
A opção pelo F-35 não afecta negativamente os restantes ramos.
Quanto à FAP não ajudar a defender navios da Marinha, se calhar a pergunta certa, é: Será que os exercícios que tipicamente se fazem, incluem cenários em que faça sentido usar F-16 para defender uma frota da Marinha? Como é que seria feita essa intervenção?
É que a maior parte dos exercícios, não têm propriamente a complexidade de um Red Flag.
Depois, em cenários reais, temos demasiado poucos F-16, para estes andarem a servir de guarda costas do país inteiro.
Eu sei que a doutrina actual, e a desculpa usada, é de que em caso de conflito, os F-16 cobrem as necessidades de defesa aérea do Exército e da Marinha, e ainda todas as outras missões que têm de desempenhar, mas isto é completamente irrealista.
Operações conjuntas é uma coisa. Apoio em missões específicas, idem. Agora o Exército não ter capacidade AA decente, e a Marinha não investir na capacidade de combate (nomeadamente AAW), e depois ficar tudo dependente dos caças da FAP, é que não.