Desígnios africanos
Em primeiro lugar, creio que nos devemos deixar de ilusões relativamente a designios africanos. A única relação que este negócio pode ter com a África é a possibilidade de a presença de forças portuguesas na RCA ter despoletado qualquer análise sobre a vantagem que constituiria a existência de uma possibilidade de apoio de fogo.
O facto de haver forças portuguesas na RCA que poderiam beneficiar disso, não passa de uma coincidência e não há aqui nenhum desígnio africano, pelo que fazer contas a quanto tal coisa custaria, não faz grande sentido.
NegócioA aquisição de 12 aeronaves da Embraer, aparenta ter todos os quesitos para ser considerado um negócio que pouco terá a ver com as necessidades da força aérea e muito mais a ver com aquilo que é um desígnio assumido pelos últimos governos, que é a criação de um polo de desenvolvimento da industria aeroespacial, ou um “cluster” como alguns gostam de chamar.
A ideia de que podemos fazer parcerias avulsas por dá cá aquela palha com toda a gente e que só não fazemos porue os governos são todos incompetentes, também não tem pernas para andar, pelo simples facto de que não se podem fazer parcerias para produzir localmente uma quantidade mínima de aeronaves.
Este negócio foi feito, tratou-se de garantir mais presença da Embraer e depois foi-se ver se a Força Aérea podia aproveitar alguma coisa com algum avião produzido pelos brasileiros...
Exemplo de um potêncial negócio com a Coreia do SulA verdade é que ninguém quer saber disso para nada. Não há mercado e não há governo que consiga estabelecer parcerias a não ser que meta todo o dinheiro à cabeça.
Os sul coreanos não são conhecidos por esse tipo de capacidade e mesmo que fossem isso seria inviável.
Não só porque os aviões coreanos custam mais do dobro do preço dos aviões brasileiros, mas pelo simples facto que entre transferir engenheiros e técnicos brasileiros para Lisboa, ou enviar engenheiros e técnicos portugueses para o Brasil e fazer o mesmo com a Coreia, não existe qualquer possibilidade de comparação.
A cultura, a lingua e a distância têm aqui uma importância tremenda. Há dias em que chega a haver catorze voos diretos de Lisboa para várias cidades brasileiras.
Portanto, uma parceria com os brasileiros é natural, com os coreanos, seria absurda.
E se isso não fosse suficiente, bastaria lembrar que os polacos ainda estão a tentar que os coreanos aceitem que a industria polaca fabrique parte do tanque coreano na Europa, porque os coreanos querem apenas enviar os tanques em peças, para os polacos montarem e não querem transferir nenhum tipo de tecnologia …
E isto para um negocio de milhares de milhões de dólares.
Mas para construir localmente seis aviões, os coreanos vão fazer já uma parceria …
A Embraer e o Cluster aeronauticoA verdade, é que a Embraer não foi a unica empresa quer foi contactada e que recebeu apoios para investir em Portugal, o problema é que os brasileiros foram os que melhor corresponderam, e principalmente porque ao contrário dos outros, viram aqui uma grande quantidade de vantagens.
E as vantagens são várias, mas entre elas destaca-se o simples facto da geografia. Portugal é o ponto da Europa mais próximo do Brasil e acima de tudo não existe barreira linguistica, o que permite e facilita a formação de técnicos e o seu intercâmbio.
Foram as mesmas razões geográficas que levaram a Embraer-USA para Fort Lauderdale na Flórida.
O presente negócio de 200 milhões por 12 aviões, poderá ter como contra-partida um investimento de 90 milhões da Embraer nas OGMA.
Não há ula ligação direta com os Super Tucano. O que a Embraer vai fazer para atingir 600 milhões de vendas não é fabricar Super Tucanos em Portugal, é desenvolver a capacidade para manutenção de motores a jato da série GTF da Pratt & Whitney.
Estes motores são os motores que equipam os jatos regionais da Embraer da série E190/E195 para 97 a 120 passageiros.
E também equipam os Airbus A220 (antigos Bombardier) e os Airbus A320NEO (dos quais a TAP comprou 26 unidades). A TAP também opera na Tap-Express (antiga Portugalia), aviões da série E190 mas não com este tipo de motor.
A dimensão da EmbraerNós não podemos esquecer que a Embraer é o terceiro maior fabricante de aviões do mundo. E não se atinge esse patamar se os produtos não forem confiáveis e de qualidade reconhecida.
Não há parcerias com absolutamente ninguém que possam chegar aos calcanhares das parcerias que podem ser desenvolvidas com a Embraer.
Isto não tem nada a ver com lusitanismos, CPLP's ou qualquer coisa patriótica ou do género.
Isto tem a ver com racionalidade e objetividade !
Se um qualquer estrangeiro viesse a Portugal e a Embraer não estivesse cá, se conhecesse o mercado colocaria a questão simples …
"...Sendo que falam a mesma língua, e são o país europeu mais próximo do Brasil, porque diabo não tentam atrair a Embraer
... "Isto é tão simples que nem devia ter espinhas.