Interessante como a Rússia que, supostamente, nem tem capacidade para derrotar a Ucrânia, cria no entanto a necessidade de preparar toda a Europa (pelo menos) para a "invasão russa".
Afinal como ficamos?
E que nos está a escapar a todos?
A escapar ?
Meu Deus ...
Em 2022, Putin, calculou mal e fez mal as contas.
Achava, como Hitler em 1939 que as democracias ficariam caladas como ficaram aquando da crise ne Georgia, aquando da ocupação da Crimeia ou quando a Russia apoiou a Novorossya.
MAs falhou tudo. O tiro saiu pela culatra, a Russia foi clamorosamente derrotada e não foi pelo ocidente, foi derrotada pelas táticas utilizadas pelos ucranianos, que resultaram muito bem e beneficiaram das contra-indicações da operação de ataque através da Bielorussia, tão secreta que nem os russos sabiam que estavam a invadir o país vizinho.
Desde 2022, a Russia não recuou, não aceitou que estava a invadir um país vizinho e ao contrário, duplicou a parada como num jogo de Poker.
Nos últimos 24 meses, vimos parte da industria russa ser convertida e adaptada para produção de guerra, com linhas de montagem de pneus a serem convertidas para produzir pneus para viaturas militares 8x8, com as fábricas de ceifeiras debulhadoras da Rostselmash ou as fábricas de tractores Kirovets a receberem encomendas para componentes e peças para carros de combate e viaturas de infantaria.
Ou seja: Ao por em andamento uma economia de guerra, a Russia está neste momento muito melhor preparada para produzir mais armamentos. A Europa durante estes dois anos ficou parada, a olhar para uma América em que Ron de Santis parecia ser o opositor de Biden nas eleições e em que Trump, afogado em escandalos de corrupção parecia longe de voltar à presidência.
Agora, de repente, a Europa percebeu que pode ficar sozinha, sem América a quem pedir ajuda.
E pior, com uma América que pode objetivamente ser uma aliada da Russia, sendo Trump basicamente um prostituto que se vende ao ditador que lhe der mais dinheiro.
Essa Europa, não tem coordenação, tem um nível de interoperabilidade entre os seus sistemas de armas, que sem a ajuda dos americanos corre o risco de não funcionar.
Cada país segue "guidelanes" da NATO muitas vezes difusos e normas que nem sempre são cumpridas. Os gastos militares mínimos de 2% do PIB são uma demonstração de como a Europa está longe da realidade.
Passados mais de 24 meses desde a invasão russa, a única coisa que se pode dizer que alguns países europeus fizeram foi encomendar armas aos americanos.
E as armas são encomendadas aos americanos, porque a industria europeia não tem capacidade para as produzir em quantidade.
Cada país europeu quis proteger a sua industriazinha especifica, o seu nicho, o seu pequeno oásis de excelência. O resultado, são produtos caros, sem economia de escala e que muitas vezes nem sequer são 100% compatíveis.
Uns países encomendam F-35 americanos, outros ainda andam de F-16, outros de F-18. Depois há os Mirage-2000 e mais os Eurofighter e agora até os Gripen são caças da NATO.
Praticamente cada país europeu tem as suas armas específicas, as suas familias especificas de viaturas, em que até se especifica um motor diferente para uma veículo, porque há motores desse tipo noutras viaturas da força.
A Europa não pode começar a produzir carros de combate, aviões, viaturas de transporte de pessoal, nem sequer camiões correspondendo a uma especificação europeia, porque ela não existe e porque dependemos em tudo da NATO e depender da NATO quer dizer depender dos americanos.
E isto tudo, é do conhecimento dos russos.
É por esta razão, por saberem ao ponto a que a Europa chegou, que os russos ficaram tão espantados há dois anos, quando os países europeus decidiram que mais era demais.
Não sei se ainda se estará a tempo de fazer alguma coisa.
Mas com cada um a puxar pela sua sardinha, e a pensar em sacar alguma vantagem, secundarizando o verdadeiro problema, é perfeitamente aceitavel achar que os russos, vão aproveitar-se deste caos, como sempre fizeram.