Moody’s sobe rating de Portugal para clube do 'A'. Nunca tinha estado acima de EspanhaA agência de notação financeira elevou a classificação atribuída à República, o que não acontecia desde setembro de 2021. Fica agora um nível acima do rating atribuído pela S&P e no mesmo patamar que a Fitch e DBRS. "Excelente notícia", diz Medina.

A Moody’s melhorou a notação da dívida soberana de Portugal em dois níveis, para o 7.º grau da categoria de investimento de qualidade (ou seja, quatro níveis acima de "lixo").
Com esta subida, Portugal regista pela agência Moody's uma avaliação de risco que é melhor que a que atribui a Espanha. Nunca Portugal teve uma notação superior à espanhola por qualquer agência.
Já o "outlook" (perspetiva para a evolução da qualidade da dívida) foi revisto em baixa, de positivo para estável. Em maio passado, recorde-se, a agência tinha subido a perspetiva para positiva, indicando assim a possibilidade de vir a fazer um "upgrade" da classificação - o que aconteceu.
Desde setembro de 2021 que a notação da República estava no segundo nível acima de "lixo". Entretanto, as duas outras grandes agências, Fitch e a Standard & Poor’s, tinham melhorado a notação portuguesa, para três níveis acima de "junk", mas a Moody’s continuava sem lhe mexer. Em setembro passado, a Fitch voltou a subir a nota, colocando Portugal no clube do 'A' - algo que a Modody's fez também agora.
O atual rating de A3 significa que a agência considera que Portugal dispõe de uma "forte capacidade de reembolso" da dívida.
"Excelente notícia", diz Medina"A subida de dois níveis no rating de Portugal para A3 anunciada pela Moody’s é uma excelente notícia para o país", afirmou o ministro das Finanças, Fernando Medina, em comunicado.
Portugal fica agora com uma notação de risco em patamar de ‘A’ por três agências de rating (Moody’s, Fitch e DBRS), o que abre a porta de um conjunto muito alargado de investidores à dívida pública portuguesa, refere o Ministério das Finanças em comunicado.
"Esta avaliação traduz-se assim em juros mais baixos para o Estado, as empresas e as famílias, o que é sempre importante, mas é ainda mais importante num contexto de uma política do BCE de taxas de juro altas", acrescenta.
O facto de esta decisão da Moody’s ter sido tomada já após a marcação de eleições legislativas antecipadas "demonstra que os fundamentais da economia são robustos e confirma que Portugal conquistou um lugar entre o grupo de países com maior qualidade creditícia e maior credibilidade internacional. Um lugar que é essencial preservar", aponta ainda o ministério tutelado por Medina.
Os "créditos" de PortugalA Moody’s justifica a decisão no relatório divulgado esta noite, dizendo que "reflete os sustentados efeitos positivos, no médio prazo, de uma série de reformas económicas e orçamentais, no desendividamento do setor privado e no fortalecimento em curso do setor bancário".
As perspetivas para Portugal no médio prazo, sublinha a agência, "são alicerçadas em significativos investimentos privado e público, bem como na implementação de mais reformas estruturais, ambos em associação ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) do país".
"Além disso, nos próximos anos, ao contrário de outros países em vias de envelhecimento, a Moody’s estima que o impacto negativo das tendências demográficas sobre o crescimento potencial seja atenuado por uma sustentada migração líquida, maiores taxas de participação e aumento do crescimento da produtividade laboral", aponta o relatório.
Enquanto isso, refere a agência, "o choque pandémico interrompeu apenas temporariamente a redução do encargo da dívida". "O crescimento robusto e os orçamentos amplamente equilibrados significam que o encargo da dívida continuará a diminuir a um dos ritmos mais rápidos de entre as economias avançadas, apesar de partir de níveis altos".
A Moodys salienta ainda que o facto de haver mais tendências positivas na solidez económica e orçamental equilibra os recentes riscos políticos. "As investigações de corrupção fizeram com que o primeiro ministro, António Costa, se demitisse, levando assim o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa a anunciar eleições antecipadas. Embora as evidências, até agora, mostrem que as instituições portuguesas permitem que Portugal solucione esta questão de forma eficaz, estes desenvolvimentos políticos poderão abrandar o progresso no investimento e nas reformas associados ao PRR", refere.
Ainda como potencial aspeto negativo, a agência aponta também a exposição do país a riscos climáticos, "que poderão ter um impacto material negativo no crescimento e nos indicadores que a Moodys atualmente assume".
Apesar destes riscos, a Moody's estima, de momento, que a economia portuguesa cresça a um ritmo médio de 2% nos próximos cinco anos.
A importância de estar no clube do rating 'A'"A decisão da agência Moody’s sucede a melhoria da perspetiva pela agência Standard & Poor’s ocorrida em setembro, o que abriu caminho a uma subida de notação para o nível de notações ‘A’ também por esta agência. Isto já depois de as agências Fitch e DBRS terem subido o rating nacional para o nível ‘A’ em julho e setembro deste ano", relembra o Ministério das Finanças no seu comunicado.
E prossegue: "Ratings de níveis ‘A’ traduzem-se no acesso do país a um maior número de investidores internacionais que aplicam fundos em dívida de países com menor risco. Daí decorre um custo mais baixo para o financiamento da República e, logo, menores custos para os contribuintes. Uma redução dos custos da República tende também a reduzir os custos de financiamento do setor privado, para benefício de famílias e empresas".
"Na sequência de decisões positivas ao longo de 2023, Portugal é considerado um país que garante a sustentabilidade das suas finanças públicas através de uma redução sustentada do défice orçamental, da sua dívida pública e privada e por uma trajetória de crescimento económico marcado. Este enquadramento explica uma maior resiliência e competitividade da economia e, por isso, uma redução do risco de crédito do soberano", aponta ainda.
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