Uma curiosidade que não se prende diretamente com a questão ucraniana mas que está ligada, passou ao largo, nesta questão do afundamento do cruzador Moskva.
Pelas minhas contas, trata-se do primeiro grande navio de guerra afundado por mísseis anti-navio.
Em situação de combate aberto, e afundado durante o desempenho de missões, o último cruzador afundado foi o Belgrano e anteriormente o último (maior que o Moskva, o cruzador pesado Ashigara) tinha sido afundado por torpedos.
Isto levanta uma questão.
Quando os americanos foram buscar couraçados ao depósito durante a era Reagan e chegaram a bombardear o Libano com as peças de 16 polegadas do couraçado New Jersey dizia-se que os navios eram mamutes do passado e que não podiam ser defendidos contra as armas modernas.
Os defensores, afirmaram que num navio como o New Jersey, um míssil Harpoon era pouco mais que a ferroada de uma abelha, porque além da enorme blindagem do navio, a sua compartimentação e sistemas para impedir o alagamento de compartimentos, faziam com que fosse impossível afunda-lo com mísseis.
Portanto, a ideia de que os ucranianos atingiram o Moskva com dois misseis, fizeram dois buracos, a água entrou, e pronto, não faz grande sentido. Não altera o resultado e a desastrosa perda russa, mas lembra que num navio que desloca mais de 12.000t, as coisas não são assim tão simples.
Os mísseis tiveram forçosamente que atingir o navio - claro - mas o seu sucesso só se pode dever a um grau de sorte elevado.
Caso contrário os ucranianos teriam na mesma desabilitado o navio, forçado a sua volta para o porto, mas não o teriam afundado.
Durante a II guerra mundial, em Midway, os porta-aviões japoneses foram apanhados com as calças na mão, com bombas e combustível nos decks, por causa de opções tácticas que levaram a alterar o armamento que os aviões transportavam. Isso acabou por influir no destino dos navios.
Para que o navio tenha afundado, as explosões tiveram que ser tremendas e descontroladas. Isto quer dizer que, a probabilidade de, no meio de uma indescritivel carnificina e numa tempestade, os russos terem evacuado o navio, é tão credível quando a notícia de que os russos capturaram o incrivel Hulk em Mariupol, com passaporte americano.
Ou seja, os navios precisam dos mísseis para atingir o inimigo, mas se não ocorrer uma sucessão de problemas dentro da embarcação, ela continuará a precisar ser destruida com outro tipo de arma.
Ou então não ...
Se um navio como o Moskva fosse atingido no Atlântico, para onde é que ele seria rebocado ?
O porta-aviões russo, anda com um rebocador atrás, porque as turbinas estão constantemente a avariar...
Uma das consequências disto, poderá ser, como com a Alemanha Nazi, o abandono das ideias sobre grandes esquadras de superficie.
A Russia terá que abandonar as águas e assim perder grande parte da sua capacidade de projeção estratégica.
Poderá limitar-se aos submarinos, deixando para a China o trabalho de tentativa de controlo marítimo.
mas isto, já é tema para um tópico sobre geoestratégia...