Como a Ucrânia se tornou no maior viveiro de neonazis do mundo
A Ucrânia tornou-se para a extrema-direita o que a Síria foi para o Daesh. Militantes recebem treino, melhoram tácticas e técnicas e estabelecem redes internacionais, e depois regressam aos seus países. Milhares de estrangeiros combateram em milícias contra os separatistas pró-russos no Leste do país.
RICARDO CABRAL FERNANDES
21 de junho de 2020
https://www.publico.pt/2020/06/21/mundo/noticia/ucrania-campo-treino-militar-extremadireita-mundial-1921065/
O Público, através do seu jornalista Ricardo Cabral Fernandes (mais conhecido pelos seus artigos no Esquerda.net), publicou recentemente uma “investigação” sobre a ligação da extrema-direita portuguesa à extrema-direita ucraniana e “Como a Ucrânia se tornou no maior viveiro de neonazis no Mundo“.
Para pessoas que, como eu, amam a Ucrânia, ver o nome deste país associado a organizações deste tipo é difícil de digerir, mas o facto é que é inegável que existem organizações de extrema-direita a actuar na Ucrânia livremente. Estas organizações, apesar de terem tido um papel activo na defesa da Ucrânia contra a invasão russa e obterem grande parte dos seus recrutas devido a esse facto, prejudicam a imagem da Ucrânia e ajudam a propaganda russa a passar a sua mensagem de estar a combater os “nazis” ucranianos.
Esta "investigação” do Público cai precisamente nos vários clichés da propaganda russa sobre a Ucrânia, e não traz à luz qualquer novidade sobre a crescente rede de ligações internacionais entre grupos neo-nazis e de extrema-direita. Presumo que quem “investigou” não tenha dedicado muito tempo a procurar fontes e a realmente investigar sobre o crescimento de organizações de extrema-direita e sobre o seu financiamento crescente. Porque se tivesse efectivamente pesquisado sobre o assunto e não tivesse obtido parte da sua informação através dum conhecido defensor do regime russo como o Alexandre Guerreiro (um homem que chegou a pedir o Prémio Nobel da Paz para Putin), talvez tivesse conhecimento sobre o financiamento por parte da Rússia de vários partidos da extrema-direita europeia como o FPÖ austríaco, a AfD alemã ou a FN francesa, partidos esses com ligações a grupos neo-nazis. Também traria a nú o facto de a Rússia continuar a ter ligações com vários partidos da extrema-esquerda, nomeadamente com a Die Linke, explicando por que razão no Parlamento Europeu tanto o grupo Europe of Nations and Freedoms como o Greens/European Free Alliance (da qual o Bloco de Esquerda e o PCP fazem parte) têm tido um registo de voto consistente pró-russo.
Também é estranho que com o aparecimento nos últimos meses de cada vez maior número de notícias sobre campos de treino de extrema-direita na Rússia e sobre o grupo “The Base” cujo líder Rinaldo Nazzaro é procurado pelo FBI, mas continua a viver em São Petersburgo em liberdade, o Público tenha decidido focar-se numa pseudoinvestigação sobre a Ucrânia, tendo para isso escolhido um ex-contribuinte do Esquerda.net.
É que se na Ucrânia, de facto existe um problema com a extrema-direita, pelo menos o regime ucraniano não promove a exportação dessa ideologia, e muito menos financia partidos ligados à promoção de ideias xenófobas e racistas.
Os ucranianos, já mostraram, mesmo à custa da sua própria vida, que querem pertencer a uma Europa democrática e livre e as eleições na Ucrânia demonstram que não querem nada com ideologias extremistas. Estão actualmente em guerra com a Rússia que tem como objectivo fomentar a implosão da União Europeia. Para atingir esse fim, o regime russo utiliza vários métodos, entre eles o financiamento de partidos, grupos de interesse e órgãos de comunicação social por toda a Europa. Já para não falar dos vários assassinatos de opositores do regime russo que têm ocorrido pela Europa nos últimos anos sem que o Público tenha dedicado “investigações” a esse problema crescente.
Quero acreditar que tudo não passou de jornalismo de baixa qualidade. Porque a alternativa é pensar que a “mão russa” acaba de chegar aos meios de comunicação social portugueses sob a capa de “jornalismo de investigação”.
https://www.theguardian.com/world/2020/jan/23/revealed-the-true-identity-of-the-leader-of-americas-neo-nazi-terror-grouphttps://www.dw.com/en/german-neo-nazis-trained-at-russian-camps-report/a-53692907https://imrussia.org/en/analysis/world/2368-europes-new-pro-putin-coalition-the-parties-of-nohttps://www.opendemocracy.net/en/odr/don-t-ignore-left-connections-between-europe-s-radical-left-and-ru/https://www.telegraph.co.uk/news/2020/01/24/leader-us-nazi-group-base-traced-russia-fbi-arrest-members-charges/https://www.bbc.com/news/uk-53128169https://www.dw.com/en/why-are-german-neo-nazis-training-in-russia/a-53702613https://www.voanews.com/extremism-watch/radical-russian-imperial-movement-expanding-global-outreachhttps://www.theatlantic.com/ideas/archive/2018/08/russia-is-co-opting-angry-young-men/568741/https://www.haaretz.com/us-news/.premium-america-s-neo-nazi-terrorists-have-a-powerful-new-patron-vladimir-putin-1.8471461https://www.rferl.org/a/german-neo-nazi-training-in-russia/30655860.html