A Rússia está a proteger os seus próprios interesses na Síria diz embaixador
"No [grupo 'jihadista' Estado Islâmico] EI, existem infelizmente centenas de cidadãos russos e dos países da Comunidade de Estados independentes (CEI). Precisamos de combater a ameaça terrorista nos territórios adjacentes, para que esta ameaça não entre no nosso território. Em termos gerais, a nossa política neste caso é transparente. Como se diz na Rússia, não temos uma pedra dentro de casaco, não temos nada a esconder", referiu o embaixador Oleg Belous em declarações à Lusa.
O diplomata recordou que a diplomacia de Moscovo pauta a sua atuação pela defesa da "estabilidade e governabilidade dos países desta região do Médio Oriente" e apesar de denunciar, sem precisar, "o caos que algumas partes querem fomentar", dando como exemplo a atual situação na Líbia.
"A nossa posição é clara, achamos que uma das principais ameaças no mundo atual é o terrorismo islâmico, precisamos de formar uma ampla coligação internacional. Uma ideia que está a ganhar recetividade junto dos nossos parceiros", assinalou.
Oleg Belou recordou que "após os horríveis atentados terroristas em Paris" de 13 de novembro, "concordámos com os franceses na necessidade de uma estreita cooperação, inclusivamente no campo militar", e o mesmo está a suceder com outros países.
O representante diplomático de Moscovo rejeitou ainda as recentes alegações provenientes da administração dos Estados Unidos, onde se referia que apenas 30% dos ataques russos visaram o EI desde o início da sua intervenção militar na Síria, desencadeada a 30 de setembro a pedido do regime de Bashar al-Assad.
"O porta-voz do Departamento de Estado também disse que os EUA se congratulavam com as ações na Rússia na luta contra o terrorismo e consideram muito importante o contributo da Rússia no âmbito da coligação antiterrorista contra o EI", contrapôs.
"As ações das forças russas são muito transparentes e diariamente um representante do exército fornece informações publicamente sobre as ações, os alvos atingidos e os meios utilizados", adiantou Oleg Belous, antes de sustentar que a atuação russa no país árabe foi decidida "a pedido do Governo legítimo da Síria, em colaboração estreita com o exército governamental e em coordenação com outras forças regionais".
A troca de informações entre russos e norte-americanos, no âmbito dos planos de ataques efetuados pelas aviações da coligação internacional e da Rússia, e a criação de um centro de coordenação em Bagdad que integra o Iraque, Irão, Síria e Rússia, também para a definição dos alvos a atingir, serviram de exemplo para justificar a necessidade de ampla cooperação.
O embaixador da Rússia destacou ainda a declaração do Grupo internacional de ação para a Síria, emitida em 14 de novembro após uma reunião em Viena onde participaram os principais atores internacionais envolvidos no conflito, incluindo a Arábia Saudita e o Irão.
Um plano que, na sua análise, poderá permitir uma solução a médio prazo para a resolução da guerra na Síria, através de conversações entre representantes da oposição síria e o Governo de Damasco, e com "eleições livres" no prazo de um ano e meio.
"Pela nossa parte, não queremos construir muros, antes criar um espaço de cooperação com as outras partes", frisou.
Lusa