Permitam-me fazer, em linhas gerais, uma pequena resenha histórica;
1 – Inicio do Sec. XXI – Exército profissional sem SMO
Traduzindo a decisão de constituir um Exército profissional a sua constituição base era de 3 brigadas de manobra + as forças de apoio geral + as forças das regiões autónomas.
Estas forças traduziam-se numa força operacional de 12 a 14 mil homens.
Outra referência era que 50% a 60% dos efetivos estariam na componente operacional, com isto o Exército deveria ter um efetivo total de 22 a 25 mil homens.
No início o valor mínimo total de 22 mil homens com 12 mil praças foi conseguido.
Com o passar dos anos as dificuldades de recrutamento foram aumentando, entre vários motivos saliento o fim do SMO, que permitia obter muitos voluntários e a instabilidade de recrutamento com adiamentos e cancelamentos de incorporações.
Ficaram também na história os orçamentos absorvidos pelos custos com pessoal e a não execução das Leis de programação com adiamentos e cancelamentos de aquisições de equipamentos.
2- O País entrou em bancarrota e tivemos a Troika….
O que estava inicialmente previsto era a redução de 10% do efetivo das Forças Armadas que se situava nos 40 - 42 mil homens.
Neste raciocínio o efetivo global deveria baixar para os 36 – 38 mil homens, no entanto, a diretiva do governo ‘Defesa 2020’ apontou para os 30 – 32 mil homens.
Ainda não chegamos ao ano 2020 e estamos abaixo do limite inferior de 30 mil!
Nesta encruzilhada a instituição, Forças Armadas, defendeu-se como pode, tentando manter o máximo de capacidades.
3 – Efetivos no Exército e na Brigada Mecanizada;
O Exército foi o ramo mais penalizado nesta redução de efetivos, implicou reduções generalizadas nas unidades e a extinção de algumas delas (exemplo: 2º BIMec).
Aqui entronco a Brigada Mecanizada e os seus efetivos de apenas 1400Homens.
Esta realidade não é apenas de esta brigada, as outras estão iguais, a BRR e a BInt têm um efetivo superior apenas porque a sua componente territorial é maior devido á dispersão de Unidades pelo País.
Com a diretiva ‘2020’ o Exército alterou o conceito das brigadas, se até essa diretiva as brigadas eram unidades que deveriam constituir-se de forma independente para combate, após esta diretiva as brigadas passaram a estar dependentes umas das outras.
Como exemplo, a BRR inclui a Unidade que tem a responsabilidade de ISR, Agrupamento ISR do RC 3, trata-se de uma força de apoio geral de emprego em todas as brigadas e não apenas na BRR.
Outro exemplo é a existência no Exército de apenas um Batalhão de Apoio e Serviços na Brigada Mecanizada, as restantes brigadas têm ‘Núcleos permanentes’.
4 – Opções – constituição das forças, recursos humanos
A existência de unidades incompletas tem vários inconvenientes e pelo que leio não são do agrado de muitos dos que escrevem no fórum, mas também existem vantagens, uma delas e na minha opinião a mais importante é permitir aos quadros experiência, ou seja, um oficial deve ter a experiência profissional e humana de efetivamente comandar, o mesmo se aplica aos sargentos.
Com uma estrutura concentrada não existe margem para dar experiência aos quadros, apenas um pequeno número teria essa oportunidade.
Exemplo; se temos 10 batalhões podemos dar a oportunidade a 10 oficiais de comandar um batalhão, se concentrarmos os efetivos existentes em 5 batalhões, apenas 5 passarão por essa realização profissional.
Não nos podemos esquecer que a raiz do Exército são os seus quadros permanentes (oficiais e sargentos) que necessitam de oportunidades e estímulos.
Não confundir uma estrutura que dê oportunidades com uma de ‘tachos’.
5 – Opções – constituição das forças, instalações e equipamentos
Acredito que o princípio deve ser aproveitar as instalações e os equipamentos em melhor estado e com maior potencialidade independentemente da sua localização.
Santa Margarida é nevrálgica para o Exército tal como a presença de unidades por todo o País pois permite uma proximidade ás populações com claro benefício para ambos.
Uma boa gestão dos recursos existentes deve ser prática constante e não apenas porque existe uma redução de efetivos.
Aqui deixo alguns exemplos que na minha opinião merecem reflexão;
A Academia Militar deveria estar concentrada na Amadora!
Os vários comandos superiores do Exército poderiam estar concentrados em duas ou três instalações, e não em múltiplos locais!
Alguns dos nossos aliados têm sistemas de armas em armazém que são melhores, e por vezes soluções que não temos, que poderíamos adquirir.
Como exemplo; o BIMec que continua a utilizar os veneráveis M113 quando existem centenas de verdadeiras VCI em armazém em vários países aliados.
Muitas destas VCI são antigas, no entanto, existem vários programas de modernização em curso que as mantêm e manterão na linha da frente por mais duas décadas.
Termino salientando a importância da Brigada Mecanizada.
O seu futuro passa por maior clarividência estratégica e não pelos recursos que atualmente não tem.