Meus caros amigos brasileiros,
Tenham lá calma que eu não pretendi ofender ninguém, ok? Não me parece que esse tipo de linguagem e insinuações levem a lado nenhum, tá? Só gostava que alguém me explicasse (e estou a dizer isto sem ponta de ironia...) qual o conceito doutrinário estratégico por trás da aquisição do São Paulo, porque não me parece, de todo, a melhor utilização de recursos, senão vejamos:
Um porta-aviões é uma arma de projecção de poder e ofensiva por excelência; pode atacar aqui um dia e a 1000 kms de distância no dia seguinte. É fantástico e tem o potencial para permitir a um país a superioridade naval e aérea sobre uma vasta àrea de oceano. Até aqui estamos todos de acordo, agora vamos às desvantagens:
a) É extremamente caro e complexo de utilizar. Quantas fragatas e navios de patrulha de última geração pode ser operadas pelo mesmo preço? Muitas...
b) Além disso, necessita de de ser convenientemente protegido. Tudo o que seja menos de 2 ou 3 navios de defesa anti-aérea de última geração (Burkes ou Darings, p.ex.) e outros 2 ou 3 de defesa anti-submarina (tipo FREMM), mais um submarino nuclear (para poder mover-se à mesma velocidade da força-tarefa) é pura perda de tempo, porque a única coisa que faz é tornar o porta-aviões um "sitting-duck" de 40000 toneladas. Vejam o que aconteceu com o 25 de Mayo na guerra das Malvinas... basta a oposição (seja o Chavéz, seja quem fôr) ameaçar pôr submarinos de última geração, sejam nucleares, sejam convencionais com AIP ou Kilos modernizados, por exemplo, com armas anti-navio e torpedos de última geração e o porta-aviões não sai do porto se não tiver confiança na capacidade da escolta de eliminar ou neutralizar a ameaça. Agora vamos à questão financeira: três Burkes/Daring e três FREMM nunca ficam por menos de 6000 milhões USD.... quem tem dinheiro para isso?
c) Agora vamos ao grupo aéreo. Por muitas modernizações que os A-4 levem, alguém acha sinceramente que se podem opôr aos SU-30 venezuelanos, que me parecem ser a única ameaça aérea credível no hemisfério sul? A não ser que a Marinha Brasileira compre Rafale, o que, a manter o A-12 em serviço, parece o caminho óbvio a seguir... mais 2000 milhões de USD para 20-25 aviões!
Vamos agora a um conceito estratégico alternativo, aliás defendido há pouco pelo vosso Presidente: o Brasil não tem ideias expensionistas e pretende, acima de tudo, proteger a sua integridade territorial e os seus recurso naturais, sejam em terra, seja no mar. No que diz respeito à Marinha Brasileira isto implica efectivamente manter uma postura defensiva relativamente às ameaças previsíveis e "selar" grande parte do Atlântico Sul, se necessário fôr.
E quais são as maiores ameaças previsíveis? A arma de negação do espaço marítimo por excelência são, como sabemos, os submarinos, pelo que a grande ameaça à supremacia da Marinha Brasileira deverá vir dos U-209 argentinos (os que ainda funcionarem...) e, especialmente, dos Kilo modernizados venezuelanos, armados com míssies anti-navio de última geração... na configuração actual e com a força de escolta actual, alguém acha que se o Chavéz disser que tem dois ou três Kilos armados com mísseis Klub ao largo do Rio de Janeiro o São Paulo sai do porto???
Como todos sabemos, a melhor arma ASW é outro submarino, certo? Especialmente um que consiga ser uma arama dissuasora eficaz numa área tão grande como o Atlântico Sul, i.e., que possa manter-se submerso durante quanto tempo quiser, com velocidade elevada e sensores e armas modernos. Alguém reconhece aqui a especificação de submarinos de ataque nucleares? A meu ver, a Marinha Brasileira devia apostar tudo (ou quase) em colocar operacional rapidamente uma pequena flotilha de submarinos nucleares (tipicamente três, para manter sempre um em patrulha e outro de prontidão), complementada por outra de submarinos convencionais avançados com AIP. Daí os meus parabéns pelo último anúncio e que levou a esta discussão...
Em termos de frota de superfície parece-me que o Brasil devia apostar em OPVs de grande autonomia para manter uma boa vigilância sobre a ZEE e as plataformas petrolíferas, complementado por uma frota de superfície com ênfase ASW e anti-navio moderna mas não excessivamente numerosa (diria cerca de nove a doze navios).
Com uma Marinha com esta estrutura parece-me que seria praticamente impossível a quem quer que não se chame US Navy disputar a supremacia (nem falo de superioridade) no Atlântico Sul...
Claro que estou disponível para ser desmentido e se me conseguirem justificar a utilidade do São Paulo e a vantagem de o ter, por comparação com esta estrutura, serei o primeiro a dar a mão à palmatória... só peço é civilidade na discussão, ok?
Um abraço a todos
João