Relativamente à questão do navio logístico, creio que não me fiz perceber, ou então no meio do meus testamentos anteriores, perdeu-se o sentido da afirmação.
Assim e em primeiro lugar, devemos colocar os pontos nos “is” quando começamos a falar de compras de equipamento e material.
Eu tenho por hábito ver os preços das coisas, para perceber se tenho dinheiro, ou lugar onde o ir buscar.
A primeira coisa que fiz foi olhar para a realidade atual.
Verificando quanto é que de facto é gasto, ou pelo menos o que é que oficialmente o governo de Portugal diz que gasta.
Os números são divulgados pela NATO e estão disponíveis.
Deles resulta que a primeira coisa que salta à vista, é que Portugal é o país onde é maior a proporção de custos com o pessoal.
Portugal gasta 63,1% do dinheiro para a defesa, com custos com pessoal. É o país com mais gastos nesse setor, seguido da Itália com 62,4% e da Espanha, com 57,2%
Países que nos são mais próximos em termos de dimensão, atingem valores como 44,2% na Rep.Checa, ou 43,7% na Grécia.
Os custos com pessoal, segundo as regras da NATO incluem gastos com por exemplo a GNR, a Gendarmerie francesa e Guardia Civil e a UME espanhola ou os Carabinieri italianos.
O que às vezes esquecemos, é que também incluem até coisas como por exemplo os custos com as pensões dos ex-militares.
Não é o Estado Português que anda a enganar a NATO, incluindo a GNR nas despesas, já que todos fazem a mesma coisa.
Daqui resulta que, no ano de 2022 as compras daquilo que a NATO considera “Major Equipment Purchases” representaram em Portugal 17,9% do bolo. Aqui estamos ao lado da Eslovénia, como campeões dos que gastam proporcionalmente menos.
Se os gastos portugueses atingiram € 3,328 milhões, podemos extrapolar:
€ 2100 milhões para pensões salários etc …
€ 632 milhões para operações, e infraestruturas
€ 596 milhões para aquisições de equipamento.
As despesas aqui, incluem aquisição de material, munições e gastos com gabinetes de desenvolvimento de tecnologia e investigação (R&D).
Façamos um exercicio teórico (arredondando os numeros):
10% desse valor fica normalmente cativado (não se pode cativar dinheiro para as despesas correntes, pelo que as cativações recaem sempre sobre as verbas para o que são despesas extraordinarias)
10% vai para o R&D
5% para meios da GNR
22,5% para o exército
22,5% para a Força Aérea
30% para a marinha (considerando que por muito que os outros ramos sejam interessantes, a geografia força-nos a gastar mais com a marinha)
Teriamos tido então, acesso a cerca de € 190 milhões de Euros por ano para a marinha.
Cento e noventa milhões de Euros para todas as compras, desde novos radares, peças para os patrulhas, motores para os navios (e não tenho a certeza se grandes reparações entram aqui).
Isto tudo para dizer o quê ?
Para dizer que, o orçamento da defesa e o orçamento para a marinha, não é apenas pequeno e que não chega para LPD's.
O que acontece é que o orçamente praticamente não existe.
Afirmar que o NavPol é um disparate porque não há dinheiro, é redundante.
Um navio de apoio logistico do tipo “Landing Platform Dock” tinha um orçamento previsto há 15 ou 20 anos atrás, que hoje pura e simplesmente não faz sentido. O custo de um navio do tipo poderá andar entre os €400 milhões mais ou menos básico e os €600 milhões, se tiver capacidades de comando e controlo, a que se junta uma área hospitalar.
Ora...
Isto quer dizer que o atual estado de coisas, é insustentável, se o país quer pura e simplesmente manter umas forças armadas.
O patamar de 2% para a defesa, é o patamar mínimo e nós temos andado nos últimos nove anos entre os 1,24% de 2017 e os 1,56% de 2021.
Gastámos em 2022 1,44% do PIB
Mas a percentagem de gastos com novos equipamentos, atinge os 0,27% do PIB (zero virgula vinte sete por cento).
Tudo isto são contas de merceeiro, mas …
Portanto, com 0.27% do PIB destinado à aquisição de novos equipamentos, não há praticamente nada que se possa fazer em termos de equipamentos novos e modernos.
Eu estive a tentar ver como seria o orçamento com 2% do PIB, o que implica desenterrar mais ou menos 1200 milhões de Euros todos os anos e mesmo assim, não há como colocar duas fragatas de 800 milhoes no orçamento, pagas a 20 anos, com juros de 3% ao ano e com um custo de manutenção minimo de 5% do valor todal inicial por ano para manutenção (para os navios civis, estimamos normalmente 10%).
Considerei o LPD, duas fragatas, quatro corvetas e o custo do resto do pagamento dos submarinos U209PN
Costuma-se dizer que o dinheiro arranja-se sempre.
Quando olhamos para o encolhimento das compras no setor da defesa, percebemos que afinal ele vem muitas vezes de algum lugar ...