O G 20 obteve alguns resultadozinhos práticos de âmbito técnico, mas não surtiu qualquer efeito no limite da expansão comercial da China, nem da Alemanha. Assim como a limitação às actuais manipulações da moeda não passam de promessas de valor simbólico. Não é de estanhar, pois trata-se de uma arma eficaz nas "guerras cambiais" entre Estados e mercados que têm permitido aos primeiros evitar os constrangimentos dos segundos.
Enquanto o Ocidente industrializado e desenvolvido vai oscilando entre modelos de estímulo e austeridade para ressuscitar as economias a China tem construído uma espécie de
golden share global. E é ela que vai incutindo substância (=
carcanhol) nos diversos Tesouros soberanos.
A intervenção de estímulo económico de Obama, face ao anterior desgoverno desastroso de Bush, agravado pela crise de 2008, tem obrigado a constantes reajustes da economia, cada vez mais frequentes.
Um dos mais recentes
relatórios do FMI (sim, os mesmos que nos vão ajudar a ser responsáveis) apontou o que já vai sendo óbvio: são necessárias medidas suplementares para estabilizar devidamente o
rácio dívida / PIB, para além do ajuste fiscal em grande escala, equivalente a 14% do PIB.
A mesma instituição constatou as graves deficiências na política fiscal. no
Selected Issues Paper (Section VI) de Julho passado.
A procura interna é insuficiente, a taxa de desemprego ainda demasiado elevada, tendo recuperado apenas ligeiramente de níveis próximos do pós-Depressão de 1930.
Outras agravantes consistem
1) na dificuldade de regulação dos mercados, face à vulnerabilidade da economia sujeita à "volatilidade" extrema de 2008 e
2) na recente quebra/crise soberana das economias europeias, com efeitos nocivos para os EUA, levando os investidores a procurarem "refúgio" na economia norte-americana, por seu turno fazendo disparar o valor do dólar e, consequentemente, diminuir o valor das exportações.
Os riscos são, portanto, muito elevados e os estímulos ainda estão longe de estabilizar a economia. A questão é que a cura neste caso não se compadece com soluções fáceis e imediatas. Aliás, alguns importantes ganhos foram conseguidos nas reformas de Obama no Sistema de Saúde e na Segurança Social, desafios de longo prazo, assim como as medidas de reforma do sistema financeiro. Porém, e de acordo com as análises do FMI, as medidas só atingirão as metas a que destinam se a regularização e controle das mesmas for aplicado de modo rigoroso e continuado. Só assim se evitarão futuras ameaças sistémicas. Uma implosão financeira é sempre possível.
A economia norte-americana permanece um imenso campo minado. Washington continua a contrair empréstimos a ritmo acelerado, enquanto a economia do país se mantém deteriorada. A retoma ainda é lenta e o seu custo é elevadíssimo. Por exemplo, não está a criar emprego suficiente, apenas impede que este diminua. A
manutenção deste montante de endividamento é incomportável por muito mais tempo sem consequências negativas.
A difícil herança económica norte-americana radica na acumulação de desgovernos e políticas imprudentes consideradas indispensáveis à manutenção dos Estados Unidos enquanto super-potência a qualquer custo. A diferença com crises anteriores é que, hoje, os problemas são essencialmente estruturais, de solução demorada e de uma escala sem precedentes.
Este é o futuro próximo dos EUA
Enquanto isto, o investimento estrangeiro é particularmente bem-vindo. Daí esta digressão inédita de peditório de um Presidente norte-americano às potências asiáticas para estímulos adicionais da economia mais poderosa do Mundo.
É que, precisamente, a China, o Japão, e até o Brasil, têm alimentado o Tesouro dos Estados Unidos. Estes países detêm mais de metade dos juros da dívida e podem desfazer-se deles num nanosegundo.
Rédea curta, portanto.
Sigam o gráfico...
Exactamente: os Estados Unidos estão ali no último lugar da lista de 190 países.
Dados da CIA
Ao ritmo actual do endividamento e dos resultados negativos acumulados ao longo desta década, sucedem-se os modelos teóricos de previsão económica que raramente acertam...
Os prejuízos acumulam-se e, literalmente, não há tecto que aguente.
E, para onde quer que olhemos, lá está a China, pelas piores e pelas melhores razões. Assim à imagem dos Estados Unidos...