O Mistério do Rei Dom Sebastião, o Desejado

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O Mistério do Rei Dom Sebastião, o Desejado
« em: Novembro 09, 2009, 03:40:01 pm »
Bom, isto é uma ideia, que verão a seguir, e não é a única - Professores da Universidade de Cádiz, Espanhois(da Univ. Cádiz se não me engano) perfeitamente imparciais levaram a cabo um outro estudo sobre D. Sebastião onde acertam com toda a deteminação que este sobreviveu á Batalha de Alcácer Quibir, mas noutra teoría que está publicada.

Mas é de outro estudo mais antigo e conhecido tradicionalmente entre elítes portuguesas e europeias que se trata a seguir:

PESQUISAS HISTÓRICAS SOBRE SEBASTIÃO I,
REI DE PORTUGAL
(Paris, 1904)
ou
de como o Desejado
morreu no exílio, em Limoges
(tradução, notas e foto de Manuel J. Gandra)

Gregorio Leti, na vida de Filipe II 1, rei de Espanha, faz morrer Sebastião I em Alcácer, em África, numa batalha contra os mouros.
Duverdier no seu Abrégé dHistoire dEspagne [1674], nada diz de positivo sobre a morte deste Príncipe; uma vez que estes autores, como muitos outros, sem esquecer os biógrafos, não estão de acordo no que se refere à morte deste monarca, é-nos permitido tentar formar uma opinião, e o acaso, que tantas vezes contribuiu para rasgar o véu que obscurece a verdade, será para nós, neste caso, um auxiliar precioso. A descoberta de que vamos falar desfará todas as dúvidas.
Numa carta dirigida à Comissão dos Monumentos Históricos, de que era correspondente, e que a morte impediu que chegasse ao seu destino, o abade Texier 2 escreveu:
Quando se fizeram escavações na igreja do mosteiro dos Agostinhos de Limoges, que é hoje uma fábrica de porcelana, encontrou-se entre ossadas humanas uma medalha de ouro em volta da qual se lia: Sebastianus primus Portugaliae rex. Esta medalha representava uma estátua pedestre em trajo de monge. Vi-a, examinei-a, quis moldá-la, mas com o pretexto de que dela se obteria um ouro mais puro para pintar a porcelana, não consegui, apesar do preço que propus, obtê-la daquele Vândalo, que preferiu fundi-la antes de eu poder tirar-lhe o molde, tal o medo de não poder fazer o que queria. Este elemento, reunido aos que foram recolhidos pelo historiador da deposição de Afonso VI, rei de Portugal, lançará alguma luz sobre este ponto duvidoso da história daquele monarca. Esta descoberta é a solução de um problema histórico que esteve envolto em trevas durante mais de dois séculos.

O trecho que vamos citar é extraído de uma carta de Robert Southwet, embaixador na corte de Lisboa 3.

O rei D. Sebastião, depois que lhe mataram três cavalos que montava, morreu ou foi preso pelos Mouros. Manuel de Faria e Sousa, que estava presente, disse que o rei, tendo sido ferido, foi feito prisioneiro pelos caçadores árabes, que o mataram a sangue-frio para pôr fim ao diferendo que havia por causa do prisioneiro por quem disputavam. Este facto foi igualmente atestado por Nunes de Mascarenhas, que, tendo sido preso e levado com vários outros príncipes distintos à tenda de Mulei Hamet, este lhes perguntou o que acontecera ao rei de Portugal; Mascarenhas foi o primeiro a informá-lo da morte deste príncipe e de que maneira ela ocorrera. Embora extremamente desfigurado, foi reconhecido por vários portugueses prisioneiros e da primeira nobreza; foi inumado em Alcácer Quibir; dali foi
levado a Ceuta, em 4 de Outubro de 1578, onde ficou depositado até 1582, sendo depois transportado para Lisboa por ordem de Filipe II e enterrado no mosteiro de Belém.

De acordo com esta descrição, não há dúvida de que Sebastião I morreu na sua expedição a África; todavia, alguns anos mais depois, apresentaram-se dois novos Sebastião, um na ilha Terceira e o segundo na vila de Alcáçovas 4; demonstrada a sua impostura, tiveram a sorte que mereciam.
Este exemplo de severidade não conseguiu intimidar uma terceira personagem que apareceu em Veneza em 1578, vinte anos após a derrota daquele príncipe. Devido à queixa apresentada pelo embaixador de Filipe II, rei de Espanha, este novo Sebastião foi preso, e nomeou-se uma comissão para o interrogar; foi submetido, segundo o historiador de Afonso VI, a vinte e oito interrogatórios perante o Senado de Veneza, e as suas respostas surpreenderam os juízes; nomeou todos os embaixadores que a república enviara a Portugal enquanto sebastião ocupava o trono; referiu todos os tratados e todos os despachos que tinham tido, o que foi confirmado pelos registos existentes nos arquivos da República. Quando o interrogaram sobre outras coisas, apenas questões de curiosidade, ele calava-se e pedia que o apresentassem a portugueses que o tinham reconhecido.

O doutor Sampaio, dominicano, e outro português, diz o mesmo autor, reconheceram-no como sendo o rei D. Sebastião e pediram a sua liberdade. Sampaio veio a Lisboa e daqui levou um documento feito perante um notário apostólico, que continha em detalhe sinais do rei D. Sebastião. Parece, pelo exame então feito, que este homem se parecia espantosamente com o antigo rei; tinha o lábio austríaco, a mão direita mais comprida que a esquerda, o indicador da mão esquerda mais comprido que o da direita, vinte e dois sinais em diferentes partes do corpo conformes com os de Sebastião e cicatrizes nos lugares onde o rei fora ferido
Interrogado sobre a razão por que não regressara ao seu país após o desastre, respondeu que, preocupado com a derrota e envergonhado por ter causado tão grandes desgraças ao seu reino, ao ver-se livre dos Mouros preferira viver errante a regressar a Portugal.
Depois do seu interrogatório, o Senado de Veneza, ordenou-lhe que abandonasse os territórios da República dentro de oito dias. Esta sentença decidiu o pretenso Sebastião a ir para França mas, como as passagens por terra estavam fechadas, dirigiu-se a Florença, para daí iniciar a viagem por mar. Ao chegar aos estados do grão-duque, este entregou-o aos espanhóis, e ele foi levado para Nápoles. A bordo de uma galera, foi levado para Espanha e aí encerrado no castelo de S. Lucas 5. Depois, não se falou mais dele e não se sabe o que lhe aconteceu.

A medalha que nos interessa é para nós mais um elemento a juntar aos factos históricos que acabamos de analisar. Ela contribuirá, sem dúvida, para formar a opinião a ter sobre o lugar da morte e sepultura deste príncipe.
Ao discutirmos o que foi escrito pelo historiador da deposição de Afonso VI, não pensamos que se deva considerar o testemunho dos senhores que seguiram o seu rei àquela guerra desastrosa como sendo a expressão da verdade. Na nossa opinião, a declaração que fizeram foi uma mentira política para desviar a atenção de Mulei Hamet, que não teria deixado de mandar os seus Árabes perseguir o ilustre prisioneiro. Os senhores portugueses estariam no segredo da fuga do rei, para facilitarem a sua evasão. Manuel de Faria e Sousa afirma que Sebastião foi feito prisioneiro pelos caçadores árabes que disputaram a sua cabeça, e Nunes de Mascarenhas, em resposta à pergunta do monarca africano, sobre o que aconteceu ao rei, apresenta-lhe, atravessado num cavalo, um cadáver cujo rosto mutilado não permite que se lhe reconheçam as feições.

A pompa fúnebre que se seguiu ao reconhecimento desse cadáver é, na nossa opinião, uma fraude piedosa que convenceu toda a gente; a partir daí, descansado quanto ao destino de um inimigo que morrera, Mulei Hamet gozou o seu triunfo; esquecido pelo vencedor e desconhecido dos Árabes de quem estava cativo, Sebastião iludiu a sua vigilância e teve a sorte de fugir.

Não é suficiente apoiarmos a nossa opinião na fidelidade e honra que impunham aos nobres portugueses, companheiros de infortúnio do seu rei, tentarem salvá-lo recorrendo a uma mentira; perguntaremos ainda se Sebastião, vinte anos após a sua derrota, se teria apresentado perante o Senado de Veneza pretendendo ser reconhecido como legítimo soberano de Portugal, se não fosse ele. A distância que separa a derrota do seu reaparecimento faz-nos crer que ele não podia ser um impostor. Que época teria escolhido para se fazer reconhecer? Aquela em que um rei poderoso, senhor dos seus estados enriquecido com os tesouros do novo mundo, desempenha o principal papel no teatro da Europa e é, em parte, causa de todos os grandes acontecimentos do seu século.

O desaparecimento de Sebastião após a sua expulsão do território de Veneza, tem uma explicação bastante clara para quem conheça a falta de escrúpulos de Filipe. Ambicioso e aproveitando todas as ocasiões que favoreciam os seus planos, soube tirar partido dos acontecimentos imprevistos que levaram Sebastião e a elite da nobreza do seu reino a África; a derrota daquele príncipe despertou a sua ambição adormecida.

Ao rei caído sucedeu D. Henrique, seu tio-avô, com 67 anos de idade; esse cardeal-rei, enfermo, foi um mero fantasma sobre o trono, onde apenas reinou para
provocar a discussão jurídica de quem seria, depois dele, o herdeiro da Coroa. Essa discussão atraíra muitos pretendentes, em torno daquele homem cujo carácter tímido e indeciso nunca soube tomar uma decisão, acertando constantemente o passo pelo dos seus poderosos competidores; além disso, Filipe, como hábil político, alimentava, na alma fraca de Henrique, uma indecisão que favorecia os seus desígnios. Após dois anos de reinado, morreu este fantasma de rei, sem ser lamentado e sem merecer sê-lo.

Durante o interregno, cinco regentes foram encarregados da administração do Estado. Discutiam os direitos dos pretendentes à realeza quando Filipe se apresentou como herdeiro do trono. Para dar maior peso às suas pretensões, serviu-se da espada do velho duque de Alba, que chamou de um exílio de dois anos para o lançar no reino à testa de vinte mil homens. Este golpe ousado assustou a regência, que renunciou à sua autoridade, proclamou Filipe herdeiro da Coroa e, com essa decisão, afastou todos os pretendentes, com excepção de António, cavaleiro de Malta; batido em dois recontros, este pediu em vão o socorro de Isabel de Inglaterra e de Henrique III, rei de França; as duas potências estavam demasiado ocupadas a resistir a Filipe para organizarem um exército em favor de António.
Como consequência desta derrota, Portugal curvou-se ao jugo de ferro do rei de Espanha, e foi depois de Filipe ter cimentado a união dos dois Estados, por um reinado de dezoito anos, que se apresentou este novo Sebastião perante o Senado de Veneza! Em nossa opinião, só direitos legítimos justificariam tal atitude.

O embaixador de Filipe, prevenido deste regresso inesperado, comunicou-o ao seu soberano, que, como único interessado em esconder a verdade, tentou, por todos os meios ao seu alcance, calar um nome que podia excitar saudades adormecidas e levar à guerra entre os dois reinos. Para evitar esse perigo, longe de levar este terceiro Sebastião a Lisboa, diante dos seus juízes naturais, como fizera com os dois primeiros, entregou-o ao Senado de Veneza, que, por medo, recusou inicialmente intervir; mas, pressionado por Filipe, pediu o beneplácito de um príncipe soberano.
Os estados gerais das Províncias Unidas e o príncipe Maurício de Nassau deram essa missão a D. Cristóvão, o mais novo dos filhos de António, que fora pretendente à coroa depois da morte de Henrique. Com esta recomendação, o Senado de Veneza consentiu em instalar o processo. Foi submetido a vinte e oito interrogatórios; as suas respostas, registadas nos autos guardados nos arquivos do Estado durante o seu reinado abalaram todos os que o interrogaram.
Os portugueses sustentavam que ele era o seu rei, e o que fortaleceu essa ideia foi que nunca se conseguiu, apesar dos maus tratos que lhe infligiram, levar o prisioneiro a confessar que não era o seu soberano legítimo.

Dominados pelo receio de desagradar a um rei perante quem todos se humilhavam, os juízes limitaram-se a banir dos territórios da República aquele que não ousaram reconhecer como legítimo pretendente ao trono de Portugal. Foi depois desta sentença que ele pediu para ir para França.
Esta luta entre a legitimidade e a usurpação devia ser um entrave para alguém tão execrável e dissimulado como Filipe. O medo de que Sebastião fosse reconhecido deve ter ensombrado o espírito do tirano. Ele não podia ignorar que a crueldade e o abuso do poder tinham enfraquecido a sua imensa autoridade. Tornado objecto de ódio dos portugueses, não é, pois, de espantar, que, cobrindo o seu ceptro ensanguentado com o véu da religião, que naquela época fazia parte dos hábitos do povo, a sua política se servisse dela como de um instrumento que o desembaraçasse de um homem que, embora abatido, se podia ainda reerguer e criar-lhe problemas.

Dir-nos-ão que ele podia entregá-lo ao machado dos seus carrascos. É certo; mas era preciso, neste caso, que comprasse o segredo de um crime, que se tornava inútil no momento em que a sua vítima pedia que a deixassem exilar-se. Era mais prudente que Filipe, sob a máscara da religião, que sempre serviu os seus projectos ambiciosos, se rendesse ao desejo de Sebastião, que pedia um salvo-conduto para França, onde queria terminar a vida no isolamento. A conduta do antigo rei coadunava-se com o espírito da sua época; neste ponto seguia o exemplo de Carlos, conde de Alençon, príncipe de sangue real, que, fatigado com os problemas que agitavam a França durante o cativeiro do rei João, tomou o hábito de S. Domingos. Quem dirá mesmo se, para resgatar a vida, Sebastião se submeteu à última vontade do tirano e se este lhe não impôs, como última condição, que imitasse Carlos V, que, precocemente envelhecido e desenganado de tudo porque tudo experimentara, descarregou o peso da coroa sobre a cabeça de seu filho Filipe, para se retirar para um mosteiro?

Quanto mais se aprofunda a história, mais se acumulam as provas do regresso do infeliz Sebastião e da sua estada em França. Como a tradição conservada naquela região nos ajuda, acrescentarmos que na igreja do mosteiro dos Agostinhos onde foi descoberta a medalha se via uma capela dedicada ao seu patrono; era voz comum que ali fora enterrado um rei com o mesmo nome.
Se recuarmos à época escaldante daquele fervor religioso que dominava mesmo as pessoas de dignidade mais elevada e que, atingidas pelos reveses da
fortuna, não viam nas desgraças mais que o dedo de Deus, não nos admiremos de que um rei, escapado a uma morte certa, depois de ter visto perecer todo o seu exército, formado pela elite da nobreza dos seus Estados, se abandone à sua má sorte e faça voto de viver e morrer retirado. Aliás, a dúvida torna-se praticamente uma certeza perante a medalha que foi tema deste debate.

Na verdade, o abade Texier dá um pormenor decisivo: Esta medalha encontrava-se num túmulo de pedra de granito, ao lado de um esqueleto muito bem conservado. Portanto, não se pode atribuir a sua presença num lugar a um puro acaso.

Esta descoberta atesta, pois, de modo formal que Sebastião foi para França, como pedira no julgamento; que, vestindo o hábito da ordem em que entrara, findou a vida no mosteiro dos Agostinhos de Limoges; e que aí foram depostos os seus restos mortais.


Notas
1 Gregório Leti, Vita del catolico re Filippo II, monarca delle Spagne, 1679 (nota do autor).
2 Jac-Rémi-Antoine Texier (1813-1859), arqueólogo e estudioso da arte e monumentos de Limoges, cidade onde nasceu e morreu.
3 Robert Southwell foi autor de The history of the revolutions of Portugal (1740), cuja tradução francesa o abade Guyot Desfontaines intitulou Histoire du détrônement dAlphonse VI, roi de Portugal (1742).
4 Confusão com Alcobaça, de onde era natural o Rei de Penamacor, 2º falso Dom Sebastião.
5 San Lucar de Barrameda, na província de Cadiz.
« Última modificação: Novembro 09, 2009, 03:51:32 pm por Templário »
Ensinam estas Quinas que aqui vês,
Que o mar com fim será grego e romano:
O mar sem fim é português
E a Cruz ao alto diz que o que me há na alma
E faz a febre em mim de navegar
Só encontrará de Deus na eterna calma
O porto sempre por achar.
 

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Re: O Mistério do Rei Dom Sebastião, o Desejado
« Responder #1 em: Novembro 09, 2009, 03:46:25 pm »
-Nota aparte - não se esqueçam - embora não tenha ver - de um assassinato de um adversáio político de Felipe II em Espanha, - também do assassinato de Guilherme de Orange.

Mesmo no círculo político dos descendentes Habsburgos tardios, no tempo de Filipe IV (III), já no 8º ano do Reinado do nosso Rei D. João IV, este nosso Rei Libertador foi alvo de de uma tentative de assassinato - não sabemos quem mandou e sem provas não acusamos ninguém. D. Luísa de Gusmão mandou erguer um antigo Hospital em Lisboa - Edificio que ainda existe, como voto a Deus Pai por ter sido salvo.
Nada de anti-espanholismo, mas apenas para temos uma ideia dor "poder" Habsburgo e do terrorísmo político(no primeiro caso) no segundo não sabemos.

Felipe II em conluio com o papado, também tentou evitar qualquer leve ideia de sucessão da parte do Rei Cardeal Henrique, incluindo mesmo pedidos seus de dispensa á Santa Sé - embora fosse já dificil ter filhos nessa hipótese - mas não há impossíveis, caso tivesse tido tempo de vida e a dispensa. Tudo bem arquitectado por Habsburgos, Albas etc.
Mas não confundam o povo espanhol e ibérico em geral, nossos irmãos e que nos respeitam enquanto Povo e nação com governantes da época claro e com momentos negativos da História.
Convém é ter memória.

Bom, mas o ensaio e relato acima é mais um dos testemunhos históricos sobre o nosso D. Sebastião, cujo destino e desaparecimento em Alcacerkibir tem sido um enigma que se pode desvelar.

Saudações
Ensinam estas Quinas que aqui vês,
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E a Cruz ao alto diz que o que me há na alma
E faz a febre em mim de navegar
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