Feitos farão tão dignos de memória
Que não caibam em verso ou larga históriaUm relato dos acontecimentos, para quem quiser conhecer o mais fantástico feito de toda a gesta portuguesa das Índias.
António da Silveira e os 600 portugueses merecem honrosamente um lugar na nossa memória!
Que o seu exemplo nos guie!

Estávamos em 1531.
Ainda que o Governador Nuno da Cunha sabia da iminência de um ataque dos Turcos, partiu para Goa levando toda a melhor gente consigo, deixando em Diu Antonio da Silveira e apenas seiscentos homens dos quais quatrocentos eram mal armados e os duzentos restantes não estavam em circunstâncias de poder pelejar.
Pelo sim pelo não, era melhor começar a preparar as defesas para qualquer eventualidade...
António da Silveira aperfeiçoou então o melhor que pôde as fortificações.
Mandou encher de água a grande cisterna mandada construir por Nuno da Cunha e que levava mil pipas de líquido.
Reuniu provisões, ordenou que se desarmassem os mouros que ali estavam, publicou ordens e ameaças severas contra os habitantes que fugissem temendo o perigo, e chegou mesmo enforcar alguns que se atreveram a escapar e foram apanhados.
Nomeou também alguns oficiais, e distribuiu pelos postos os seus soldados, que eram em número bastante insuficiente.
Coje Sofar, um famoso Mouro que desejava ardentemente tomar a fortaleza de Diu, e por saber quão mal provida estava de gente e de água, foi falar com vários Reis, Sultões e capitães locais, dando-lhes conta da deficiente disposição das defesas portuguesas, implorando que lhe fornecessem soldados e armas, argumentando que aquela era uma oportunidade única de a tomarem sem esforço, e que outra ocasião como aquela nunca mais iria suceder!
Convencidos todos os visados da facilidade da empresa, Coje Sofar consegui de facto reunir um exército poderossísimo, contando-se cerca de 70 galés turcas, e um exército de mais de 22.000 homens!
O que poderiam 600 portugueses fazer contra este potentado militar, nunca visto por aquelas paragens?
Isso mesmo perguntou o Capitão Suleimão Paxá, o eunuco (capado), que enviou uma carta ao Capitão António da Silveira, em que prometia livre saída de pessoas e bens desde que os portugueses fossem para a costa de Malabar e entregassem a fortaleza e as armas. Prometia esfolar todos vivos se não o fizessem e glorificava-se de ter reunido o maior exército em Cambaia, tendo muita gente que tomara Belgrado, Hungria e a ilha de Rodes. Perguntava mesmo a António da Silveira como se iria defender num "curral com tão pouco gado"!
A resposta de António da Silveira não se fez esperar, e estando todos presentes, assim lhe escreveu:
«Muito honrado capitão Paxá, bem vi as palavras da tua carta. Se em Rodes tivessem estado os cavaleiros que estão aqui neste curral podes crer que não a terias tomado. Fica a saber que aqui estão portugueses acostumados a matar muitos mouros e têm por capitão António da Silveira, que tem um par de tomates mais fortes que as balas dos teus canhões e que todos os portugueses aqui têm tomates e não temem quem os não tenha!»
Depois da famosa troca de “galhardetes”, apenas restava aos dois lados evocar a protecção dos seus deuses, afiar as espadas, e aguçar o espiríto para o combate.
Ia começar o duelo de titâs!
Em poucos dias apareceu Coje Sofar, com três mil homens de infantaria e quatro mil cavaleiros, prontos a atacar as fortificações inacabadas. Esperava-se que logo aquele primeiro ataque, desferido com toda a violência e agressão, desse o assunto por terminado..
Contudo, desde logo se viu do que os Portugueses seriam capazes!
Francisco Pacheco, que defendia aquela parte das muralhas, e que só tinha consigo catorze homens, defendeu-se com um tal vigor e uma extrema coragem, que conseguiu resistir o tempo necessário até que António da Silveira enviar ajuda!
No entanto, os turcos acabaram por se conseguir espalhar na cidade de Diu, onde foram recebidos como “libertadores” pela população local. António da Silveira e os seus homens entenderam então que não havia outra alternativa que não fosse abandonar a cidade aos inimigos, e refugiarem-se todos na fortaleza, que ficava na ponta da ilha.
Remetiam-se então a uma posição de sitiados mal armados, com parcas condições de defesa, e cada vez mais apertados perante a imensidão militar turca que rodeava os muros da fortaleza.
Mas a sorte da guerra ainda não estava decidida...
Estando agora toda a esperança portuguesa na fortaleza, para piorar a situação, apareceu no dia 14 de Setembro uma grande esquadra Otomana que vinha reforçar os inimigos já tão numerosos em comparação às poucas tropas portuguesas.
Eram no total mais de 25 navios, muitos deles Galeras Reais, chamadas “Sultanas” pela sua grandeza e poder militar. O aspecto da frota inimiga era tão imponente, que causava nos nossos um misto de surpresa e temor...
António da Silveira ordenou então a Miguel Vaz que, sorrateiramente, se dirigisse para Goa, onde deveria informar o Governador Nuno da Cunha acerca do aperto em que os da fortaleza se encontravam, e se possível encontrar ajuda para vir socorrer os sitiados de Diu.
Felizmente, uma terrível tempestade assolou a região de Diu naquela altura, obrigando a Esquadra Turca a procurar refúgio no porto de Madrefabat, onde quatro dos seus navios de carga se perderam...
António da Silveira, hábil e valeroso capitão, logo aproveitou a ausência da Esquadra Turca, que durou vinte dias, para pôr em bom estado os locais da praça menos fortes ou que se encontravam danificados.
A tropas de infantaria Turcas começaram também os seus trabalhos:
Posicionaram as suas peças de artilharia e trouxerem de Madrefabat uma basilisco de uma grandeza extraordinária, nunca vista pelos nossos soldados, construíndo também sobre uma barca uma espécie de torre de madeira, bastante alta, com que depois encheram de lenha, salitre, enxofre e alcatrão, mistura essa que depois de inflamada provocava um fumo intenso, e com a qual pretendiam encostar à fortaleza portuguesa pelo mar, para sufocarem e intoxicarem os defensores portugueses.
E assim os Turcos continuarem o seu trabalho até que a máquina incendiária ficou pronta. Julgando que seria prudente destruí-la antes que pudesse ser usada contra nós, António da Silveira escolheu para essa missão Francisco de Gouveia. Naquela mesmo dia, Francisco de Gouveia embarcou num pequeno catur juntamente com Bartolomeu Fernandes, Bastião Dias e alguns espingardeiros, e pela calada da noite, com o máximo de cuidado e descrição, zarparam da fortaleza, remando devagar pelo meio da escuridão, e com o máximo de silêncio para junto da torre incendiária, com o intuito de lhe lançar panelas de pólvora, e incendiá-la para a destruir.
Porém, a escuridão da noite não foi suficiente para encobrir a acção dos intrépidos lusos...
Sentindo os turcos a presença deles ali, logo começaram rijamente a disparar as suas bombardas e canhões, com tal estrondo de artilharia que toda a região de Diu acordou em sobressalto!
Todavia, os remeiros com tamanha força e energia forçaram os remos dos catures, que parecia que voavam, e atravessando pelouros e balas que troavam ameaçadores rente aos portugueses, conseguiram aproximar-se a custo da torre incendiária, que era guardada por uns vinte mouros.
Sem nunca cessar os disparos de artilharia turca, os portugueses logo arremessaram panelas de pólvora e artifícios de fogo à torre, e em breve o alcatrão se incendiou, pegando o fogo aos restantes materiais inflamáveis.
E começando as chamas a levantarem-se, logo os mouros trataram de se lançarem à água para escaparem à morte, apenas para os portugueses os matarem depois. Francisco da Gouveia e os restantes, que até ali se tinham mantido sobre os catures num esforço de equilíbrio e coragem, e vendo que já era totalmente consumida pelo fogo a tal máquina, regressaram à segurança da fortaleza o mais rápido que puderam, esquivando-se milagrosamente dos pelouros e balas que sobre eles choviam!
Quando a Esquadra Turca regressou, Solimão Baxá fez dirigir a sua poderosa artilharia contra o baluarte da Vila dos Rumes, que se encontrava separado da fortaleza, e onde estavam Francisco Pacheco com um punhado de gente. Ali se sustentou bravamente o assalto dado por 700 janísaros, a elite dos exércitos otomanos, com o apoio de 13.000 indianos.
Dois portugueses se assinalaram especialmente naquele dia, pois numa pequena brecha se colocaram lado a lado, conseguindo suster a força deste ataque turco por mais de uma hora, sem nenhum turco os conseguir passar!
O desconforto instalou-se na suposta “tropa de elite” turca, que no próprio dia do ataque se retirou, profundamente envergonhados por terem sido derrotados por dois moços...
Ficou o esforço português. Contudo, Francisco Pacheco, não tendo esperanças de socorro e de se poder sustentar por rnais tempo naquele baluarte, tal era o poderio inimigo à sua volta, capitulou, entregando-se aos inimigos.
No dia seguinte, pela manhã se viu flutuar ao vento sobre aquele baluarte o estandarte muçulmano, para grande desgosto e tristeza dos nossos.
Um velho português chamado João Pires não conteve a raiva, e correndo acompanhado de cinco outros valorosos lusos, 3 vezes o arrojou por terra erguendo outras tantas vezes o estandarte da Cruz de Cristo!
Por fim, estes guerreiros dignos do melhor destino foram mortos, não sem antes levar muitos inimigos consigo para outro mundo, vendendo assim a grande preço as suas vidas!
Os seus corpos foram lançados ao rio e vieram para junto da fortaleza trazidos pela maré, o que pareceu um sinal de Nosso Senhor, havendo logo a preocupação de lhes dar uma sepultura cristã, pois bem o mereciam.
Quanto a Francisco Pacheco e seus soldados em breve tempo foram vítimas da fúria de Solimão Baixá, sendo todos eles degolados...
Intimado para se render, António da Silveira respondeu com bravura, deliberado a sofrer todos os sacrifícios até ao fim, mas nunca renunciar à sua glória!
Determinado em arrasar com os portugueses de uma vez por todas, Suleimão Baxá ordenou que se levantassem seis baterias nas quais se montaram 100 peças de artilharia, nove basiliscos que lançavam balas de noventa a cem libras, e cinco morteiros que se carregavam com pedras de seis e sete pés de circunferência.
E assim, pelo espaço de vinte e cinco dias, os turcos dispararam incessantemente a sua poderosa artilharia, causando grande dano nos nossos canhões, e desfazendo a maior parte das ameias e muralhas da fortaleza. Aproveitaram também para começar a escavar trincheiras e túneis, que avançavam até ao baluarte de Gaspar de Sousa, com que depois pretendiam-no miná-lo para o destruírem.
Mas o valeroso António da Silveira nada temia!
Sempre o primeiro a entrar no combate, comparecia sempre nos lugares mais perigosos, comandava pelo exemplo, e a todos encorajava com palavras de força e sacrifício.
Debaixo do comando de tal chefe, todos os soldados se tornavam heróis!
No entanto, os combates, as diárias sortidas turcas, e o constante fogo de artilharia inimiga iam já ceifando a vida a muitos dos nossos guerreiros...E para piorar a situação, começavam também a faltar armas, mantimentos e munições. A juntar a isto, a única água disponível na cisterna da fortaleza tinha sido contaminada, o que causou um surto de escorbuto que afectou grande parte da lusa gente...
Já tinham perdido todo a esperança de socorro.
Contudo, nunca se viu aqueles homens perderem o valor, a coragem, e a valentia...
Faltam as palavras para se poder fazer completa justiça a tanta heroicidade!
Felizmente, a história tem podido conservar os relatos de alguns destes feitos, que merecem a nossa maior admiração. Aqui ficam alguns deles:
Um pequeno moço espanhol de 19 anos, nascido na Galiza, tinha uma vez encontrado perto dos muros um mouro de estatura bastante gigantesca... Pois logo o moço o persegui até ao rio, onde acabaram de cair ambos.
Por ser pequeno, logo lhe faltou o pé quando se encontrou na água, e o mouro aproveitou esta ocasião para o tentar afogar...
Não esperava é que o pequeno espanhol, tirando um pequeno punhal que trazia escondido, lhe desse fortes e repetidos golpes, acabando por o matar. E como se não tivesse sucedido nada, saiu da água, com toda a calma do mundo, e a passo longo regressou para junto dos portugueses, ignorando as muitas balas e flechas que lhe eram dirigidas.
João da Fonseca, que estava lutando numa das muralhas, tendo sido gravemente ferido no braço direito, logo mudou а lança para a outra mão e continuou a combater como dantes, recusando-se várias vezes, apesar do sangue que jorrava do seu braço, a abandonar o combate...
Fernão Penteado, tendo sido gravemente ferido na cabeça. dirigiu-se ao cirurgião, mas vendo como este já estava bastante atarefado de mortos e feridos, regressou para junto dos seus companheiros, onde acabou por receber um segundo golpe. Assim, dirigiu-se novamente ao cirurgião, mas vendo que a situação estava na mesma, e que os seus camaradas precisavam de ajuda urgentemente, lá se arrastou novamente para o combate, apenas para ser atingido gravemente uma terceira vez, fazendo grande e heróico esforço por se aguentar junto dos seus o maior o tempo possível, até que veio a morrer...
João Rodrigues, homem cheio de vigor e de coragem, foi sem duvida aquele que durante este cerco memorável, maiores estragos fez aos inimigos, porque arriscando-se a morrer alvejado pelos tiros com que enfrentava a peito descoberto, ou morrendo queimado, constantemente arrojava aos turcos panelas e barris de pólvora a arder, que matavam e feriam gravemente um grande número de inimigos.
"João das panelas" era já conhecido como o horror dos turcos...
Lopo de Sousa Coutinho, acompanhado de mais 14 portugueses, surpreendido que foi por uns 400 homens de Coje Sofar nos arredores da fortaleza, não só os repeliu numa ruela estreita, mas perseguiu-os até fora da povoação, sendo necessário gritarem e fazerem-lhe sinais repetidos da fortaleza para que voltasse, já era a distância que levava na perseguição aos mouros....
A estes rasgos de bravura, entre muitos outros, se reúne ainda o que foi praticado por um soldado português que no calor da acção, vendo-se com falta de balas, não hesitou em arrancar um dente e com ele carregar a espingarda, perante espanto dos inimigos, que o tomavam já sem munições...
O que é porém bem autenticado e que jamais se deverá remeter ao silencio foi o valor das mulheres portuguesas, igualando sem exagero a tida pelos homens!
Uma delas foi Isabel da Veiga, esposa de um honrado Oficial que antes de começar o cerco quis enviá-la para a segurança do seu pai, em Goa. Mas esta recusou-se, jurando ali mesmo que havia de viver ou então acabar na companhia do marido!
Quando os ataques começaram ela e Ana Fernandes, mulher do cirurgião-mor, reuniram todas as outras mulheres e lhes comunicaram a sua vontade de ali permanecer e com o seu esforço e dedicação para ajudarem na defesa.
Então, debaixo da conduta destas duas heroínas, as mulheres da fortaleza correram todos os perigos dos sitiados, envolvendo-se nas pelejas, animando-os e trazendo-lhes para os lugares mais arriscados as munições e armas necessárias, sempre sem medo e uma coragem sem fim!
Um pequeno socorro chegou neste tempo aos sitiados portugueses.
Foram 28 homens. em quatro pequenas embarcações, os quais vieram decididos a ajudar no necessário e prontos a enfrentar todas as provações que os seus companheiros já haviam conhecido nos primeiros meses. Estes novos soldados comunicaram também aos sitiados que D. Garcia de Noronha, o novo Governador, devia chegar em breve e estava pronto a combater a esquadra dos inimigos.
Suleimão Baxá indignou-se especialmente ao saber que estas pequenas embarcações portuguesas tinham conseguido passar por entre os seus poderosos navios de guerra, e querendo prevenir a chegada de D. Garcia de Noronha, mandou que se atacasse o baluarte do mar, defendido pelo grande capitão António de Sousa.
Mandou, bem disse.
Que é diferente de fazer, melhor se viu, já que dos 50 barcos turcos que se formava o ataque, muitos foram afundados a tiros da esforçada artilharia portuguesa e os outros obrigados a fugir...
Mais irritado do que nunca, Suleimão Baxá, decidiu-se em dar o maior e mais mortífero assalto geral até aí tentado, com que pretendia não apenas tomar a fortaleza, mas exterminar completamente a gente portuguesa que lá se encontrava, tal era já a sua raiva!
Para, isto julgou que se devia fingir uma retirada, talvez para apanhar os portugueses de surpresa.
O fogo da artilharia cessou ao dia 30 de Outubro, e pouco mais de mil homens se embarcaram nos navios, bem à vista dos portuguesas, de acordo com a manobra teatral encenada pelo Turco.
Como previsto, na noite seguinte, quando tudo parecia calmo e adormecido, os turcos fizeram transportar um grande número de escadas para junto das muralhas portuguesas...
Mas de ingénuo António da Silveira não tinha nada, e não se deixava enganar facilmente!
Já se tinha apercebido do estratagema, e de antecedência preparado as coisas para tudo o que pudesse acontecer...
Bem o sabia, de facto!
Pela madrugada, mais de 14.000 mil turcos se reuniram, sendo divididos em 3 grupos de batalha com que se ia formar o grande ataque, não sem antes a artilharia moura desencadear mais uma poderoso salva de fogo, despedaçando as duras muralhas da fortaleza e com elas, os soldados que atrás se encontravam!
O primeiro destes grupo de turcos atacou uma parte do baluarte próximo da casa do Governador, quase em ruína. Tão poderosa foi a sortida, que em pouco tempo já 200 turcos tinham conseguido subir e içar uma grande bandeira turca.
Mas 30 portugueses, entre os quais se distinguiram os amigos Martim Vaz e Gabriel Pacheco, foram suficientes para os rechaçar, acabando porém por morrer dos dois bravos amigos no meio da peleja.
As 14 galeras turcas que participaram no ataque também não alcançaram o seu objectivo, pois foram repelidas por Fernando Gouveia, forçando-as a afastarem-se para o largo, não sem antes afundar duas com os seus certeiros disparos de artilharia.
O segundo corpo do exército atacante chegou a arvorar quatro estandartes de vitória sobre uma grande brecha nas muralhas, mas o apuro da situação fez com que os sitiados portugueses se excedessem na bravura, notabilizando-se especialmente João Rodrigues, o homem das panelas, sempre incansável!
A artilharia do baluarte principal, mais a do forte de S,Tomé fizeram um terrível estrago nas fileiras inimigas, através de disparos incessantes, forçando o terceiro corpo de batalha a ter que vir substituir o segundo.
Porém, o terceiro grupo de batalha turco não se revelou com o mesmo ardor e qualidade dos seus primeiros. Já fracos, ainda mais o ficaram quando viram horrorizados o seu capitão, Coje Sofar, a arder em chamas, fruto de uma panela de pólvora incendiária que os portugueses lhe tinham lançado.
Pelo contrário, os portugueses conseguiam resistir formidavelmente, através da sua dedicação e habilidade, num esforço sobre-humano de conter o avanço inimigo em várias brechas, algo nunca visto por aquelas paragens!
E tão arduamente resistiram os lusos, que os inimigos foram obrigados a tomar por último recurso a retirada total, com a perda de mais 1500 homens, entre mortos e feridos!
Durante esta retirada apressada, um habitante local perguntou aos Turcos se os portugueses eram assim tão bons soldados como parecia. A resposta dos Turcos foi que só os portugueses “eram dignos de ter barbas”, e que todos os outros soldados das restantes nações se deveriam remeter “ao estilo das mulheres”...
600 homens tinham resistido a 22.000!
Dos portugueses não restavam mais do que quarenta em estado de combater.
Faltavam-lhes pólvora, e as suas armas estavam em grande parte inutilizadas.
As muralhas da praça, completamente destruídas.
Não obstante, todos haviam jurado morrer ou vencer, mas nunca entregar a fortaleza.
Foi preciso ter tomates, e alguma dose de loucura, sem dúvida!
Qual teria sido o seu fatal destino se o inimigo se tivesse apercebido que apenas se encontravam na fortaleza 40 portugueses aptos a lutar?
Certamente a teria tomado com facilidade!
Para contrariar isto, o grande António da Silveira mandou subir às muralhas da fortaleza todos os feridos que ainda podiam levantar-se, e muitas mulheres vestidas de homens, para assim impor aos inimigos a ideia que ainda ali estava muita gente portuguesa, pronta a defender-se até à morte!
A vitória no cerco de Diu foi celebrada não só em Portugal mas em toda a Europa!
Quando António da Silveira voltou à sua Pátria, o Rei de França Francisco I, homem que muito apreciava os actos e as virtudes guerreiras, mandou a Portugal emissários com o intuito de obterem um retrato do herói português, para o colocar na Casa da Fama, no Palácio de Fontainebleu.
Pelos altos serviços prestados a Portugal, o Capitão António da Silveira recebeu como mercê a rica Ilha de Macheco, bem como o título de “Defensor de Diu”, como para sempre ficaria conhecido.
Assim se obrou um dos mais extraordinários feitos do nosso passado militar, que tem sido porém continuamente esquecido e posto de parte pela historiografia portuguesa, bem como pelo sistema de ensino, que não lhe dedica nem uma mera referência...
Glória eterna a António da Silveira e aos seus tomates!
