Primeiro Cerco de Diu

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TOMSK

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Primeiro Cerco de Diu
« em: Abril 13, 2009, 02:30:48 am »
Feitos farão tão dignos de memória
Que não caibam em verso ou larga história


Um relato dos acontecimentos, para quem quiser conhecer o mais fantástico feito de toda a gesta portuguesa das Índias.
António da Silveira e os 600 portugueses merecem honrosamente um lugar na nossa memória!
Que o seu exemplo nos guie!



Estávamos em 1531.
Ainda que o Governador Nuno da Cunha sabia da iminência de um ataque dos Turcos, partiu para Goa levando toda a melhor gente consigo, deixando em Diu Antonio da Silveira e apenas seiscentos homens dos quais quatrocentos eram mal armados e os duzentos restantes não estavam em circunstâncias de poder pelejar.

Pelo sim pelo não, era melhor começar a preparar as defesas para qualquer eventualidade...

António da Silveira aperfeiçoou então o melhor que pôde as fortificações.
Mandou encher de água a grande cisterna mandada construir por Nuno da Cunha e que levava mil pipas de líquido.
Reuniu provisões, ordenou que se desarmassem os mouros que ali estavam, publicou ordens e ameaças severas contra os habitantes que fugissem temendo o perigo, e chegou mesmo enforcar alguns que se atreveram a escapar e foram apanhados.
Nomeou também alguns oficiais, e distribuiu pelos postos os seus soldados, que eram em número bastante insuficiente.

Coje Sofar, um famoso Mouro que desejava ardentemente tomar a fortaleza de Diu, e por saber quão mal provida estava de gente e de água, foi falar com vários Reis, Sultões e capitães locais, dando-lhes conta da deficiente disposição das defesas portuguesas, implorando que lhe fornecessem soldados e armas, argumentando que aquela era uma oportunidade única de a tomarem sem esforço, e que outra ocasião como aquela nunca mais iria suceder!

Convencidos todos os visados da facilidade da empresa, Coje Sofar consegui de facto reunir um exército poderossísimo, contando-se cerca de 70 galés turcas, e um exército de mais de 22.000 homens!
O que poderiam 600 portugueses fazer contra este potentado militar, nunca visto por aquelas paragens?

Isso mesmo perguntou o Capitão Suleimão Paxá, o eunuco (capado), que enviou uma carta ao Capitão António da Silveira, em que prometia livre saída de pessoas e bens desde que os portugueses fossem para a costa de Malabar e entregassem a fortaleza e as armas. Prometia esfolar todos vivos se não o fizessem e glorificava-se de ter reunido o maior exército em Cambaia, tendo muita gente que tomara Belgrado, Hungria e a ilha de Rodes. Perguntava mesmo a António da Silveira como se iria defender num "curral com tão pouco gado"!

A resposta de António da Silveira não se fez esperar, e estando todos presentes, assim lhe escreveu:

«Muito honrado capitão Paxá, bem vi as palavras da tua carta. Se em Rodes tivessem estado os cavaleiros que estão aqui neste curral podes crer que não a terias tomado. Fica a saber que aqui estão portugueses acostumados a matar muitos mouros e têm por capitão António da Silveira, que tem um par de tomates mais fortes que as balas dos teus canhões e que todos os portugueses aqui têm tomates e não temem quem os não tenha!»

Depois da famosa troca de “galhardetes”, apenas restava aos dois lados evocar a protecção dos seus deuses, afiar as espadas, e aguçar o espiríto para o combate.
Ia começar o duelo de titâs!

Em poucos dias apareceu Coje Sofar, com três mil homens de infantaria e quatro mil cavaleiros, prontos a atacar as fortificações inacabadas. Esperava-se que logo aquele primeiro ataque, desferido com toda a violência e agressão, desse o assunto por terminado..

Contudo, desde logo se viu do que os Portugueses seriam capazes!

Francisco Pacheco, que defendia aquela parte das muralhas, e que só tinha consigo catorze homens, defendeu-se com um tal vigor e uma extrema coragem, que conseguiu resistir o tempo necessário até que António da Silveira enviar ajuda!

No entanto, os turcos acabaram por se conseguir espalhar na cidade de Diu, onde foram recebidos como “libertadores” pela população local. António da Silveira e os seus homens entenderam então que não havia outra alternativa que não fosse abandonar a cidade aos inimigos, e refugiarem-se todos na fortaleza, que ficava na ponta da ilha.

Remetiam-se então a uma posição de sitiados mal armados, com parcas condições de defesa, e cada vez mais apertados perante a imensidão militar turca que rodeava os muros da fortaleza.

Mas a sorte da guerra ainda não estava decidida...

Estando agora toda a esperança portuguesa na fortaleza, para piorar a situação, apareceu no dia 14 de Setembro uma grande esquadra Otomana que vinha reforçar os inimigos já tão numerosos em comparação às poucas tropas portuguesas.
Eram no total mais de 25 navios, muitos deles Galeras Reais, chamadas “Sultanas” pela sua grandeza e poder militar. O aspecto da frota inimiga era tão imponente, que causava nos nossos um misto de surpresa e temor...

António da Silveira ordenou então a Miguel Vaz que, sorrateiramente, se dirigisse para Goa, onde deveria informar o Governador Nuno da Cunha acerca do aperto em que os da fortaleza se encontravam, e se possível encontrar ajuda para vir socorrer os sitiados de Diu.

Felizmente, uma terrível tempestade assolou a região de Diu naquela altura, obrigando a Esquadra Turca a procurar refúgio no porto de Madrefabat, onde quatro dos seus navios de carga se perderam...
António da Silveira, hábil e valeroso capitão, logo aproveitou a ausência da Esquadra Turca, que durou vinte dias, para pôr em bom estado os locais da praça menos fortes ou que se encontravam danificados.

A tropas de infantaria Turcas começaram também os seus trabalhos:
Posicionaram as suas peças de artilharia e trouxerem de Madrefabat uma basilisco de uma grandeza extraordinária, nunca vista pelos nossos soldados, construíndo também sobre uma barca uma espécie de torre de madeira, bastante alta, com que depois encheram de lenha, salitre, enxofre e alcatrão, mistura essa que depois de inflamada provocava um fumo intenso, e com a qual pretendiam encostar à fortaleza portuguesa pelo mar, para sufocarem e intoxicarem os defensores portugueses.
 
E assim os Turcos continuarem o seu trabalho até que a máquina incendiária ficou pronta. Julgando que seria prudente destruí-la antes que pudesse ser usada contra nós, António da Silveira escolheu para essa missão Francisco de Gouveia. Naquela mesmo dia, Francisco de Gouveia embarcou num pequeno catur juntamente com Bartolomeu Fernandes, Bastião Dias e alguns espingardeiros, e pela calada da noite, com o máximo de cuidado e descrição, zarparam da fortaleza, remando devagar pelo meio da escuridão, e com o máximo de silêncio para junto da torre incendiária, com o intuito de lhe lançar panelas de pólvora, e incendiá-la para a destruir.

Porém, a escuridão da noite não foi suficiente para encobrir a acção dos intrépidos lusos...
Sentindo os turcos a presença deles ali, logo começaram rijamente a disparar as suas bombardas e canhões, com tal estrondo de artilharia que toda a região de Diu acordou em sobressalto!
Todavia, os remeiros com tamanha força e energia forçaram os remos dos catures, que parecia que voavam, e atravessando pelouros e balas que troavam ameaçadores rente aos portugueses, conseguiram aproximar-se a custo da torre incendiária, que era guardada por uns vinte mouros.

Sem nunca cessar os disparos de artilharia turca, os portugueses logo arremessaram panelas de pólvora e artifícios de fogo à torre, e em breve o alcatrão se incendiou, pegando o fogo aos restantes materiais inflamáveis.
E começando as chamas a levantarem-se, logo os mouros trataram de se lançarem à água para escaparem à morte, apenas para os portugueses os matarem depois. Francisco da Gouveia e os restantes, que até ali se tinham mantido sobre os catures num esforço de equilíbrio e coragem, e vendo que já era totalmente consumida pelo fogo a tal máquina, regressaram à segurança da fortaleza o mais rápido que puderam, esquivando-se milagrosamente dos pelouros e balas que sobre eles choviam!

Quando a Esquadra Turca regressou, Solimão Baxá fez dirigir a sua poderosa artilharia contra o baluarte da Vila dos Rumes, que se encontrava separado da fortaleza, e onde estavam Francisco Pacheco com um punhado de gente. Ali se sustentou bravamente o assalto dado por 700 janísaros, a elite dos exércitos otomanos, com o apoio de 13.000 indianos.
Dois portugueses se assinalaram especialmente naquele dia, pois numa pequena brecha se colocaram lado a lado, conseguindo suster a força deste ataque turco por mais de uma hora, sem nenhum turco os conseguir passar!
O desconforto instalou-se na suposta “tropa de elite” turca, que no próprio dia do ataque se retirou, profundamente envergonhados por terem sido derrotados por dois moços...

Ficou o esforço português. Contudo, Francisco Pacheco, não tendo esperanças de socorro e de se poder sustentar por rnais tempo naquele baluarte, tal era o poderio inimigo à sua volta, capitulou, entregando-se aos inimigos.

No dia seguinte, pela manhã se viu flutuar ao vento sobre aquele baluarte o estandarte muçulmano, para grande desgosto e tristeza dos nossos.

Um velho português chamado João Pires não conteve a raiva, e correndo acompanhado de cinco outros valorosos lusos, 3 vezes o arrojou por terra erguendo outras tantas vezes o estandarte da Cruz de Cristo!

Por fim, estes guerreiros dignos do melhor destino foram mortos, não sem antes levar muitos inimigos consigo para outro mundo, vendendo assim a grande preço as suas vidas!
Os seus corpos foram lançados ao rio e vieram para junto da fortaleza trazidos pela maré, o que pareceu um sinal de Nosso Senhor, havendo logo a preocupação de lhes dar uma sepultura cristã, pois bem o mereciam.

Quanto a Francisco Pacheco e seus soldados em breve tempo foram vítimas da fúria de Solimão Baixá, sendo todos eles degolados...

Intimado para se render, António da Silveira respondeu com bravura, deliberado a sofrer todos os sacrifícios até ao fim, mas nunca renunciar à sua glória!

Determinado em arrasar com os portugueses de uma vez por todas, Suleimão Baxá ordenou que se levantassem seis baterias nas quais se montaram 100 peças de artilharia, nove basiliscos que lançavam balas de noventa a cem libras, e cinco morteiros que se carregavam com pedras de seis e sete pés de circunferência.

E assim, pelo espaço de vinte e cinco dias, os turcos dispararam incessantemente a sua poderosa artilharia, causando grande dano nos nossos canhões, e desfazendo a maior parte das ameias e muralhas da fortaleza. Aproveitaram também para começar a escavar trincheiras e túneis, que avançavam até ao baluarte de Gaspar de Sousa, com que depois pretendiam-no miná-lo para o destruírem.

Mas o valeroso António da Silveira nada temia!
Sempre o primeiro a entrar no combate, comparecia sempre nos lugares mais perigosos, comandava pelo exemplo, e a todos encorajava com palavras de força e sacrifício.
Debaixo do comando de tal chefe, todos os soldados se tornavam heróis!

No entanto, os combates, as diárias sortidas turcas, e o constante fogo de artilharia inimiga iam já ceifando a vida a muitos dos nossos guerreiros...E para piorar a situação, começavam também a faltar armas, mantimentos e munições. A juntar a isto, a única água disponível na cisterna da fortaleza tinha sido contaminada, o que causou um surto de escorbuto que afectou grande parte da lusa gente...
Já tinham perdido todo a esperança de socorro.
 
Contudo, nunca se viu aqueles homens perderem o valor, a coragem, e a valentia...
Faltam as palavras para se poder fazer completa justiça a tanta heroicidade!

Felizmente, a história tem podido conservar os relatos de alguns destes feitos, que merecem a nossa maior admiração. Aqui ficam alguns deles:

Um pequeno moço espanhol de 19 anos, nascido na Galiza, tinha uma vez encontrado perto dos muros um mouro de estatura bastante gigantesca... Pois logo o moço o persegui até ao rio, onde acabaram de cair ambos.
Por ser pequeno, logo lhe faltou o pé quando se encontrou na água, e o mouro aproveitou esta ocasião para o tentar afogar...
Não esperava é que o pequeno espanhol, tirando um pequeno punhal que trazia escondido, lhe desse fortes e repetidos golpes, acabando por o matar. E como se não tivesse sucedido nada, saiu da água, com toda a calma do mundo, e a passo longo regressou para junto dos portugueses, ignorando as muitas balas e flechas que lhe eram dirigidas.

João da Fonseca, que estava lutando numa das muralhas, tendo sido gravemente ferido no braço direito, logo mudou а lança para a outra mão e continuou a combater como dantes, recusando-se várias vezes, apesar do sangue que jorrava do seu braço, a abandonar o combate...

Fernão Penteado, tendo sido gravemente ferido na cabeça. dirigiu-se ao cirurgião, mas vendo como este já estava bastante atarefado de mortos e feridos, regressou para junto dos seus companheiros, onde acabou por receber um segundo golpe. Assim, dirigiu-se novamente ao cirurgião, mas vendo que a situação estava na mesma, e que os seus camaradas precisavam de ajuda urgentemente, lá se arrastou novamente para o combate, apenas para ser atingido gravemente uma terceira vez, fazendo grande e heróico esforço por se aguentar junto dos seus o maior o tempo possível, até que veio a morrer...

João Rodrigues, homem cheio de vigor e de coragem, foi sem duvida aquele que durante este cerco memorável, maiores estragos fez aos inimigos, porque arriscando-se a morrer alvejado pelos tiros com que enfrentava a peito descoberto, ou morrendo queimado, constantemente arrojava aos turcos panelas e barris de pólvora a arder, que matavam e feriam gravemente um grande número de inimigos.
"João das panelas" era já conhecido como o horror dos turcos...

Lopo de Sousa Coutinho, acompanhado de mais 14 portugueses, surpreendido que foi por uns 400 homens de Coje Sofar nos arredores da fortaleza, não só os repeliu numa ruela estreita, mas perseguiu-os até fora da povoação, sendo necessário gritarem e fazerem-lhe sinais repetidos da fortaleza para que voltasse, já era a distância que levava na perseguição aos mouros....

A estes rasgos de bravura, entre muitos outros, se reúne ainda o que foi praticado por um soldado português que no calor da acção, vendo-se com falta de balas, não hesitou em arrancar um dente e com ele carregar a espingarda, perante espanto dos inimigos, que o tomavam já sem munições...
O que é porém bem autenticado e que jamais se deverá remeter ao silencio foi o valor das mulheres portuguesas, igualando sem exagero a tida pelos homens!

Uma delas foi Isabel da Veiga, esposa de um honrado Oficial que antes de começar o cerco quis enviá-la para a segurança do seu pai, em Goa. Mas esta recusou-se, jurando ali mesmo que havia de viver ou então acabar na companhia do marido!
Quando os ataques começaram ela e Ana Fernandes, mulher do cirurgião-mor, reuniram todas as outras mulheres e lhes comunicaram a sua vontade de ali permanecer e com o seu esforço e dedicação para ajudarem na defesa.
Então, debaixo da conduta destas duas heroínas, as mulheres da fortaleza correram todos os perigos dos sitiados, envolvendo-se nas pelejas, animando-os e trazendo-lhes para os lugares mais arriscados as munições e armas necessárias, sempre sem medo e uma coragem sem fim!

Um pequeno socorro chegou neste tempo aos sitiados portugueses.
Foram 28 homens. em quatro pequenas embarcações, os quais vieram decididos a ajudar no necessário e prontos a enfrentar todas as provações que os seus companheiros já haviam conhecido nos primeiros meses. Estes novos soldados comunicaram também aos sitiados que D. Garcia de Noronha, o novo Governador, devia chegar em breve e estava pronto a combater a esquadra dos inimigos.

Suleimão Baxá indignou-se especialmente ao saber que estas pequenas embarcações portuguesas tinham conseguido passar por entre os seus poderosos navios de guerra, e querendo prevenir a chegada de D. Garcia de Noronha, mandou que se atacasse o baluarte do mar, defendido pelo grande capitão António de Sousa.
Mandou, bem disse.
Que é diferente de fazer, melhor se viu, já que dos 50 barcos turcos que se formava o ataque, muitos foram afundados a tiros da esforçada artilharia portuguesa e os outros obrigados a fugir...

Mais irritado do que nunca, Suleimão Baxá, decidiu-se em dar o maior e mais mortífero assalto geral até aí tentado, com que pretendia não apenas tomar a fortaleza, mas exterminar completamente a gente portuguesa que lá se encontrava, tal era já a sua raiva!

Para, isto julgou que se devia fingir uma retirada, talvez para apanhar os portugueses de surpresa.
O fogo da artilharia cessou ao dia 30 de Outubro, e pouco mais de mil homens se embarcaram nos navios, bem à vista dos portuguesas, de acordo com a manobra teatral encenada pelo Turco.
Como previsto, na noite seguinte, quando tudo parecia calmo e adormecido, os turcos fizeram transportar um grande número de escadas para junto das muralhas portuguesas...

Mas de ingénuo António da Silveira não tinha nada, e não se deixava enganar facilmente!
Já se tinha apercebido do estratagema, e de antecedência preparado as coisas para tudo o que pudesse acontecer...

Bem o sabia, de facto!

Pela madrugada, mais de 14.000 mil turcos se reuniram, sendo divididos em 3 grupos de batalha com que se ia formar o grande ataque, não sem antes a artilharia moura desencadear mais uma poderoso salva de fogo, despedaçando as duras muralhas da fortaleza e com elas, os soldados que atrás se encontravam!
 
O primeiro destes grupo de turcos atacou uma parte do baluarte próximo da casa do Governador, quase em ruína. Tão poderosa foi a sortida, que em pouco tempo já 200 turcos tinham conseguido subir e içar uma grande bandeira turca.
Mas 30 portugueses, entre os quais se distinguiram os amigos Martim Vaz e Gabriel Pacheco, foram suficientes para os rechaçar, acabando porém por morrer dos dois bravos amigos no meio da peleja.
As 14 galeras turcas que participaram no ataque também não alcançaram o seu objectivo, pois foram repelidas por Fernando Gouveia, forçando-as a afastarem-se para o largo, não sem antes afundar duas com os seus certeiros disparos de artilharia.

O segundo corpo do exército atacante chegou a arvorar quatro estandartes de vitória sobre uma grande brecha nas muralhas, mas o apuro da situação fez com que os sitiados portugueses se excedessem na bravura, notabilizando-se especialmente João Rodrigues, o homem das panelas, sempre incansável!
A artilharia do baluarte principal, mais a do forte de S,Tomé fizeram um terrível estrago nas fileiras inimigas, através de disparos incessantes, forçando o terceiro corpo de batalha a ter que vir substituir o segundo.

Porém, o terceiro grupo de batalha turco não se revelou com o mesmo ardor e qualidade dos seus primeiros. Já fracos, ainda mais o ficaram quando viram horrorizados o seu capitão, Coje Sofar, a arder em chamas, fruto de uma panela de pólvora incendiária que os portugueses lhe tinham lançado.
Pelo contrário, os portugueses conseguiam resistir formidavelmente, através da sua dedicação e habilidade, num esforço sobre-humano de conter o avanço inimigo em várias brechas, algo nunca visto por aquelas paragens!
E tão arduamente resistiram os lusos, que os inimigos foram obrigados a tomar por último recurso a retirada total, com a perda de mais 1500 homens, entre mortos e feridos!

Durante esta retirada apressada, um habitante local perguntou aos Turcos se os portugueses eram assim tão bons soldados como parecia. A resposta dos Turcos foi que só os portugueses “eram dignos de ter barbas”, e que todos os outros soldados das restantes nações se deveriam remeter “ao estilo das mulheres”...

600 homens tinham resistido a 22.000!
Dos portugueses não restavam mais do que quarenta em estado de combater.
Faltavam-lhes pólvora, e as suas armas estavam em grande parte inutilizadas.
As muralhas da praça, completamente destruídas.
Não obstante, todos haviam jurado morrer ou vencer, mas nunca entregar a fortaleza.
Foi preciso ter tomates, e alguma dose de loucura, sem dúvida!

Qual teria sido o seu fatal destino se o inimigo se tivesse apercebido que apenas se encontravam na fortaleza 40 portugueses aptos a lutar?
Certamente a teria tomado com facilidade!
Para contrariar isto, o grande António da Silveira mandou subir às muralhas da fortaleza todos os feridos que ainda podiam levantar-se, e  muitas mulheres vestidas de homens, para assim impor aos inimigos a ideia que ainda ali estava muita gente portuguesa, pronta a defender-se até à morte!

A vitória no cerco de Diu foi celebrada não só em Portugal mas em toda a Europa!
Quando António da Silveira voltou à sua Pátria, o Rei de França Francisco I, homem que muito apreciava os actos e as virtudes guerreiras, mandou a Portugal emissários com o intuito de obterem um retrato do herói português, para o colocar na Casa da Fama, no Palácio de Fontainebleu.

Pelos altos serviços prestados a Portugal, o Capitão António da Silveira recebeu como mercê a rica Ilha de Macheco, bem como o título de “Defensor de Diu”, como para sempre ficaria conhecido.

Assim se obrou um dos mais extraordinários feitos do nosso passado militar, que tem sido porém continuamente esquecido e posto de parte pela historiografia portuguesa, bem como pelo sistema de ensino, que não lhe dedica nem uma mera referência...



Glória eterna a António da Silveira e aos seus tomates!  

 :Soldado2:      :Soldado2:    :Bajular:              :Bajular:     :Bajular:
 

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cromwell

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« Responder #1 em: Abril 13, 2009, 08:54:55 pm »
E então aquela em que Duarte Pacheco e cinquenta homens defenderam Cochim de um exército de 80 mil homens e de uma frota de 100 navios?
"A Patria não caiu, a Pátria não cairá!"- Cromwell, membro do ForumDefesa
 

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Heraklion

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« Responder #2 em: Abril 16, 2009, 07:48:55 pm »
Não a conhecia mas estou curioso.
Conhece essa Batalha amigo Tomsk??
Nos liberi sumus;
Rex noster liber est;
Manus nostrae nos liberverunt
 

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André

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« Responder #3 em: Abril 16, 2009, 08:04:03 pm »
Citação de: "Heraklion"
Não a conhecia mas estou curioso.
Conhece essa Batalha amigo Tomsk??


 :arrow: Passo de Cambalão - Abril de 1504


Durante a primeira guerra de Cochim, em 1503, tinham-se passado para o Samorim de Calicut dois italianos, idos à Índia nas naus portuguesas a mandado de Veneza, com o propósito de ensinarem os Malabares a fabricar artilharia e a servirem-se dela contra nós. Por outro lado, os Turcos tinham fornecido ao Samorim grande quantidade de canhões e espingardas. Por tudo isso, quando ele, em 1504, voltou a invadir o reino de Cochim, após a partida para Portugal de Francisco e Afonso de Albuquerque, dispunha de um exército e de uma armada muito melhor equipados que os do ano anterior.
Incluindo as tropas de quatro reis seus vassalos, o exército do Samorirn ascendia a mais de oitenta e quatro mil homens. A sua armada era composta por cerca de cem paraus, cada um deles armado com duas bombardas e cinco espingardas, cerca de cem tones com uma bombarda cada um e grande número de catures (navios ligeiros).
A concentração destas forças foi efectuada em Cranganor, donde partiram nos primeiros dias de Abril em direcção a Cochim, indo a armada pelos rios e esteiros que ligam as duas cidades, não só por ser já difícil, naquele mês, a viagem por mar, mas também por causa da fortaleza e da nau que defendiam a barra de Cochim.

Para enfrentar o enorme potencial bélico do Samorim, dispunha Duarte Pacheco Pereira somente de uma nau, em que deixou o mestre por capitão com mais vinte e quatro homens, duas caravelas com vinte e cinco homens cada uma e dois batéis artilhados, um dos quais capitaneado por ele próprio, guarnecidos cada um com vinte soldados. Na feitoria, estava o feitor, fazendo também as vezes de alcaide, com mais trinta e oito homens! A inferioridade das forças portuguesas em relação às do Samorim era de um para quinhentos em homens e de um para sessenta em navios!

Quando a invasão de Cochim se tornou iminente, Duarte Pacheco mandou construir uma forte paliçada diante do vau que na maré baixa dava passagem para a quase ilha em que estava construída a cidade. Além disso, mandou reforçar a protecção das caravelas e dos batéis com paveses feitos de tábuas da grossura de dois dedos e com arrombadas constituídas por sacos cheios com algodão, pendurados fora da borda, destinados a amortecer o impacto dos pelouros inimigos. Mandou também armar cada batel com quatro berços.
 
Apesar de todos estes preparativos, a população de Cochim e o próprio rei andavam muito descoroçoados por ver que as nossas forças eram insignificantes comparadas com as do Samorim. Para os animar, Duarte Pacheco efectuou vários assaltos de surpresa contra as terras de Cochim que se haviam passado para o lado do invasor, queimando-lhes muitas aldeias e matando-lhes muitos naires.
Sabendo então que o exército e armada do Samorim se estavam dirigindo para o passo de Cambalão (que hoje é muito difícil de saber exactamente onde ficava situado), resolveu ir esperá-los aí, levando consigo apenas uma caravela e os dois batéis, já que a nau, devido ao seu calado, não podia navegar nos rios e esteiros e a outra caravela ainda não tinha concluído a reparação das avarias que sofrera na guerra do ano anterior.
Chegado ao local, onde o rio teria cerca de cem metros de largura, fundeou os seus três navios com fortes amarras de ferro, para que o inimigo as não pudesse cortar facilmente, e mandou passar rejeiras de uns para os outros para, alando por elas, poderem orientar à vontade a direcção dos seus canhões.
Ao amanhecer do dia 16 de Abril apareceu a margem norte coberta de soldados que atroavam os ares com os seus gritos e o toque de inúmeros instrumentos bélicos. À borda de água tinha sido montada durante a noite, sob a direcção dos dois italianos, uma bateria de cinco canhões que começou logo a bombardear a caravela. Respondeu esta acto continuo e fê-lo tão eficazmente que a guarnição da bateria se pôs em fuga.
Nessa altura começou a despontar, detrás de uma curva do rio, a imensa armada de Calicut. À sua vista, alguns paraus de Cochim que tinham ido em companhia de Duarte Pacheco fugiram para aquela cidade, onde espalharam a notícia de que os portugueses estavam perdidos!

A verdade é que, sob o ponto de vista táctico, a escolha do local fora excelente. Devido à pouca largura do rio naquele ponto, os paraus inimigos só podiam avançar numa frente estreita. Por isso, os nossos navios só tinham que combater de cada vez com pouco mais de uma dezena. Por outro lado, devido à falta de espaço para manobrar, os que eram obrigados a retirar, destroçados e cheios de mortos e feridos, embaraçavam e desmoralizavam os que vinham atrás.
Não obstante, parecia milagre como três navios minúsculos iam conseguindo deter aquela mole imensa que avançava contra eles e que parecia submergi-los.

Primeiro, vieram vinte paraus, amarrados uns aos outros, disparando continuamente as suas quarenta bombardas e as suas cem espingardas, acompanhadas do arremesso de milhares de flechas. Mas os paveses e as arrombadas dos nossos navios funcionaram às mil maravilhas, aguentando bem o impacto dos pelouros, das balas e das flechas, enquanto os bombardeiros e espingardeiros portugueses chacinavam as guarnições dos paraus inimigos que não dispunham de qualquer espécie de protecção.

Ao fim de pouco tempo, dos vinte paraus que tinham iniciado o ataque, quatro já estavam meio alagados, cheios de mortos e feridos e incapazes de manobrar; os restantes, também com avarias diversas, mortos e feridos, viram-se obrigados a retirar. Mas foram logo substituídos por outro grupo de cerca de uma dezena de unidades que não teve melhor sorte. E, depois, veio outro grupo, e outro, e outro... Mas o resultado era sempre o mesmo: após algum tempo de duelo de artilharia com a nossa caravela e os nossos batéis, os paraus do Samorim eram obrigados a bater em retirada com muitas avarias e cheios de mortos e feridos.
Pelo meio-dia, estando já a água do rio tinta de sangue, a armada de Calicut cessou os seus ataques e bateu em retirada. Ao mesmo tempo, as tropas de terra que durante a batalha não tinham parado de lançar flechas sobre os nossos navios, afastaram-se também para fora do alcance da sua artilharia.
Nesta primeira batalha, conforme veio a saber-se mais tarde, teve a armada de Calícut para cima de mil e trezentos mortos. Dos portugueses não morreu nem ficou ferido nenhum! Abençoados paveses e arrombadas!

Poucos dias depois desta primeira batalha, veio juntar-se à flotilha de Duarte Pacheco a caravela que ficara em Cochim a acabar as reparações.
Vexado com a derrota sofrida, o Samorim resolveu fazer segunda tentativa no domingo seguinte, que era Domingo de Páscoa, começando por enviar sessenta paraus, por outro rio, contra a nau que estava em Cochim na esperança de que Duarte Pacheco fosse imediatamente em seu auxílio, deixando livre o passo de Cambalão.

Daí resultou que, cerca das nove horas, chegou uma embarcação com com um recado do rei de Cochim para Duarte Pacheco pedindo-lhe que fosse ajudar a sua nau que estava em apuros. Mas este não se deixou impressionar. No entanto, como a maré estava a vazar, resolveu ir com uma caravela e um batel em socorro da nau, pensando que poderia regressar, logo que a maré começasse a encher, a tempo de apoiar a outra caravela e o outro batel que ficavam defendendo o passo.
E assim aconteceu!

Logo que Duarte Pacheco chegou perto da nau, os paraus que a estavam a atacar, temendo ficar metidos entre dois fogos, puseram-se em fuga e ele, aproveitando a enchente, tal como previra, voltou rapidamente para o passo de Cambalão, onde a outra caravela e o outro batel estavam aguentando sozinhos todo o peso da armada de Calicut.
E repetiram-se as cenas da semana anterior. Os paraus do Samorim, durante mais de três horas, lançaram repetidos ataques sobre os navios portugueses, em tentativas desesperadas para os abordar, sendo de todas as vezes rechaçados com muitas avarias e um número elevado de mortos e feridos. Depois de terem perdido dezanove paraus, incendiados ou afundados e terem tido cerca de duzentos mortos, não tiveram outra alternativa senão retirar.

No dia seguinte, em vez de aproveitarem para repousar das fadigas da véspera, os portugueses foram atacar de surpresa uma povoação da ilha de Cambalão, tendo no caminho combatido com catorze paraus, que desbarataram!

E no dia imediato a esse teve lugar a terceira batalha que, tal como a primeira começou com um bombardeamento cerrado dos nossos navios por parte da bateria de terra. Mas o tiro desta era pouco certeiro e Duarte Pacheco deu ordem aos seus homens para não responder, a fim de dar confiança à armada inimiga para se aproximar. O estratagema resultou. Quando os navios que constituam a sua vanguarda se aperceberam que os portugueses já não respondiam ao fogo de terra, convenceram-se que teriam sofrido graves perdas e lançaram-se sobre eles atabalhoadamente, certos de que desta vez os iriam finalmente abordar. Só que no momento em que estavam prestes a chegar junto deles foram recebidos por uma salva disparada à queima-roupa de todos os canhões e todas as espingardas das caravelas e dos batéis que lhes mataram muita gente e meteram no fundo, de uma assentada, oito paraus!

O primeiro ímpeto do inimigo fora quebrado. Mas continuaram a vir mais e mais paraus que, uns após outros, ou eram afundados ou obrigados a retirar cheios de mortos e feridos.

Por volta do meio dia, quando a batalha estava já a esmorecer, um dos nossos batéis começou a arder. Reanimaram-se os malabares e todos os paraus que o puderam fazer concentraram sobre ele o seu fogo e os arremessos de flechas, na esperança de o tomarem. Mas, mais uma vez, as suas expectativas foram goradas. A guarnição do batel conseguiu dominar o incêndio e continuou a combater com a mesma eficácia de antes.

Só restava ao inimigo retirar. Foi o que fez, tendo perdido nesta terceira batalha mais vinte e dois paraus e sofrido mais de seiscentos mortos.
Logo que a armada de Calicut iniciou a retirada, Duarte Pacheco, apesar de ter os seus homens exaustos, foi em sua perseguição com os dois infatigáveis batéis e, saltando em terra, matou muitos naires do senhor de Cambalão e queimou-lhe mais duas povoações, sem perder um único soldado!

E com tudo isto andavam os Malabares e os «Mouros» assombrados e diziam que o Deus dos Portugueses estava combatendo por eles, pois que de outro modo não se podia explicar como é que, sendo tão poucos, alcançavam sempre a vitória, tanto em terra como no mar, contra inimigos tão numerosos!


Saturnino Monteiro                
em «Batalhas e Combates da Marinha Portuguesa» (Vol.I)

 

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TOMSK

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« Responder #4 em: Maio 29, 2009, 12:14:40 pm »
As maravilhas de Portugal no Mundo - Fortaleza de Diu, Índia

 :arrow: http://tv1.rtp.pt/noticias/?headline=20 ... cle=222965

A nossa viagem pelas maravilhas portuguesas espalhadas pelo Mundo leva-nos de volta à Índia. Hoje damos a conhecer a mais importante fortaleza construída pelos portugueses, na Índia, na cidade de Diu. Durante o século XVI, esta fortificação garantiu a Portugal o controlo absoluto da rota marítima das especiarias e das sedas. Graças à localização da ilha de Diu, esta fortaleza foi um entreposto comercial estratégico e só paralisou com a construção do canal do Suez. As suas imponentes muralhas têm sete quilómetros de perímetro e ainda hoje são motivo de orgulho para os habitantes de Diu que olham com saudade para a herança de Portugal.