VBC Cav 8X8, as novidades
Por Paulo Roberto Bastos Jr. -maio 13, 2021No dia 30 abril, ocorreu a entrega das propostas da consulta pública (“Request for Information” – RFI) Nº 01/2021, à Diretoria de Material (DMat) do Exército Brasileiro (EB), que buscam sondar os mercados nacional e internacional e verificar as capacidades de fornecimento para a execução do projeto de obtenção da viatura blindada de combate de Cavalaria (VBC Cav), dentro do Programa Estratégico do Exército (Prg EE) Guarani.
O DMat criou uma comissão especial formada por integrantes do Estado-Maior do Exército (EME), Comando Logístico (CoLog), Comando de Operações Terrestres (CoTer), Secretaria de Economia e Finanças (SEF), Diretoria de Ciência e Tecnologia (DCT) e Comando Militar do Sul (CMS), que será assessorada por entidades civis especializadas em gestão de projetos complexos e Engenharia de Sistemas, para conduzir as análises de requisitos técnicos e operacionais, com previsão de conclusão dos trabalhos em 21 de maio.
Diversas companhias do exterior, com apoio de empresas brasileiras, apresentaram suas ofertas dentro dos requisitos solicitados, sendo que
as viaturas estavam em uma faixa de peso bem ampla, entre 24 e mais de 36 toneladas, equipadas com canhões de 105mm (105×617mmR) ou 120mm (120×570mmR).Essas propostas não foram divulgadas oficialmente pelo EB, porém foi possível apurar algumas informações sobre alguns candidatos e suas configurações, conforme resumo a seguir.
CIO Centauro IIComo já era sabido, o Consórcio Iveco-Oto Melara (CIO), uma “joint venture” entre as italianas Iveco Defence Vehicles (IDV) e Leonardo, ofereceu o Centauro II, uma evolução do Centauro B1, que é considerado o primeiro blindado anticarro 8X8 do mundo com arma de alta pressão.
A versão apresentada ao EB é a mesma que que está entrando em operação no Exército Italiano, com as melhorias da V 3.0, um peso aproximado de 30 toneladas e equipado com uma torre Leonardo HITFACT MkII, que pode ser armada com um canhão de 105mm/L52 ou 120mm/L45.
Um dos trunfos é o fato de a IDV contar com uma unidade fabril no Brasil, na cidade de Sete Lagoas (MG), que pode prestar o suporte logístico integrado, assim como nacionalizar diversos componentes, padronizando-os com as viaturas da família Guarani.
GDMS LAV 700A General Dynamics Mission Systems (GDMS) Canada, do grupo General Dynamics, está oferecendo o LAV 700, desenvolvido a partir do LAV 6.0, do Exército Canadense, com um motor mais potente, de 711 HP, e outras melhorias, para a Arábia Saudita que pretende adquirir 742 exemplares de diferentes versões para a Guarda Nacional local.
Com praticamente as mesmas características dos blindados Stryker, utilizados pelo Exército dos Estados Unidos (US Army), o LAV 700 é um veículo moderno robusto e que possui, dentre outras coisas, proteção balística escalonável, casco duplo em “V” (para proteção contra explosões vindas da parte de baixo, como minas e artefatos explosivos improvisados), assentos que absorvem energia e sistema de alerta a laser.
A versão oferecida é a “Fire Suport Vehicle” (FSV) 105, equipada com a torre CMI CT-CV 105HP dotada de um canhão de 105mm/L53, a mesma que os sauditas já encomendaram 119 viaturas e que encontra-se em serviço.
Norinco ST1 AdvantageA China North Industries Group Corp (Norinco) apresentou o ST1 Advantage, inicialmente chamado de ST3, uma evolução do blindado ST1, modelo de exportação do ZBL-09 utilizado pelo Exército Chinês.
Essa viatura tem peso de combate de 24 toneladas e uma nova torre dotada de um canhão 105mm, versão chinesa da série L7, cujo grande diferencial é a elevação de seu tubo de 45º, permitindo que seja empregada também como um obuseiro autopropulsado sobre rodas, fornecendo apoio de fogo de longo alcance à tropa mecanizada.
Os chineses estão negociando parcerias para a nacionalização de componentes, como parte de seu pacote de “offset”, notadamente em termos de eletrônica embarcada e componentes automotivos.
AMV XPA finlandesa Patria respondeu com o AMV XP, a evolução do AMV apresentado em 2013. “XP” significa “extra payload”, ou seja, maior carga útil pois trata-se de um blindado maior, mais capaz e mais pesado.
O peso de combate da versão básica do AMV X é de 32 toneladas, contra 26 da versão anterior, e o tipo “tank destroyer”, oferecida ao EB, pode ser equipada com a torre CMI XC-8, com canhão de 105mm/L53 ou 120mm/L50, ou com a Leonardo HITFACT, similar à do Centauro II, com canhão de 105mm/L52 ou 120mm/L45. Essa opção da CMI é muito inteligente já que a Leonardo integra a CIO e poderia dificultar as negociações da concorrente.
A Patria vem sondando companhias brasileiras e estuda uma “joint venture” para produzir o carro no País. Um ponto negativo é que, apesar do AMV contabilizar um relativo sucesso de vendas, a versão XP ainda não foi adotada em qualquer lugar.
ARTEC BoxerTambém da Europa, uma associação formada pela Krauss-Maffei Wegmann, Rheinmetall Military Vehicles e Rheinmetall Defense Nederland, oferece o Boxer, um blindado desenvolvido para os Exércitos da Alemanha e da Holanda. De projeto inovador, foi planejado dentro do conceito de que uma viatura básica pudesse receber módulos de missão específicos para cada função, os quais são intercambiáveis e podem ser trocados rapidamente. Assim, uma mesma plataforma é convertida, por exemplo, de transporte de tropas em um veículo de comando, Engenharia ou apoio de fogo, conforme a necessidade.
Está em uso nas Forças Armadas da Alemanha, Holanda, Lituânia e Austrália e, em breve, entrará em operação no Reino Unido e na Argélia. O módulo de combate para um eventual fornecimento ao EB, equipado com uma torre CMI 3105 e um canhão de 105mm/L53, ainda está em desenvolvimento. O peso de combate do veículo básico está em torno de 36 toneladas e não se pode apurar com o módulo de combate de 105mm.
Do mesmo modo que a IDV, a KMW tem uma unidade de manutenção no Brasil, em Santa Maria (RS), que pode ser ampliada e transformada em uma linha de produção dessas viaturas.
Um ponto importante mas o elevado custo de manutenção com o desenvolvimento ainda em conclusão pode dificultar.
Elbit EitanO Elbit Group surpreendeu ao propor o Eitan, um blindado desenvolvido pelo “Mantak “ (“Merkava Tank Office”), como uma espécie de “Merkava sobre rodas” graças ao alto grau de proteção blindada. Entretanto, isso resulta em um peso também elevado.
O blindado encontra-se em desenvolvimento e os primeiros estão programados para serem entregues apenas no final do próximo ano. Sabe-se, contudo, que uma torre de 105mm não está nos planos dos israelenses.
A Elbit está propondo sua nova torre, a “Sabrah light tank”, com um canhão de 105mm/L52, a mesma vendida ao Exército das Filipinas para equipar os blindados Ascod e Pandur. O problema é que essa torre ainda não deixou ser um projeto.
Fabricantes de outros países, como a Turquia e os Emirados Árabes Unidos, também manifestaram seus interesses junto ao EB, e serão detalhados em trabalhos futuros.
Mas nem tudo são floresO projeto de um blindado 8X8 armado com um canhão de 105/120mm nasceu junto com o Programa Guarani.
Os estudos iniciais apontavam em direção ao desenvolvimento de uma viatura dentro do Programa Nova Família de Blindados de Rodas (NFBR). Questões econômicas e as dificuldades técnicas de transformar uma VBTP em uma VBC, levaram à opção pela aquisição de um veículo já em uso e que atendesse aos requisitos do EB.
Com essa mudança conceitual, em 2019, foi criado o Grupo de Trabalho (GT) Nova Couraça, para integrar as ações de revitalização dos meios blindados disponíveis na Força e a aquisição de seus substitutos, estabelecendo os requisitos operacionais da VBC Cav. Em 2020, foi transformado em Subprograma Forças Blindadas (SPrg FBld), no seio do Prg EE Obtenção da Capacidade Operacional Plena (OCOP).
Neste ano o Projeto VBC Cav foi transferido do Prg EE OCOP para o Guarani tendo alguns de seus requisitos modificados. Apresentou ao mercado uma RFI para a
aquisição uma quantidade entre 98 a 221 viaturas.
O cronograma previa que a escolha do vencedor ocorresse até setembro daquele ano, até porque o general-de-exército Edson Leal Pujol, então comandante do Exército,
desejava que os dois primeiros exemplares, a serem adquiridos para avaliação técnica, fossem entregues a tempo de participarem do desfile de 7 de setembro de 2022, quando será comemorado o bicentenário da independência do Brasil.Fontes militares informaram que, devido aos cortes orçamentários causados pela crise da pandemia de covid-19,
a data para a escolha deverá ser estendida até outubro de 2022, o que terá impacto em diversos outros programas do EB, como a modernização do Cascavel, cuja contratação ocorrerá somente após a seleção da VBC Cav, para garantir a comunalidade logística.
Todavia, diante da importância desse projeto, mesmo com todas as dificuldades que surgem ou venham a surgir, o EB não pretende abrir mão dele.
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