Polícia caldense morto no AlgarveUm agente da PSP de Lagos, natural das Caldas da Rainha, foi morto com um tiro na cabeça, por assaltantes de uma caixa Multibanco em Portimão.
O grupo de assaltantes oriundo de Sevilha (Espanha), composto por sete elementos encapuzados, tentou furtar a caixa Multibanco do hipermercado Ecomarché de Budens, concelho de Vila do Bispo, por volta das 4h45 do passado domingo.
Os criminosos faziam-se transportar num Opel Astra, de matrícula espanhola. Dirigiram-se a Silves, tendo assaltado um armazém, de onde levaram um Mercedes C220 e junto de um café de Budens roubaram uma carrinha Ford Transit. Na zona de Portimão, apoderaram-se de um auto-reboque, com o qual, em marcha-atrás, destruíram a porta metálica do supermercado e retiraram a caixa Multibanco.
Na altura, um militar da GNR, num carro particular à civil, passou na zona e foi alvo de um disparo. O militar buscou um lugar seguro e ripostou. O gang deixou a caixa, o reboque e a Transit, optando pela fuga a alta velocidade em direcção a Lagos, onde a PSP tinha, entretanto, montado uma barreira.
Quando enfrentaram a barreira policial, na primeira rotunda do Nó de Lagos da Via do Infante, houve nova troca de tiros com os assaltantes e foi nesse momento que o agente da PSP foi atingido mortalmente.
De acordo com o Comando da PSP de Faro, os dois veículos em que seguiam os assaltantes chegaram à barreira policial, constituída também por dois veículos, quando um dos carros da polícia ainda se estava a posicionar. Os dois carros fugitivos - que eram perseguidos por uma viatura da GNR - chegaram a reduzir a velocidade, dando a ideia de que iam parar, acelerando repentinamente, forçando a passagem pela berma, por onde escaparam. Ao mesmo tempo, um dos assaltantes efectuava disparos à queima-roupa, na sequência dos quais o agente Sérgio Patrício Martins, de 49 anos, posicionado junto da sua viatura, foi atingido na cabeça.
Presume-se que o grupo de assaltantes seja o mesmo que na passada quinta-feira tentou remover uma caixa Multibanco de uma bomba de gasolina em Faro, envolvendo-se em tiros com a GNR e conseguindo escapar ileso. O mesmo grupo terá também roubado uma caixa Multibanco num posto de gasolina em Silves, a 24 de Novembro. Nas três ocorrências os indivíduos actuaram com idêntico
“modus operandis”, com a utilização de viaturas furtadas de altas cilindradas e actuação com violência.
Sérgio Martins é o quarto agente da PSP morto desde o início do ano e o terceiro a ser baleado na cabeça. Em Fevereiro, um agente foi morto durante uma patrulha na Cova da Moura, concelho da Amadora. No mês seguinte, dois agentes foram mortos quando interpelaram um homem, no Bairro da Falagueira, também na Amadora.
Perante este cenário,
“o Governo nada faz”, acusou, em comunicado, a Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP/PSP).
Para os profissionais da PSP, "o elevado número de mortes e agressões sofridas pelos agentes de polícia em serviço exigem medidas que salvaguardem a sua integridade física e tranquilidade dos seus familiares".
A ASPP/PSP exige igualmente que "as punições previstas para os crimes de agressão e morte aos polícias se tornem evidentes, e que não se dê alento aos indivíduos marginais às normas sociais e aos deveres de cidadania num Estado de direito".
No comunicado, a associação exige ainda que "seja revisto o regulamento do uso da força e utilização das armas de fogo" e considera que o texto em vigor é "um incentivo a esses criminosos".
“O Governo não tomou qualquer medida no sentido de proteger a polícia”, argumentou também o presidente do Sindicato Nacional da Polícia (SNP), Armando Ferreira, acrescentando que
“a polícia está a bater no fundo, com a falta de alguém que nos defenda”.
O presidente do sindicato afirmou ainda que no nosso País
“há falta de formação da polícia em situações de tiroteio, perseguição e imobilização de viaturas” e considerou que os grupos de criminosos armados preferem vir para Portugal, e não para Espanha, porque têm consciência da falta de poder da polícia portuguesa, designadamente para
“poder abrir fogo”.
O Sindicato dos Profissionais da Polícia (SPP) admitiu poder vir a responsabilizar criminalmente o ministro da Administração Interna e outros responsáveis políticos pelo "laxismo existente nas condições de trabalho" concedidas aos agentes em serviço.
"Só começando a responsabilizar política e criminalmente os responsáveis políticos poderemos acabar ou fazer diminuir estas tragédias que ciclicamente ocorrem", disse o delegado do SPP no Algarve, António Cartaxo.
O dirigente sindical garantiu que, nos próximos dias, o SPP vai analisar a viabilidade jurídica de responsabilizar os titulares de cargos políticos responsáveis pela área das polícias e o próprio director nacional da PSP.
Em comunicado, o SPP atribui as causas profundas de acontecimentos como o do passado domingo à "incúria, desleixo, negligência e insensibilidade" dos responsáveis políticos da área da polícia.
"Não nos conformamos apenas com as lamentações e os sentidos pêsames à família que já se adivinham vir aí da parte dos responsáveis políticos e tutelares da polícia", adianta o comunicado, observando ser necessário "muito mais do que isso para que os polícias deixem de morrer em acções policiais onde deviam ter todas as condições de protecção material ao seu dispor".
Em conferência de imprensa, o director nacional adjunto da PSP, António Chumbinho, garantiu que
“os procedimentos policiais e os recursos humanos postos no terreno em Lagos foram os correctos e adequados”. Invocando um possível prejuízo das investigações, o responsável escusou-se a mais pormenores.
A família do polícia assassinado em Lagos foi apanhada de surpresa pela notícia da sua morte, embora tivesse consciência da profissão de risco que tinha.
“Era uma pessoa destemida mas ponderada e dizia que ‘só tenho de morrer onde tiver de morrer”, contou Maria dos Anjos Martins, cunhada do chefe da PSP.
O sobrinho Marco Martins apontou que era
“uma pessoa que não gostava de violência, era pacato e cumpria o dever com justiça”, sublinhando que
“guardava bem o segredo profissional e não contava muitas histórias da sua actividade”.
Luís Martins, irmão do agente, recordou que
“ele fez a tropa e sempre quis ser polícia, o que conseguiu”.
Sérgio Patrício Martins pertenceu ao Grupo de Operações Especiais (GOE) durante doze anos e após um acidente de moto que o levou a abandonar esta força especial, prestou serviço na esquadra da PSP das Caldas da Rainha, onde um dos cunhados desempenha funções na secção de trânsito.
Como gostava do Algarve, há onze anos pediu transferência para Lagos, onde fixou residência e morava com a esposa e dois filhos, de 13 e 22 anos. De dois em dois meses regressava às Caldas da Rainha, onde também tinha casa e onde se concentra a família do casal.
Na sua folha de serviços constam ainda serviços prestados nos Açores e numa missão de paz da PSP durante vinte meses na ex-Jugoslávia.
O funeral realizou-se na passada terça-feira, num cemitério das Caldas da Rainha. O comando da PSP tem prestado
“um serviço impecável” no acompanhamento da viúva, Maria da Conceição, pelo que tem sido transmitido por familiares que se deslocaram ao Algarve. A viúva, doméstica, diz que já nada a prende a Lagos e o regresso definitivo da família às Caldas da Rainha está para breve.
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