Artigo do Expresso...

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dremanu

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Artigo do Expresso...
« em: Maio 28, 2004, 07:27:43 pm »
Apesar de ser longo vale a pena ler, é uma descrição correta dos problemas estruturais presentes na administração pública.
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Aquilo que mais surpreende nos discursos neoliberais é a sua inesperada pose de inocência face à ideia por eles divulgada de que um Portugal liberal será o melhor dos mundos. Supõem-se num universo suficientemente ágil para que o liberalismo possa frequentar os seus temas preferidos tais como a livre-iniciativa, o não-intervencionismo estatal, etc. Mas, na minha opinião, com um aparelho de Estado como o português, um neoliberal ou é pateta ou um cripto-estatista a aproveitar-se engravatadamente do esquema vigente. O azar deles é a sorte da tribo de esquerda, toda ela ideologicamente adepta do Estado benfeitor. E, entretanto, todos eles assobiam para o ar perante os 700 mil funcionários públicos que ali estão a olhar para os acima citados - os políticos- com o olhar manhoso de quem sabe que eles não os podem despedir, incluindo os de esquerda, por dever ideológico, e todos eles por clientelismos políticos vários.
 
De facto, desde o 25 de Abril, o Estado salazarista só foi beliscado por um tímido Dr. Cavaco ao abolir o papel selado. Não só não mudou nada como, pior ainda, engordou. Os dois partidos dominantes foram-no enchendo até o aparelho se transformar no monstro que o mesmo Dr. Cavaco evoca de cada vez que fala da despesa pública. De entre os notáveis, o único que transmitiu publicamente até hoje a preocupação que tal absurdo administrativo lhe causou foi Freitas do Amaral aquando do debate sobre a regionalização. Dizia ele que o 25 de Abril tinha democratizado o topo político e as bases municipais do aparelho mas tinha deixado incólume o corpo do Estado. Perspectivava ele - assim - que, para além da coordenação governamental, teria que haver um segundo patamar eleito de coordenação - mais próximo da população - antes da execução final do acto político, e, desse modo, contradizia, por aí, o centralismo visceral da restante classe política, desde o BE ao PP, todos eles encostados ao Terreiro do Paço e argumentando, com a pequena dimensão do País e o aumento do despotismo, a favor do tudo na mesma, e com Hernâni Lopes a empunhar o estandarte do «status quo». Entretanto, enormes caravanas de carros EP da classe a correr nas auto-estradas armados de batedores e guarda-costas, como se estivessem a atravessar a América só para aparecerem na TV aquando de uma inauguração mínima, virtualizando, assim, o nexo político com o cidadão num país que - aqui sim - por ser pequeno, não merece o distanciamento que noutros países, por serem grandes, institucionalizam mais facilmente o nexo virtual em desfavor do nexo humano.
 
Entretanto, o Estado não só cresceu em grandeza e em despesa como, sobretudo, adaptou a tácita palavra de ordem interna de fazer pouco para todos fazerem algum.
 
O exemplo mais patético deste binómio político Estado virtual / Estado monstro é a inflação legislativa. Segundo disse Morais Cabral neste jornal (edição de 8 de Fevereiro de 2003), na década de 90 produziram-se mais de 5000 leis, «o que corresponde a uma média de 500 diplomas por ano». Ninguém dirá, por este andar, que o legislador está a dormir mas aquilo em que ele incorre é na síndrome da perfeição negativa: a inflação legislativa existe e multiplica-se na razão directa da sua implicabilidade prática. Um exemplo do dito Portugal profundo: existe uma lei recente que obriga a que a matança do porco seja feita nos matadouros; como, em geral, só há matadouros nas capitais de distrito, só o preço do transporte inviabiliza essa deslocação. Resultado: a lei não é cumprida. A esmerada lei anti-ruído que os socialistas publicaram é tão perfeita que se torna impraticável.
 
A síndrome da perfeição negativa traduz-se, na prática, por uma paralisação da própria legislação: o deputado do PSD Miguel Coleta confirmou (Dez. 2003) que mais de uma dezena de leis aprovadas entre 1998 e 2001 pela AR não entraram em vigor ou foram sequer regulamentadas, concluindo assim o deputado: «Como se se legislasse não para resolver problemas mas para se 'livrar deles'». Mas se elas passam para o corpo do Estado, elas têm que percorrer o labirinto do aparelho, traduzido pelo gen. Garcia dos Santos na sua efémera passagem pela OA Estradas como uma «complexa e interminável rede de patamares decisórios a nível vertical e horizontal com entrecruzamento de competências funcionais, nalguns casos concorrentes (...) por vezes rivalizando entre si (...) sem aparentemente qualquer coordenação central» (EXPRESSO, 25-10-2003).
 
A questão do Estado português é, em suma, a de que ele foi concebido para um regime monocultural, processualmente corporativo, tal qual como Salazar o construiu.
 
É um aparelho elaborado para que desçam ordens e subam requerimentos e exposições. O seu organigrama caracteriza-se pela predominância de blocos verticais, estanques. Não há qualquer intenção de transversalidade nem de lateralidade. Ora, se este aparelho passar a servir um regime policultural e de perfil menos autoritário, para o qual ele não foi concebido, ele tenderá a servir-se a si próprio enquanto os tais departamentos estanques se transformam em «lobbies» dentro do próprio Estado, passando a exercer uma governação paralela à do governo, sem que este consiga controlar seja o que for. Com a passagem do regime salazarista para o regime democrático pode-se atribuir ao Estado que dessa mudança proveio a máxima popular que diz, «patrão fora, feriado na loja».
 
A questão do défice é apenas um dos modos como o icebergue aparece, porque se o ciclo económico fosse positivo poucos falariam do monstro, como aliás aconteceu com a passividade de Alberto Martins quando foi ministro da reforma administrativa do Governo PS. E, no entanto, ele avança a um ritmo uniformemente acelerado: a OCDE afirmou em 2003 que o sector privado só criou 0,8 por cento do emprego durante a década de 90, a mesma que foi pautada pela inflação legislativa, ou seja, a síndrome da perfeição negativa é multiplicadora de emprego estatal, e um «D.N.» de Dezembro último acenava com 19 mil funcionários entre 2002 e 2003, contradizendo o espalhafatoso combate da Dra. Ferreira Leite.
 
Tudo isto porque o 25 de Abril ocupou o Estado salazarista tal qual ele estava sem qualquer intenção de reforma, do mesmo modo que a extrema-esquerda ocupou os latifúndios do Alentejo sem qualquer reforma importante a nível agrícola pois limitou-se a cumprir o projecto cerealífero de Salazar.
 
Mas se olharmos para o aparelho de Estado a partir do exterior, isto é, do ponto de vista do utente-contribuinte-cidadão, ele ganha contornos novos; determina-se na vida quotidiana dos portugueses através de múltiplos entraves que lhe emprestam a má fama com que é creditado em geral.
 
Como é ele que detém a informação e como ele se estrutura nos tais departamentos verticais, voluntariamente estanques (inimigos activos, portanto, de qualquer informação transparente do Estado), cabe ao cidadão a tarefa ciclópica de fazer circular essa informação de departamento para departamento num vaivém de requerimentos e certidões, desempenhando funções que ao Estado naturalmente caberiam. Processa-se assim a esquizofrénica obra de o Estado se assumir como não sendo ele próprio ao obrigar o cidadão a um acrobático vai-volta-vai, e, assim, neste pingue-pongue instalado entre a inércia estatal e o voluntarismo do cidadão gera-se um mal-estar face à obrigatoriedade do pagamento dos impostos. Porque, ao contrário do que é comum pensar, a fuga aos impostos tem muito menos a ver com a corrupção do que com a fartura do cidadão face à Administração. Estamos perante um delito de natureza estrutural e nunca circunstancial, pesem embora as devidas excepções. É como se fosse natural. Porque o Estado não aparece como parceiro da sociedade civil mas como um corpo estranho que é obrigatório suportar.
 
Esta configuração do Estado como corpo estranho só é perceptível do exterior e implica-o numa dinâmica própria que é a da máquina a funcionar plenamente no vazio, autisticamente embevecida da sua obra, mesmo se lhe faltar a matéria-prima: os 10 mil funcionários do Ministério da Agricultura para um número de agricultores simbolicamente à importância zero, constituem um dos múltiplos exemplos da esquizofrenia institucional instalada, como o será também o belo acto pedagógico do professor universitário operando em cursos de pré-desempregados com o ar mais solene do mundo, ou a câmara municipal que após incorporar nos seus serviços nuvens de arquitectos, engenheiros e assessores, consegue que os despachos de licenciamento ainda sejam mais morosos.
 
É difícil - porque absurdo - convencer as pessoas a pagar essa negatividade. Não suportam suportá-la. O relatório McKinsey confirma-o, aliás. Segundo a leitura de Saldanha Sanches o relatório toma como principal problema da competitividade portuguesa a economia paralela. O que é que queriam?
 
De facto, de 1989-90 para 2001-02 a economia paralela, também chamada informal, cresceu 41 por cento!!! (EXPRESSO, 03-01-2004). Saldanha Sanches diz termos, assim, um Estado do Terceiro Mundo, no que eu não estou totalmente de acordo. Por essas paragens são as tribos que ocupam o Estado e o dirigem. Em Portugal não são as tribos mas os partidos que açambarcam o Estado, muito mais do que em qualquer outra democracia europeia. Mas enquanto uma tribo é clara na distribuição dos privilégios pelas teias de parentesco e cumprem-no claramente, sem rodeios, os partidos utilizam uma ideologia, qualquer que ela seja, a qual não é clara na definição de solidariedades, e muito menos no cumprimento dos seus slogans ideológicos, negando-os com a maior das facilidades, o que provoca um nevoeiro mental de podridão ética em favor do faz-de-conta, esquizofrenizando cada vez mais o comum dos cidadãos, os quais se apercebem rapidamente o enquadrarem-se cada vez mais os partidos na figura jurídica dita associação de malfeitores. E o que fez a Dra. Ferreira Leite aquando do perdão fiscal quando depois de os bem intencionados terem pago os ter deixado a contas com o tribunal? Não teremos aqui um belo perfil de delinquência? Por isso mesmo ela terá dificuldade em entender que para acabar com a economia paralela terá de acabar com a tal segunda governação (ou governação paralela) exercida pelo próprio aparelho do Estado, pois ambas são verso e reverso da mesma moeda.
 
E aqui estamos nós a olhar para este espectáculo trágico-cómico sem sabermos bem se deveremos emigrar e escolher outra nacionalidade ou se votamos todos em branco nas próximas eleições.
 
Jacinto Palma Dias
Agricultor
 
14:10  18 Maio 2004
"Esta é a ditosa pátria minha amada."
 

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Luso

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« Responder #1 em: Maio 28, 2004, 09:58:56 pm »
Dremanu, a descrição não está correcta mas contém umas boas verdades.
Conheço um pouco da função pública, desde o varredor de rua, ao reitor de universidade, ao secretário de estado e ao ministro.
E posso dizer-lhe o seguinte: o problema está nas chefias e no facto da sua maioria nunca ter trabalhado "a sério" e viver apenas de paleio e aparência (se falarmos de professores universitários a coisa é que é!).
Sem chefia não há nenhuma instituição que aguente. Para dar um rumo, para dar o exemplo para impor ordem e disciplina. E são raríssimos os casos de chefias com tomates, porque há sempre um superior que se assusta e lhes corta as bases.
Trabalhar pouco para todos trabalharem?
B-a-l-e-l-a-s!
Há trabalho para toda a gente e não é pouco. Há é pouca vontade e um número inversamente proporcional de desculpas para nada fazer. E porquê?
Porque é que eu tenho que fazer o MEU trabalho e o DOS colegas E Chefes quando ninguém se interessa por nada?
Nem os eleitores que são os que mais se queixam e quando chega a hora da verdade se acobardam?

Posso parecer zangado e se calhar estou. O certo é que eu sou funcionário público e ESTOU A FAZER TUDO para mudar o que posso e a tentar descobrir maneiras de levar a minha avante para melhorar as coisas (legalmente). Mas quando me cansar nada me vai pesar na consciência. E sei que eu não sou o único. Longe disso.

Portanto se alguém me perguntar porque é que um funcionário público não apanha SIDA está sujeito a levar um murro no focinho.

Perdoem-me a minha linguagem áspera mas as coisas são assim mesmo. Feias e desagradáveis na maior parte das vezes.

Agora bater na função pública é fino...
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 

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Luso

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« Responder #2 em: Maio 28, 2004, 10:07:12 pm »
Já agora acerca da lei do ruído...

"Decreto-Lei n.º 292/2000, de 14 de Novembro

O regime actualmente em vigor, ainda que pioneiro e de inegável importância na regulação da poluição sonora, mostra-se hoje claramente insuficiente para a salvaguarda da saúde e do bem-estar das pessoas, sendo certo que a poluição sonora constitui um dos principais factores de degradação da qualidade de vida das populações. A prová-lo está a conflitualidade social gerada por situações ligadas ao ruído, muitas delas não cobertas pelo âmbito de aplicação do diploma até agora em vigor, o qual apresenta visíveis deficiências ao nível do controlo preventivo e repressivo do ruído, e mesmo da efectividade geral do regime.

Por outro lado, a evolução ocorrida em face do tratamento da poluição sonora, nomeadamente as tendências apontadas no âmbito da proposta de directiva do Conselho da União Europeia sobre o ruído, bem como a complexidade crescente das questões que no decurso destes anos foram surgindo a propósito desta matéria, também exigiam a revisão deste regime, tal como, de resto, a impunham certas reformas legislativas entretanto ocorridas, designadamente o Código do Procedimento Administrativo.

O presente diploma pretende, assim, enquadrar e dar resposta ao problema da poluição sonora, em desenvolvimento do regime jurídico estabelecido na Lei n.º 11/87, de 7 de Abril (Lei de Bases do Ambiente). Como orientações fundamentais, são de salientar o alargamento do âmbito de aplicação, a articulação com a restante disciplina jurídica, nomeadamente urbanística, o reforço do princípio da actuação preventiva, a adopção de figuras de planeamento específicas, a regulação de actividades temporárias geradoras de ruído e do ruído de vizinhança, o aperfeiçoamento do regime sancionatório e a previsão de medidas cautelares."

Ou seja, temos aqui uma necessidade de transpor para a lei Nacional uma directiva comunitária e dar cumprimento ao estabelecido na Lei de Bases do Ambiente.
O problema é que ainda não há técnicos em número suficiente para adequar os Planos Municipais de Ordenamento de Território a esta legislação.
É como obrigar os portugueses a escrever numa lingua que nunca aprenderam.

Leis. Leis. Leis. Mostrar serviço. Ticket Punching de carreiristas e tachistas profissionais. Louros para os intelectualóides se exibirem entre os seus pares.
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 

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Ricardo Nunes

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« Responder #3 em: Maio 28, 2004, 10:12:24 pm »
Luso, numa coisa não estou de acordo consigo.

Citar
E posso dizer-lhe o seguinte: o problema está nas chefias e no facto da sua maioria nunca ter trabalhado "a sério" e viver apenas de paleio e aparência (se falarmos de professores universitários a coisa é que é!).


A "culpa" não é simplesmente das chefias. Esta é uma situação muito complexa.
Portugal sempre criou bons gestores tal como criou maus. É uma situação normal. Contudo existe uma generalização da "incompetência". Se bem que um bom gestor ajuda e muito o desenvolvimento de uma empresa ou instituição é óbvio que, se as pessoas que nela trabalham não o fazem bem, a empresa não vai a lado nenhum.
No fundo é um problema educacional. As pessoas no geral ( sejam gestores ou simples empregados ) são incapazes de uma visão global e a longo prazo da situação.
A solução, na minha modesta opinião, tem de passar obrigatoriamente pela educação geral da população de modo a que esta fique consciente dos reais problemas e carências do país e não se limite, na sua eterna ignorância e desprezo, a comentar o tó zé dos bifes com tremoços.

Penso que é incorrecto deitar todas as culpas para as chefias. Este é um problema de todos, responsabilidade de todos.
Ricardo Nunes
www.forum9gs.net
 

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fgomes

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« Responder #4 em: Maio 28, 2004, 10:14:23 pm »
Um grande aplauso Luso, estou completamente de acordo consigo! Eu também sou um famigerado funcionário público !

É como diz, um dos grandes problemas são as chefias, constituidas por "boys" partidários, que nunca fizeram nada na vida, a não ser militância partidária, começada nas "jotas" e que "caem de páraquedas" em chefias superiores, que apenas são um passo nas respectivas carreiras políticas. Depois não têm coragem para tratar os funcionários conforme os seus méritos. As classificações de serviço são iguais, trabalhe-se ou não !
E os utentes quando se queixam aos meios de comunicação são uns valentões, mas quando se pede colaboração para por termo a situações menos claras encolhem-se todos.
Está na moda criticar a administação pública, e muitas críticas são justas, mas se não se definir exactamente quais as suas funções, os meios e sobretudo ter coragem para tomar decisões difíceis, não há reforma que vingue.
 

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Luso

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« Responder #5 em: Maio 28, 2004, 10:36:43 pm »
"A solução, na minha modesta opinião, tem de passar obrigatoriamente pela educação geral da população de modo a que esta fique consciente dos reais problemas e carências do país e não se limite, na sua eterna ignorância e desprezo, a comentar o tó zé dos bifes com tremoços. "

Ricardo, tive um colega brilhante com uma boa classificação num mestrado que fez (mestrado útil - infraestruturas urbanas) que começou a abandalhar porque um bronco de um colega subiu na hierarquia porque fazia os favores ao senhor eleito.
Ou então conto-lhe casos de um funcionário que estava ou está a ser investigado por irregularidades (que toda a gente conhece mas que toda a gente com provas se acagaça de avançar) e que é promovido e recebe um louvor por trabalhos com demonstrável falta de qualidade. Mas como este faz os jeitos ao eleito...
E depois vem a Inspecção-Geral da Administração do Território ou outros para branquear irregularidades gritantes e depois não se passa nada.

Educação?
O que é preciso é gente para meter na ordem outra tanta gente.

"Fracos reis fazem fraca a forte gente."
Esta a regra de ouro para a chefia!

O Ricardo diz-me que há incompetentes?
Pois há. Então que os metam no sítio. Outras atribuições. Quebrem-lhes o orgulho! Processos disciplinares em cima!
Mas o problema é que eles fazem isso mas é quem faz frente ao Senhor Eleito corrupto ou incompetente, ou imaturo, ou irresponsável, ou inconstante, ou...
Que são a maior parte deles.  

Já não falo em instituições como as Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (que antros!) e os Ministérios  :shock:
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 

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emarques

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« Responder #6 em: Maio 29, 2004, 11:41:42 pm »
Eu gosto muito das leis. Para os governantes a lei anterior é péssima e precisa de sérias alterações, enquanto que os afectados se opõem com unhas e dentes às alterações, e acusam o novo texto de todas os defeitos. Dali a um par de anos, outros governantes decidem alterar novamente a lei péssima, e os mesmos afectados defendem a lei com unhas e dentes, e acusam o novo texto de todos os defeitos. :shock: Isto não é de forma alguma um problema do serviço, que provavelmente não é grandemente afectado pelo sítio onde uma funcionária decide comer uma maçã, mas mostra que há muitos funcionários que precisavam de uma boa dose de educação sobre atendimento ao público.

Também há histórias bonitas das chefias, descansem. Falaram-me de um chefe de repartição de finanças que mandou um "amigalhaço" à acção de formação sobre um novo regime. Quando chegou a altura de pôr o novo regime em prática, o chefe decidiu poupar o amigo a trabalho excessivo, por isso pôs uma pessoa que nunca tinha visto os novos impressos a atender os utentes que viessem tratar do assunto. Escusado será dizer que o primeiro utente atendido não terá ficado muito satisfeito com o nível de informação do funcionário: "O senhor olhou para o impresso desde que o comprou? Então já o conhece melhor que eu. Vamos lá ver se percebemos isto juntos..."
Ai que eco que há aqui!
Que eco é?
É o eco que há cá.
Há cá eco, é?!
Há cá eco, há.
 

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dremanu

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« Responder #7 em: Junho 04, 2004, 12:44:45 am »
Estou de acordo com a opinião que se deve culpar as chefias. Em instituições governamentais, difícilmente as mudanças estruturais se podem dar sem haver um ímpeto que venha de cima.

A ideia que eu tenho da administração pública em Portugal, é que lhe falta método, e coerência operacional. Administrações públicas têm o seu grau de complexidade, devido ao numero de trabalhadores, e as áreas de responsabilidade onde actuam, mas não se pode usar estas realidades como pretextos para deixar que os processos utilizados, se desenvolvam orgânicamente.

É essa a impressão que eu tenho, os trabalhos processam-se através do "desenrasco" indívidual do trabalhador, e não tendo em conta um processo pré-defenido, estruturado, em que se possa fazer o que tem que ser feito da forma mais eficaz e eficiente possível.

As minhas dúvidas quanto à administração pública sempre foram:

Será que não se usam manuais de trabalho, onde se descreve métodos padrões para lidar com situações de routina no dia-a-dia dos trabalhadores? E será que se treina os trabalhadores para conhecerem por dentro e por fora, o manual de trabalho, ou código operacional da área de responsabilidade, ou regras de atendimento e processamento, o seja o que for que chamam a um método codificado de trabalho.

Depois de ler as respostas do Luso e do Fgomes, só posso chegar à conclusão que devo estar muito próximo da realidade.
"Esta é a ditosa pátria minha amada."
 

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Luso

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« Responder #8 em: Junho 04, 2004, 09:10:50 am »
Anda lá perto, dremanu. Anda sim senhor.

Mas a esse propósito já existem o Código do Processo Administrativo que deveria ajudar. Mas há quem se esteja a borrifar sobretudo as chefias que se estão nas tintas para os aplicar e forçar a utilizar. Quanto a procedimentos: a esmagadora maioria são elaborados por quem deles mais sente a falta - os funcionários de base e não os dirigentes, porque esses nunca souberam como as coisas funcionam, nem querem saber.
Falam dos salários chorudos dos jogadores de futebol. Pois bem, as instituições públicas temos um sem número de "jogadores" (termo bem aplcado!) que ganham DEMAIS para aquilo que produzem. A meu ver, para ganhar €2500 por mês (pelo menos) é preciso trabalhar MUITO e essa gente pouco ou nada faz.
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Luso

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« Responder #9 em: Junho 04, 2004, 12:07:49 pm »
De

http://grandelojadoqueijolimiano.blogsp ... l#comments

"o futebol primeiro


António Costa Mortágua, conselheiro da 5.ª secção (criminal) do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) recusou, no passado dia 21 de Maio, um pedido de 'habeas corpus' com a justificação de que entre os dias 24 e 27 do mesmo mês se encontraria "fora do País".


Nós por cá já só esperamos que Jorge Sampaio o comende no 10 de Junho, por ter demonstrado à saciedade tão grande lúcidez na definição de prioridades...



Publicado por Manuel às 1:47 AM


3 Comentários...O mundo da Justiça em Portugal é um espectáculo.

Passamos a vida a ouvir o bastonário da ordem dos advogados a pedir mais dinheiro para a Justiça, qual não é o meu espanto quando descubro na revista "Mais valia", de 28 de Maio último, que Portugal já gasta, na Justiça, uma percentagem superior do PIB que a média europeia.

Por Carlos, a 6:23 AM

Já agora, veneráveis membros desta grande "Grande Loja" porque é que na Justiça ninguém trabalha com números, é só conversa.
A revista que referi no comentário anterior apresentava números interessantes, por exemplo duração média de um processo de cobrança de um cheque sem provisão:
EUA - 50 dias
GB - 100 dias
Irlanda - 120 dias
Espanha - 140 dias
Alemanha - 150 dias
França - 180 dias
Grécia - 310 dias
Portugal - 420 dias

Quantas etapas existem no processo em Portugal? Quanto tempo se gasta em cada etapa?
E os melhores? quantas etapas têm? Quanto demora cada uma? Onde estão as diferenças? Porquê?

Se se trabalhasse com factos e não com conversa!!!

Por Carlos, a 6:41 AM "

Giro, não?
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dremanu

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« Responder #10 em: Junho 04, 2004, 04:11:00 pm »
EUA = 50 dias
Portugal = 420 dias

370 dias de diferença!!! Rídiculo! O impacto que esta lentidão não tem na ecónomia Portuguêsa.

Todos os analistas internacionais sempre identificam como umas das príncipais causas que impedem o crescimento económico em Portugal, sendo a falta de eficácia e eficiência no sistema burocrático Português, e aí está a prova.  

O dinheiro não resolve tudo, e tem que se fazer uma boa aplicação dos recursos, e acima de tudo têm que se produzir resultados concretos, e adaptados a época em que nos encontramos.

Vivemos na éra das comunicações instantâneas, globais, onde tudo funciona praticamente 24 horas por dia. O mundo não pàra para ninguém, ou para nenhuma nação, e a competição internacional é cada vez mais forte, e vai ser mais ainda no futuro. Precisamos de um governo que esteja disposto a adaptar-se a esta nova realidade, e a procurar melhorar os procedimentos internos para agir como parceiro dos Portuguêses, e não como uma barreira inultrapassável, porque é isso que são hoje em dia.

Depois admiram-se que as pessoas não querem pagar os impostos, e que haja corrupção no sistema, como é possível que não exista? Tempo é dinheiro, e se o governo só representa um perca de tempo, com certeza as pessoas, e as empresas,  vão procurar resolver os seus problemas recorrendo às práticas que lhes permitem de o fazer mais rápidamente, sejam elas legais ou não.

Quanto aos salários Luso, eu não sou contra as pessoas terem uma boa remuneração, desde que produzam e resolvam os meus problemas com rápidez, e sem me darem dores de cabeça. O que eu não tolero é perca de tempo, e as complexidades desnecessárias. É claro, toda a gente quer mais dinheiro e trabalhar menos, isso faz parte da natureza humana, mas para contrabalançar essa tendência, existe o concepto de se colar o pagamento de melhores salários, benefícios, etc, a metas de produção que têm que ser cumpridas, ou então não se recebe pagamento.

Isto são situações complexas de se resolverem, mas até o dia, se vier, no futuro, que teremos um governo que esteja disposto a mudar a situação, doa a quem doer, vai continuar tudo a ser da forma que é. Lamentavelmente para todos nós.
"Esta é a ditosa pátria minha amada."
 

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Luso

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« Responder #11 em: Junho 04, 2004, 05:37:12 pm »
"Quanto aos salários Luso, eu não sou contra as pessoas terem uma boa remuneração, desde que produzam e resolvam os meus problemas com rápidez, e sem me darem dores de cabeça. "

Nem eu. O problema é que essa gente recebe e nada faz. E eu, ao mesmo tempo que escrevo isto, penso no conteúdo de um despacho que acabo de ler que constitui mais um acto de gestão danosa de um desses senhores. Neste caso, uma senhora.
E estou pior que estragado, porque se vocês soubessem!
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fgomes

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« Responder #12 em: Junho 04, 2004, 09:58:05 pm »
Queria chamar a atenção para um fenómeno que existe na função pública que são os funcionários, geralmente no topo das respectivas carreiras e que nada fazem, nem sequer põe os pés no local de trabalho, estando geralmente a tratar dos seus negócios privados. Esta situação é fatal para a moral dos outros funcionários e enquanto não se puser fim a estas situações vergonhosas ninguém vai acreditar na reforma da administração pública.

Quanto a chefias, geralmente não percebem nada, do ponto de vista técnico, daquilo que os seus serviços fazem. Por exemplo há muitos chefes para quem a informática é algo de esotérico e um computador é uma máquina de escrever com uma televisão por cima  :shock:  :oops:
 

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Luso

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« Responder #13 em: Junho 04, 2004, 10:49:57 pm »
:mrgreen:  

Valha-nos o bom humor... e o cinismo.
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 

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Luso

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« Responder #14 em: Junho 04, 2004, 10:52:16 pm »
O engraçado é um arquitecto ensinar engenharia (básica!) a uma engenheira mais velha e com... mestrado!
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...