Acordo ibérico promete trazer lince de volta ao Algarve
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Linces
Centro de reprodução em cativeiro estará concluído em 2008 e o Governo de Espanha já deu luz verde para a entrega de exemplares reprodutores.
Os ministros do Ambiente português e espanhola, Francisco Nunes Correia e Cristina Narbona, respectivamente, assinaram na passada sexta-feira, em Lisboa, um protocolo de cooperação que permite a instalação do Centro de Reprodução de Lince Ibérico na Herdade das Santinhas, em Silves.
O plano de cooperação prevê a cedência de linces da Andaluzia para que possam servir de base à reprodução do lince-ibérico em cativeiro no centro, cuja construção deverá terminar no final de 2008, depois de um investimento de 3,6 milhões de euros.
Embora o concurso para a construção do centro de reprodução já tenha sido lançado pela empresa Águas do Algarve, o projecto terá ainda que ser aprovado pela Comissão Mista para a Conservação do Lince ibérico (CCLI), que será criada para garantir a execução do acordo.
A cedência de exemplares de lince-ibérico, em boas condições sanitárias e viáveis para a reprodução e em número adequado ao funcionamento desse centro de reprodução em cativeiro, também terá ainda que ser alvo de um protocolo de cedência por parte de Espanha.
O Governo Português compromete-se, entretanto, a recuperar cinco habitats onde o lince possa vir a ser reintroduzido, quando a população cativa estabilizar nos 80 animais.
Uma comunidade da espécie precisa de uma área superior a 10 mil hectares e de alimento abundante, constituído essencialmente por coelhos, lebres ou perdizes. Condições de que a Serra da Malcata já dispõe e que o Governo se compromete a criar em Moura-Barrancos, Monchique, Caldeirão e no Vale do Guadiana.
A construção do centro de reprodução em cativeiro surge como uma medida de compensação e sobrecompensação do impacto ambiental da barragem de Odelouca.
A obra esteve parada por causa da suspensão do financiamento comunitário que resultou de uma queixa apresentada à Comissão Europeia, que só desbloqueou o processo, mediante as medidas apresentadas.
O acordo de cooperação entre os dois países resulta do Programa de Reprodução em Cativeiro do Lince Ibérico, que já se encontra em aplicação em Espanha, na Andaluzia, há vários anos.
O centro criado no Parque Nacional de Doñana encontra-se ainda a constituir a base de reprodutores, não tendo colocado qualquer espécime em ambiente natural.
De acordo com o Ministério do Ambiente de Portugal, «a espécie vive uma situação gravíssima no nosso país», designada mesmo por «pré-extinção».
Nos últimos anos, usando algumas das metodologias mais recomendáveis para detectar a espécie não foi possível detectar nenhuma população reprodutora, como as duas únicas que actualmente existem na Andaluzia.
Das 5 áreas de ocorrência da espécie nas décadas de 70 a 90 – «Serras Centrais Ocidentais (Malcata-Nisa-S. Mamede)», «Vale do Guadiana», «Algarve-Odemira» e «Vale do Sado» –, «a espécie poderá ocorrer ainda no «Vale do Guadiana», refere o Governo Português.
Em 2003, foi descoberto um excremento no Vale do Guadiana, excremento analisado em laboratório e no qual uma análise pericial detectou DNA de lince-ibérico, «um indício inequívoco da sua presença que alguns quiseram transformar num motivo de chacota», diz ainda nota do Ministério.
Em Espanha, a população do lince-ibérico está reduzida a duas comunidades reprodutoras, que totalizam cerca de 150 animais, o que levou à criação de um plano nacional de protecção e à abertura do Centro Experimental de Reprodução em Cativeiro de Acebuche.
Ao fim de três temporadas, o programa de reprodução já assistiu ao nascimento de 11 exemplares e conta actualmente com 37 animais, repartidos pelos centros de El Acebuche, Olivilla e no Zoo de Jerez, que foram capturados da natureza em zonas de baixa probabilidade de sobrevivência ou simplesmente capturados feridos.
O objectivo do programa espanhol, em grande parte financiado pela Junta da Andaluzia, é chegar a 2010 com um total de 60 reprodutores em cativeiro, para poder assegurar a diversidade genética do quase extinto lince-ibérico.
Só depois as autoridades andaluzas esperam poder dar início à repovoação da espécie, em locais de onde simplesmente desapareceu.
Portugal, segundo os responsáveis do programa de El Acebuche, é mais um dos locais a querer exemplares, pois estão em estudo zonas de potencial reintrodução, como a Andaluzia, Castilha-La Mancha e Extremadura.

Tiro o meu chapéu a esta medida, só peca por não vir mais cedo, falta fazer o mesmo por Portugal fora em relação a outras espécies que muitos de nós nem sequer imaginam que as tivemos ou temos dada a sua raridade pelas nossas matas