Espero sinceramente que este tópico não se torne em mais um onde os egos e nacionalismos bacocos se estejam constantemente a degladiar. Tiraria todo o interesse e relevância numa questão que para nós, portugueses, é demasiado importante.
É por causa dessas idiossincrasias, amigo Túlio, que não lhe respondi no tópico dedicado ao Saab Gripen. Uma coisa é ter alguém como você, conhecedor da matéria em questão, a participar construtivamente na discussão, outra é ter um troll que só vem avacalhar/enxovalhar tudo aquilo onde se mete. E como o próprio Túlio foi capaz de fazer essa distinção e se aperceber dessas mesmas idiossincrasias, seja muito bem-vindo a este espaço que agora também é seu. 
Não é por nenhum orgulho bacoco que estamos aqui a apontar falhas ao KC, mas porque para uma Força Aérea com outras obrigações e compromissos que a FAB não possui, e menor em escala e orçamento, seria aconselhável a aquisição de uma aeronave já com provas dadas e que as virtudes e defeitos fossem sobejamente conhecidos como é o caso do C-130J. Por muitos bons resultados que o KC-390 esteja a obter nos testes, a verdade é que essencialmente o aparelho é uma incógnita apesar das suas reconhecidas capacidades. E sermos o primeiro, e quem sabe único, membro da NATO a vir a operá-lo quando o C-130J ainda hoje está a ser encomendado por vários países da Aliança Atlântica (ex: França, Alemanha), levanta muitas interrogações.
Portugal, e a Força Aérea Portuguesa, não se poderão dar muito ao luxo de se "encostar" a outra frota de aviões de transporte caso haja um problema com os KC e estes não possam, ou sejam adequados, para cumprir determinado tipo de missão. Temos os C-295M, é certo, mas estão esticados quase ao limite. E, em conclusão, no aspecto meramente técnico, são esses os nossos "receios", porque quanto à opção pelo aparelho da Embraer não parece haver qualquer dúvida de que se tratou de uma escolha iminentemente política.
Amigo Charlie, não há intenção de gerar flames, me conheces - ainda que virtualmente - faz anos e anos, sabes que não é meu jogo. Assim, e para ser melhor compreendido, vou dividir a resposta em dois pontos:
1 - DO KC-390A intenção por trás do projeto é óbvia: num primeiro momento, ser tão superior e ao mesmo tempo competitivo em custos que quem tiver C-130 velho e se deparar com a necessidade de (A) fazer um update/upgrade que o coloque à altura dos desafios atuais e futuros; (B) ter a atual frota tão desgastada que primeiro terá de comprar C-130 usado para depois ainda ter que investir em update/upgrade e finalmente (C) competir diretamente com as versões mais modernas (Juliet) do 130 no mercado mundial. Há ainda um número crescente de menções a uma possível versão
civil, destinada a empresas de carga aérea (como a FedEx, p ex), que atualmente empregam versões modificadas de aviões de passageiros, precisando de elevadores especiais para introduzir a carga através de portas laterais. Nada disso seria preciso com o 390, entrando a carga (inclusive de maior volume e peso) diretamente pala rampa traseira e posicionada/fixada pelo(s) Mestre(s) de Carga. O futuro dirá se esta é ou não uma solução apetecível ao mercado.
De qualquer modo, no mundo militar, e a despeito de qualquer propaganda que fabricantes, imprensa paga, lobistas e politiqueiros façam, tanto o 390 quanto o 130 são Cargos/Tankers
táticos, não
estratégicos. É nesta arena que competem, na outra quem quiser se meter vai ter que enfrentar nada menos que o C-17, o qual pode embarcar uma Cia Fzto completa e totalmente equipada (ou um MBT como o Abrams) para desembarcá-la(o) em qualquer parte do mundo, sendo reabastecida em voo sempre que necessário. E é precisamente aí que aparece a minha grande - e até agora
única - crítica ao 390: aquele bendito
probe lá na frente! POWS, é o único avião da FAB que necessita de uma quantidade tão elevada de combustível durante o IFR que, ao menos a meu ver, mereceria um receptáculo para "Flying Boom" (cuja única vantagem - mas não é pouca! - sobre o sistema "Probe and Drogue" é a capacidade de transferir combustível a um
rate dez ou mais vezes superior ao outro sistema, sendo extremamente vantajosa para quem opera aeronaves grandes mas praticamente inútil para operadores de caças e outras aeronaves pequenas mas com capacidade de serem reabastecidas em voo, já que seus tanques não toleram as altíssimas pressões de entrada de combustível). Reabastecer um 390 no ar deve demorar pra caramba.
2 - DA FAPAqui é campo minado, logo, vou evitar juízos de valor e mesmo sugestões, apenas analisar por alto. Se for para Transporte Tático (tropas, veículos leves e pallets de suprimentos), me parece apenas questão de avaliar o custo-benefício de adquirir mais um ou dois C-130H e ir mandando para a OGMA fazer as necessárias reformas e eventuais alongamentos da célula, substituição de aviônicos, introdução de medidas defensivas, etc. Se compensar mais do que o 390, então não entendo por que o querem adquirir. Já se é para combater fogos (como aquela tragédia horrenda que aconteceu há pouco tempo), nem um nem outro, o CL-415 é - ao menos para mim -simplesmente
imbatível nisso. Pensemos, um avião capaz de descer sobre uma lâmina d'água e, em uns doze segundos, enfiar uns 6 mil litros de água para dentro, seguindo imediatamente para despejar sua carga (à qual pode ser internamente acrescido algum químico retardante de fogo) sobre a área afetada e seguir fazendo isso enquanto tiver combustível nos tanques, não tem nada no mercado que rivalize.
ADENDO - Todos os atuais bimotores exportados pela Embraer têm certificação internacional ETOPS. O KC-390 está em desenvolvimento para ser oferecido pelo mundo todo. Sua turbina já é usada em aeronaves com esta certificação, como as da família A-320. Difícil de pensar que será diferente...